Título: Apesar de ampliada, oferta de mamona para biodiesel e química fina será escassa
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Fonte: Valor Econômico, 06/10/2006, Agronegócios, p. B12

A oferta de mamona na safra 2006/07 ficará aquém da demanda das usinas de biodiesel e indústrias químicas, mesmo com a expansão da área plantada. Levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê ampliação da área plantada entre 27,5% e 32,1% em relação ao ciclo anterior, passando de 155 mil hectares para algo entre 197,7 mil e 204,7 mil hectares.

A produção, calculada com base na produtividade média dos Estados, deverá ficar entre 138,1 mil e 142,7 mil toneladas, o que representa aumento de até 37,3% sobre o total produzido em 2005/06.

A estimativa mais otimista, se confirmada, será pouco superior à demanda das usinas de biodiesel, estimada em torno de 127 mil toneladas de óleo. A Brasil Ecodiesel planeja concluir neste ano a instalação de seis usinas no Nordeste e Tocantins, que juntas devem produzir 120 milhões de litros de biodiesel/ano. A empresa planeja adotar a mamona como principal matéria-prima, o que representaria demanda próxima a 120 mil toneladas de óleo.

A Petrobras também constrói três usinas (no Ceará, Bahia e Minas Gerais) que juntas processarão 50 mil toneladas de óleo por ano. A empresa também anunciou a mamona como matéria-prima de referência.

Segundo cálculo da Embrapa, um hectare de mamona gera entre 600 e 650 quilos de óleo bruto, o que significa que a produção na próxima safra ficará entre 118,6 mil e 133,1 mil toneladas de óleo. O presidente da Brasil Ecodiesel, Nelson Silveira, disse que a produção de mamona no Nordeste será suficiente para atender à sua demanda. Mas a empresa não descarta a possibilidade de adotar outras oleaginosas para garantir a produção de biodiesel.

Para o Nordeste, a previsão da Conab é de aumento de até 33,2% de área, para 198,8 mil hectares. A produção pode chegar a 134,1 mil toneladas, 40,3% mais que em 2005/06. O principal produtor é a Bahia, que terá oferta até 43% superior nesta safra, de 107,1 mil toneladas. O Piauí, onde a Brasil Ecodiesel conta com usina, elevará a produção em até 94,3%, para 13,6 mil toneladas.

Martha Gama de Macedo, analista da Conab, observa que a expansão de área é estimulada pela demanda por biodiesel e pelas indústrias que exportam o óleo hidrogenado. Na safra passada, segundo ela, a maior parte da produção baiana foi comprada pela Bom Brasil, que exporta o óleo para indústrias químicas. No exterior, segundo ela, a tonelada do óleo vale US$ 900 por tonelada. "Não sei se haverá disponibilidade suficiente para atender à demanda", afirma. A disputa pode ajudar a melhorar os preços da oleaginosa. A saca de 60 quilos é vendida hoje a R$ 38, contra R$ 25 o ano passado. Em 2004, chegou a custar R$ 60. (CB)