Título: Alta temporada adia pacote das aéreas
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2004, Empresas, p. B3

A chegada da alta temporada para o setor aéreo, que se inicia em dezembro, trouxe alívio ao governo e diminuiu a urgência para a definição de um pacote de socorro às companhias. O aumento no fluxo de passageiros que se verifica nesta época do ano dará fôlego à Varig para livrar-se de novos problemas financeiros pelos próximos 40 dias, afirma um negociador que acompanha de perto as discussões no Palácio do Planalto. A Varig, principal preocupação do governo, divulgou o balanço do terceiro trimestre na sexta-feira. A empresa registrou lucro líquido de R$ 261 milhões. O resultado reflete o aquecimento da economia e a expansão de 12%, nos dez primeiros meses do ano, no número de passageiros em vôos domésticos. Mas é preciso lembrar que o lucro foi inflado por fatores não recorrentes, como baixa em provisões e lançamento de ganhos de processos antes do efetivo recebimento. O governo prevê um "excelente" fim de ano para as aéreas, em termos de demanda, e trabalha com absoluta cautela no pacote de ajuda oficial. "Uma solução não-inteligente pode atrapalhar o bom momento atual e inviabilizar o futuro", diz o negociador. Esse fôlego de fim de ano veio no momento certo para o vice-presidente e novo ministro da Defesa, José Alencar, um homem pouco afeito a subscrever medidas prontas e que tem exigido de seus assessores uma rediscussão do pacote de socorro às aéreas. Sem divulgar antecipadamente sua agenda, Alencar recebeu no ministério interlocutores como o consultor Luciano Coutinho e o presidente da Varig, Carlos Luiz Martins. Hoje tinha a intenção de reunir-se pela primeira vez com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, outro que está profundamente envolvido nas negociações. Prestes a completar um mês no cargo, Alencar ainda não conseguiu encontrar-se com Dirceu para tratar do assunto. Os dois bem que tentaram, mas uma série de imprevistos cancelou as reuniões previamente agendadas, sempre para as quartas-feiras das últimas três semanas. Na primeira, Dirceu foi escalado para ir ao velório de Yasser Arafat no Egito. Na segunda, Alencar foi à conferência de ministros da Defesa das Américas. Na semana passada, Dirceu deu preferência ao encontro com parlamentares para recompor a base aliada do governo. Os seguidos cancelamentos mostram que o setor aéreo é prioridade, mas nem tanto. Ou seja, o governo continua decidido a socorrer a Varig, mas acha que a situação já foi mais urgente. Parlamentares que cuidam do projeto de criação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) não tem recebido grande pressão para agilizar sua tramitação. Enquanto os estudos continuam, há idéias que foram progressivamente descartadas. Uma delas é deixar a Varig, após a ajuda oficial, só com linhas internacionais. Essa hipótese, que há alguns meses esteve em voga, hoje é classificada como "maluquice", um plano que não deu certo nem em países ricos, com governos dispostos a subsidiar suas linhas aéreas. O que não parece ter volta é a indisposição com a Vasp, que continua crescente. Inadimplente com a Infraero e acusada de apropriar-se indevidamente das tarifas de embarque recolhidas dos passageiros, que deveria ser posteriormente repassada à administração dos aeroportos, a companhia tem sido obrigada a pagar diariamente suas taxas aeroportuárias para poder decolar - normalmente, a cobrança é feita a cada 15 dias. Há duas semanas, nem esse tipo de tratamento adiantou. Segundo a Infraero, nos dias 16 e 18 de novembro, Wagner Canhedo deu dois cheques sem fundo para a estatal - nos valores de R$ 60 mil e R$ 84 mil. Os cheques foram devolvidos pelo banco. Se isso acontecer de novo, alerta a Infraero, a cobrança diária será feita em dinheiro e em cada um dos aeroportos de onde a Vasp estiver decolando.