Título: Lucro multibilionário
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 10/11/2010, Economia, p. 14

Na estimativa de analistas, o resultado líquido da Petrobras deve passar de R$ 9 bilhões no terceiro trimestre

O lucro líquido da Petrobras no terceiro trimestre deve superar a casa dos R$ 9 bilhões, ficando quase 12% acima do registrado de abril a junho, projetam especialistas. O desempenho da estatal, a ser anunciado amanhã, será beneficiado pelo consumo interno aquecido e pela forte desvalorização do dólar frente ao real. ¿As vendas dos três principais derivados de petróleo crescem na casa dos dois dígitos e isso irá contribuir para os resultados da Petrobras¿, disse o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. Segundo ele, como a frota de carros flex está cada vez maior, o aumento no preço do etanol faz com que os consumidores optem pela gasolina, que cresce a taxas maiores que 15%.

¿A aceleração da economia tem impulsonado as vendas do diesel, principal combustível usado no transporte de cargas, que avançou 10%¿, destacou. Pires lembrou ainda que a procura por querosene de aviação (QAV) está bastante aquecida a ponto de as companhias aéreas nem sentirem queda no movimento no último trimestre, que é considerado período de baixa temporada no setor. Os dados do setor de combustíveis no último semestre apontam para essa direção. O comércio das distribuidoras cresceu 9,1%, atingindo 56,145 bilhões de litros de janeiro a junho, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP). No mesmo período, as vendas de etanol caíram 15%, enquanto as de gasolina saltaram 20,3% e as de QAV, 14,9%.

Capitalização Na visão de Pires, a Petrobras vai divulgar um resultado semelhante ao do segundo trimestre, quando a receita somou R$ 53,632 bilhões, 6% acima do registrado nos três primeiros meses do ano. O lucro líquido cresceu 7%, para R$ 8,29 bilhões. O Credit Suisse, cuja corretora tem uma das maiores carteiras de ações da estatal e que participou da operação de capitalização no fim de setembro aposta em números mais conservadores sobre a receita, mas bastante otimista sobre o lucro. As estimativas são de retração de 1,9% na receita líquida, para R$ 52,593 bilhões. O lucro líquido deverá saltar 11,8% no mesmo intervalo, para R$ 9,272 bilhões.

De acordo com o relatório do Credit Suisse, a melhora na rentabilidade da companhia está diretamente associada ao câmbio. ¿A valorização do real deve alavancar a rentabilidade da Petrobras devido à queda das dívidas em dólar da empresa, dando suporte ao avanço de 12% no lucro líquido¿, sinalizou o estudo. Várias corretoras estão compilando as previsões. O Itaú BBA, por exemplo, informou que divulgará somente hoje o seu relatório. O BTG Pactual indicou que deve soltar um comentário após a divulgação do balanço. Nele, a petrolífera deve contabilizar a capitalização de setembro, operação que levantou R$ 120 bilhões.

A 4ª MAIOR DO MUNDO » A Petrobras galgou duas posições num ranking elaborado pela agência Platts das 250 maiores empresas de energia do planeta, passando do sexto para o quarto lugar. Entre as 10 primeiras da lista, ela é a única latino-americana. Em nota, a companhia atribuiu o desempenho às descobertas de reservas na camada pré-sal e ao fortalecimento da atuação da empresa na exploração de petróleo no próprio país.

No texto, a diretoria lembra que a ascensão acompanha o bom resultado de concorrentes de países emergentes.

Nas 20 primeiras, 11 são da Rússia, da China ou da Índia. Em 2009, eram apenas seis. A campeã é a ExxonMobil, seguida pela BP e pela Gazprom Oao. Depois da Petrobras, vêm Total, E. On AG, Petrochina, China Petroleum, Chevron Corp e Royal Dutch Shell.

OPERAÇÃO ANTI-AGNELLI

Vera Batista

Um cargo de US$ 20 milhões ao ano tornou-se o foco principal de disputa entre os partidos políticos que integram a base alida candidatura vitoriosa de Dilma Rousseff: a presidência executiva da Vale. Ontem, o governo deu um passo que consolida a posição do atual ocupante, Roger Agnelli, como carta fora do baralho. A Previ alçou o seu presidente, Ricardo Flores, à cabeça do Conselho de Administração da Vale, substituindo Sérgio Rosa. Flores foi levado ao comando da Previ pelo atual presidente do BB, Aldemir Bendine, que é o principal cotado a assumir a liderança da maior mineradora do mundo no governo Dilma. O pote de ouro pode ficar também nas mãos do coordenador da transição, Antonio Palocci, do ministro da Fazenda, Guido Mantega, ou do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho.

No entanto, para tirar Agnelli do cargo, onde se sustenta há quase 10 anos, será preciso alterar o acordo acionário: para demissão ou troca de presidente, é necessária a aprovação de acionistas responsáveis por um total de 67% do capital. Além dos fundos de pensão, o governo, que conta com 60,51% dos votos, terá que arrebanhar o apoio do Bradesco, detentor do capital votante da Valepar, controladora da Vale.

Lula Mas a decisão de ontem coloca o governo mais próximo de um novo acordo. Sérgio Rosa tentou se manter à frente do Conselho de Administração da Vale o máximo que pode. Não queria largar o osso que lhe cabe desde 2003. Como compensação, terá a presidência da BrasilPrev. Flores tem mais trânsito no mercado, com os acionistas majoritários e, o principal, com o presidente Lula. Ele chega para reaproximar a Vale do comando petista ¿ ao contrário do que vem fazendo o atual presidente da companhia.

Agnelli, ontem, recebeu mais uma repreensão do presidente da República. Em Maputo, Lula prometeu aos moçambicanos que Dilma continuará com a política de ajuda aos países africanos, deu um duro recado aos empresários brasileiros e falou que o ¿companheiro Roger¿ não pode procurar minério na quinta avenida ou na Torre Eiffel. ¿Tem de vir ao continente africano se quiser discutir produção de alimentos e, se quiser desenvolvimento e exploração de minerais, não apenas explorando para levar, porque sabe, companheiro Roger, que é preciso construir fábricas aqui para gerar empregos aqui, para gerar valor agregado e atender às necessidades desse país¿, disse o presidente da República, dirigindo-se a Agnelli, que estava presente ao evento.

BNDES EMPRESTA R$ 116,1 BILHÕES » O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) informou ontem que seus desembolsos totalizaram R$ 116,1 bilhões de janeiro a outubro, num crescimento de 9% em relação a igual período do ano passado. A indústria recebeu empréstimos de R$ 45,1 bilhões de reais no período, seguida pelo setor de infraestrutura, com R$ 41,5 bilhões. Os financiamentos para o comércio e os serviços somaram R$ 21,4 bilhões, enquanto para agropecuária foram de R$ 8,1 bilhões. Segundo o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, o governo pensa em fazer um novo aporte de capital ao banco. Coutinho, cotado para assumir o Ministério da Fazenda ou o Banco Central no governo Dilma Rousseff, não quis dizer se os recursos sairiam ainda neste ano.