Título: Banco Central defende banda informal
Autor: Campos , Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2012, Finanças, p. C2

Se alguém ainda tinha alguma dúvida sobre a existência de um "piso informal" para a taxa de câmbio, agora não tem mais.

Depois de 35 pregões sem atuar, o Banco Central (BC) veio a mercado na terça-feira para adquirir moeda via "swap cambial reverso" (que equivale à compra de dólar futuro).

O regime oficial de câmbio é o flutuante, mas na prática o que se tem desde o fim de fevereiro é uma espécie de regime de banda administrada. Primeiro, o BC atuou na compra, quando o dólar ameaçava perder o patamar de R$ 1,70. Isso durou até o fim de abril. Pouco depois, em 18 de maio, virou a mão e começou a atuar na venda, já que o dólar ameaçava passar de R$ 2,10.

Além das atuações de fato, BC e governo também manobraram a taxa de câmbio com discursos.

O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, não perdeu uma oportunidade de fala pública para ressaltar a ideia de que o real desvalorizado veio para ficar, pois dá melhor competitividade à indústria.

A atuação verbal mais marcante do BC foi feita pelo seu diretor de política monetária, Aldo Mendes, que no dia 3 de julho disse que o BC poderia voltar a comprar dólares e, fazendo sintonia com Mantega, também afirmou que taxa de câmbio abaixo de R$ 2,0 não seria interessante para a indústria. A fala aconteceu um dia depois de o dólar perder os R$ 2,0, algo que não acontecia desde o fim de maio.

O mercado entendeu o recado e desde as declarações de Mendes não ameaçou os R$ 2,0, não importando o comportamento de outras moedas emergentes, bolsas de valores, crise na Europa ou qualquer outro motivo.

O que se seguiu foi um período sem precedentes de apatia cambial. A volatilidade do mercado caiu para cerca de 5%, contra uma média histórica de 17%. Os volume negociados caíram cerca de 18% no interbancário.

Com a retomada das compras, tudo indica que esse marasmo deve continuar. Apesar do incentivo à venda, o mercado não deve querer testar a vontade do BC e do governo. Além da possibilidade de atuação, cabe lembrar que a venda de dólar no mercado futuro parte "devendo" 1% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Com a melhora de tom nos mercados externos, também não cabe sair comprando moeda.

Por ora, tudo indica que a "banda cambial" com piso em R$ 2,0 e teto em R$ 2,10 seguirá valendo.

Para um gestor, no entanto, ainda não dá para afirmar isso categoricamente. Não é possível saber se o BC está apenas "zerando" os swaps tradicionais (que equivalem à venda de dólar futuro) que vencem em 3 de setembro ou se ele vai, mesmo, segurar os R$ 2,0 a qualquer preço.

"Tipicamente, o BC marca os pontos que vai defender atuando no mercado à vista. E isso ainda não aconteceu", diz.

O gestor avalia que o BC poderia deixar o dólar cair um pouco abaixo de R$ 2,0 antes de retomar as compras. Assim, a sinalização dada seria outra, pois se ele começar a defender e depois "largar a mão", o mercado vem para cima dele na venda.

Mas entre essa estratégia e a realidade a distância é grande. O gestor acredita que a atuação no câmbio é guiada mais por considerações políticas do que práticas.

"O governo parece querer mesmo um câmbio parado. A taxa não sobe para não prejudicar a inflação e o balanço da Petrobras e não cai para não prejudicar a indústria", conclui.

Para o estrategista-chefe do WestLB, Luciano Rostagno, o modesto volume da oferta de swaps reversos sugere que o mercado evita assumir uma posição clara no câmbio.

O BC ofertou 50 mil contratos de swap, ou US$ 2,5 bilhões, mas colocou apenas 7 mil contratos, que equivalem a US$ 350 milhões.

"O movimento do pregão deu uma boa pista disso. O mercado vendeu pouco dólar para o BC, porque ainda existe um receio de alta, mas também tem testado a cotação perto dos R$ 2,0 porque as indicações são de que a situação internacional, principalmente na Europa, está menos preocupante", afirma Rostagno.

Esse "jogo de forças", segundo o profissional, acaba deixando o dólar "travado".

O que pode tirar a cotação do intervalo entre R$ 2,00 e R$ 2,10 é o anúncio, até o fim do ano, de uma terceira rodada de estímulo pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Por conta disso, o estrategista prevê que o dólar feche o ano a R$ 1,90. Para 2013, a estimativa é que a moeda caia ainda mais, para R$ 1,80. "Mas, no próximo ano, o que vai determinar isso é uma piora da inflação", diz.

Os economistas da Nomura Securities também acreditam que a inflação deve mudar a postura do governo com o câmbio.

Em 2013, o governo pode permitir uma apreciação do real visando evitar puxadas de alta na Selic. Ontem, o dólar chegou a bater em R$ 2,024, mas perdeu força para fechar a R$ 2,018, alta de 0,10%.