Título: Aécio pode ser o mais votado da história de Minas Gerais
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 29/09/2006, Política, p. A14

O governador Aécio Neves (PSDB) chega às eleições com larga folga à frente do principal adversário, Nilmário Miranda (PT), e chances reais de tornar-se o governante mais votado da história de Minas. Pela pesquisa Datafolha, divulgada ontem, o tucano seria reeleito com 74% dos votos válidos. Além dos possíveis acertos da primeira gestão - como o saneamento financeiro alardeado pelo governo - pesa a favor de Aécio a união de mineiros de diferentes cores partidárias e origens sociais em torno de um projeto: chegar à Presidência da República.

"Nunca vi nada parecido em Minas, a convergência que ele conseguiu em torno de si é algo singular", analisa o cientista político Fábio Wanderley Reis. Embora Aécio evite, pelo menos em público, declarações definitivas sobre sua disposição de disputar o Planalto em 2010, a maior parte da população não tem dúvida de que são essas as pretensões. E parece disposta a colaborar.

O pacto velado de apoio ao projeto presidencial de Aécio parte das elites - incluídas as lideranças empresariais e também os principais veículos de imprensa do Estado -, mas chega também às classes muito menos privilegiadas. "Se Deus quiser ele vai chegar à Presidência", torce a faxineira Nilza Maria Silva, de 35 anos.

Zeladora de um edifício na capital, Nilza acha que Aécio foi o governador que mais fez por Minas, embora não saiba detalhar as grandes obras do seu mandato. E adora a idéia de ver seu conterrâneo, o neto de Tancredo Neves, como chefe maior da Nação.

É o que Fábio Wanderley Reis chama de "síndrome de mineiridade fantasiosa", uma espécie de imaginário coletivo dos mineiros sobre os direitos quase divinos que têm à Presidência. Nomes amados pela população - como o do avô do governador, que faleceu antes de tomar posse, e do ex-presidente Juscelino Kubistchek - fomentam este imaginário, destaca o cientista político.

Reis observa, entretanto, que a possível disputa pela Presidência é só uma das componentes num conjunto de fatores favoráveis à reeleição do tucano. Na lista, estão os resultados da administração e também a trajetória respeitada em Brasília, na Câmara dos Deputados.

Hoje, a maior crítica enfrentada pelo governador tucano é a maquiagem de alguns números para atingir o "déficit zero" no Orçamento do Estado. Quando assumiu, em 2003, o rombo era de R$ 2,3 bilhões. O Tribunal de Contas do Estado apontou falhas na contabilidade de 2003 e 2004, como inclusão de despesas indevidas para cumprir o índice de aplicação da receita na Saúde, conforme determinado pela Constituição.

Na avaliação de Reis, mesmo que tenham ocorrido equívocos na prestação de contas, não há como negar que houve avanços significativos nas finanças de Minas. "A situação anterior era de descalabro, ele deu uma arrumada na casa e ainda conseguiu fazer investimento."

Os possíveis problemas com a prestação de contas não chegaram a arranhar a campanha de Aécio Neves, que reagiu ao ataque da pequena oposição. Anunciou que ampliar os gastos sociais será uma das prioridades do próximo mandato. "Conseguimos reequilibrar as finanças mas não conseguimos realizar todas as necessidades, o recurso tem de ser gasto de modo melhor, para fazermos mais com menos", explica Antônio Augusto Anastasia, cabeça do alardeado choque de gestão e vice do tucano na campanha de reeleição.

Para o ex-ministro Nilmário Miranda sobrou a ingrata missão de enfrentar um adversário elogiado até dentro do próprio partido. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, não fazem segredo das boas relações que mantêm com o governador tucano. Mesmo quando pediu votos para Nilmário em comícios, nenhum dos dois chegou a fazer críticas ao atual governador do Estado.

Otimista, Nilmário diz estar confiante no trabalho da militância para fazer crescer a campanha na reta final e empurrar a disputa para o segundo turno. Ele acredita que, a exemplo do que ocorreu em 2002 - quando também disputou o Palácio da Liberdade contra Aécio -, terá mais votos nas urnas do que apontam as pesquisas.

De acordo com o Datafolha, Nilmário tem 12%, o mesmo percentual que apresentava na pesquisa anterior.