Título: Era da expansão fácil chega ao fim para teles
Autor: Brigatto, Gustavo
Fonte: Valor Econômico, 02/08/2012, Empresas, p. B3

Habituadas a crescer a taxas aceleradas nos últimos anos, as companhias de telefonia terão de se adaptar a uma nova realidade nos próximos anos. Segundo especialistas ouvidos pelo Valor, a era do crescimento fácil no mercado de comunicação móvel, baseado em escala, pode estar chegando fim. Em meio às pressões da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) pela melhoria da qualidade, serviços mais sofisticados e infraestrutura suficiente para atender à demanda serão cruciais para a sobrevivência do setor.

Os balanços do segundo trimestre mostraram que as operadoras não estão tão imunes aos solavancos da economia como se imaginava. Em meio à desaceleração das receitas e ao aumento do peso da dívida sobre o resultado, nenhuma das três companhias abertas do setor - Oi, TIM e Vivo - conseguiram encerrar o trimestre com um lucro maior que no mesmo período do ano passado.

No relatório que acompanha as demonstrações financeiras, a TIM chegou a atribuir o desempenho mais magro em adições líquidas, frente ao ano passado, à desaceleração da economia. No segundo trimestre, a empresa - a mais afetada pela proibição de vendas da Anatel, que passou a valer a partir de 23 de julho - registrou 1,7 milhão de novos usuários de linhas móveis, bem abaixo dos 2,7 milhões de novos clientes conquistados no mesmo período de 2011.

No Brasil, onde o número de celulares já passa de um aparelho por habitante, a perda de fôlego no ritmo de novos assinantes é generalizada. Após crescer a taxas mensais próximas a 2% ao mês em 2011, o crescimento de novas linhas em serviço tem ficado abaixo de 1% desde março deste ano e, em junho, chegou a 0,5% na comparação anual.

"O setor passou praticamente ileso pela crise de 2008, mas, naquela época, havia espaço para crescer em volume. Hoje, não há mais tanto espaço e as empresas precisam recorrer ao valor agregado e à qualidade", avalia Jacqueline Lieson, da Fator Corretora.

A estimativa da empresa de pesquisa de mercado Gartner é que a base de assinantes da telefonia móvel no Brasil passe de um crescimento de 19,4% em 2011 para 12% neste ano - número que deve ser revisado para baixo por conta da suspensão das vendas imposta pela Anatel às operadoras TIM, Oi e Claro.

Para o ano que vem, a expectativa é que o avanço do setor seja ainda menor, da ordem de 8%. Em 2015, o ritmo de expansão pode cair para 5% ao ano. "Podemos ter algumas surpresas em 2014 e 2016 por conta da Copa e da Olimpíada, mas a tendência é de uma mudança na dinâmica do setor", diz Elia San Miguel, analista do Gartner.

Entre abril e junho de 2012, a receita média por usuário não mostrou sinais de evolução. O gasto médio dos assinantes da Oi ficou praticamente estável em relação ao segundo trimestre do ano passado, em R$ 21,40. No caso da TIM, esse valor recuou 15,3%, para R$ 18,30 e, na Telefônica/Vivo, o caiu 7%, para R$ 21,90.

Parte desse recuo pode ser explicado pela redução da taxa que as teles pagam umas às outras pelo uso compartilhado de rede, a VU-M. A Telefônica estima que só esse fator respondeu por três pontos percentuais da queda no período.

Mas a briga acirrada por novas linhas também está por trás da redução. Não à toa, a maior redução do valor médio por cliente veio da TIM, que conquistou o maior número de clientes no trimestre. A companhia tem adotado uma estratégia agressiva, de preços baixos, para aumentar sua base.

No caso da Oi, Jacqueline afirma que a manutenção do valor médio ocorre em um período de reação da companhia, que ficou meses "inerte", envolvida na reestruturação societária, concluída no começo do ano. Segundo ela, esse é o primeiro trimestre que reflete a nova estratégia operacional da companhia, com pacotes integrados de banda larga, TV e telefonia móvel - os chamados "combos" -, que garantiram um "respiro" aos resultados.

As receitas da Oi recuaram 2,4% na comparação anual, para R$ 6,9 bilhões, mas mostraram uma reação frente ao primeiro trimestre, com alta de 1,6%, após meses seguidos de queda. Mas, segundo Jacqueline, as concorrentes devem reagir à investida da companhia, o que pode trazer o preço de volta para baixo ao longo do ano. "É preciso esperar para ver se essa estratégia vai se materializar", diz.

Em meio à forte competição por um mercado cada vez mais enxuto, as companhias já têm se movimentado na direção de reforçar serviços e ofertas. A Telefônica/Vivo vem direcionando seu foco para a oferta de serviços de dados, e reforçando sua atuação no segmento pós-pago, áreas que costumam gerar receitas mensais mais altas por usuário. Em seu processo de reestruturação, a Oi sinalizou que vai mudar sua orientação do mercado pré-pago para o de clientes com contas mensais. A TIM anunciou, no começo da semana, que vai concorrer também na oferta de banda larga fixa residencial.

O espaço para incremento da receita média, no entanto, será limitado. Na estimativa do Gartner, a conta média por assinante na telefonia móvel, que atingiu US$ 19 em 2011, chegará a apenas US$ 20,5 no fim de 2015.