Título: Alpargatas aposta na sofisticação da lona
Autor: Gómez, Natalia
Fonte: Valor Econômico, 18/09/2006, Empresas, p. B7

Abatida pela crise na cultura de grãos, principal consumidora da sua lona "Locomotiva", a divisão têxtil industrial da Alpargatas está desenvolvendo produtos mais próximos do consumidor final para alavancar os negócios. O objetivo da companhia é ampliar as vendas de tecidos destinados à fabricação de bolsas, cortinas, tapetes, estofados e cadeiras. "Já oferecíamos as lonas tradicionais para estas aplicações, mas agora vamos desenvolver materiais específicos", diz o diretor da divisão de têxteis industriais da Alpargatas, Cícero Lopes de Barros Júnior.

Segundo ele, o plano pode ir ainda mais longe e incluir parcerias para a fabricação do produto final, como bolsas, para que o consumidor possa identificar a lona Alpargatas nas lojas. "Não vamos fabricar o produto, mas tentar nos envolver mais em projetos de clientes para fortalecer nossa marca", afirma.

O executivo, que trabalha há 14 anos na companhia, conta que o projeto de agregar valor neste segmento existia há alguns anos, mas foi acelerado a partir de maio de 2005 devido à crise no agronegócio, que representa 55% das vendas da unidade de têxteis da Alpargatas. As lonas sintéticas para coberturas, fabricados em Manaus (AM), tiveram queda de 12% nas vendas no primeiro semestre deste ano.

Foi naquele mês que a empresa iniciou um investimento de R$ 5 milhões na unidade de tecidos de algodão em Pouso Alegre (MG) para aprimorar os acabamentos das lonas. Em um ano, o objetivo é aumentar as vendas destes produtos em 50%, o que representará um incremento de 10% na unidade. De acordo com o desempenho do projeto, a fábrica pode receber mais R$ 3,5 milhões em 2007.

-------------------------------------------------------------------------------- Companhia estuda parcerias com fabricantes para colocar sua marca nos produtos finais --------------------------------------------------------------------------------

Com isso, a empresa pretende reduzir o impacto da concorrência dos tecidos chineses, que têm forte presença na área de decoração. "Temos que entrar com mais força em produtos de cores e acabamentos diferenciados porque o chinês disputa o mercado de tecidos commodity, de maior volume", afirma o executivo.

Entre as inovações estão tecidos antiácaros para persianas, novos tingimentos, material antibactericida e tecidos para impressão digital de imagens para banners e quadros. As lonas para jaquetas, já disponíveis no mercado, estão em processo de aperfeiçoamento e podem ser lançadas em meados de 2007.

Para impulsionar ainda mais a divisão têxtil, desde janeiro a Alpargatas decidiu reduzir seu número de marcas para aproveitar a força do nome Locomotiva entre os consumidores. Ao invés de oito marcas diferentes, são apenas duas desde janeiro. "A identificação dos produtos ficará mais fácil", afirma Barros.

A Locomotiva ficou com as coberturas para cargas e a linha Night & Day englobou os materiais para decoração interna e externa. Os principais produtos desta linha, que representa 40% dos negócios, são usados em toldos e fachadas para residências e estabelecimentos comerciais.

Com as medidas, a empresa pretende fechar o ano com o mesmo resultado de 2005, R$ 120 milhões. Isso corresponde a cerca de 8% dos negócios da companhia, que também atua na área de calçados com as marcas Havaianas, Topper, Mizuno, Rainha, Timberland e Conga. Controlada pela Camargo Corrêa, a Alpargatas faturou R$ 1,3 bilhão no ano passado.