Título: Agnelo oferece sigilo e leva Perillo a fazer o mesmo
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2012, Política, p. A9

Em uma estratégia articulada com seu partido, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), conseguiu ontem reverter o clima favorável à oposição na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira e disponibilizou, voluntariamente, a abertura de seu sigilo bancário, fiscal e telefônico. Com seu gesto, o petista obrigou o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), a fazer o mesmo que se recusara a fazer na véspera, quando rejeitou a solicitação do relator da CPI, Odair Cunha (PT-MG), para fornecer seus sigilos à CPI. Os dois requerimentos com as quebras dos sigilos serão apreciados hoje.

Agnelo fez um depoimento agressivo, de embate com os parlamentares da oposição, e também deixou pouco explicada a questão do crescimento de seu patrimônio e da compra de uma casa. O PT lotou o auditório da comissão para apoiar seu governador. O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) se irritou com a presença de assessores do governador o orientando enquanto as perguntas eram feitas, especialmente o secretário de transparência do Distrito Federal, Carlos Higino. Segundo Lorenzoni, os assessores estavam debochando dos parlamentares da oposição. Isso ocorreu enquanto o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) questionava o governador.

Em seguida, foi a vez de ambos ficarem tensos. O tucano lhe perguntou quem o convidara a visitar a Vitapan, empresa de Carlinhos Cachoeira em Anápolis. Agnelo disse: "A empresa". Sampaio rebateu: "Empresa é pessoa jurídica, não fala." Foi o suficiente para o clima esquentar de vez, com protestos de lado a lado.

Agnelo se irritou com uma pergunta do deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP) sobre o valor de sua casa. "Não sei, não sou corretor. Não estou acompanhando o mercado imobiliário. Tenho muito o que fazer no Distrito Federal".

O próprio Agnelo instalou o clima de agressividade na sessão. Afirmou ser vítima de perseguição política de adversários e da imprensa. "Há uma ação meticulosa e planejada com objetivo claro de desgastar a imagem do governador. Alguns veículos de comunicação passaram a divulgar falsas informações. O grupo aqui investigado tramou a minha derrubada. Não agiu só. Valeu-se das acusações plantadas no noticiário e das vozes das tribunas políticas. Hoje fica claro que minha presença na CPI é fruto da luta política."

O governador negou qualquer ligação com Cachoeira, bem como de seu ex-chefe-de-gabinete, Cláudio Monteiro, citado por aliados de Cachoeira em áudios da Polícia Federal. Por outro lado, seu depoimento também deixou em aberto algumas questões. Como a compra de sua casa por R$ 400 mil em 2007. No ano anterior, ele havia declarado patrimônio de R$ 224 mil. Além disso, um antigo dono do imóvel é proprietário de uma empresa beneficiada por um ato da Anvisa assinado por Agnelo.

Quando ofereceu a quebra do seu sigilo, surpreendeu o PSDB, DEM e PPS. Em um primeiro momento, apostaram em um blefe do governador petista e pediram que ele assinasse imediatamente a abertura de sigilo. Na sequência, o líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE), saiu às pressas rumo à liderança do partido na Câmara para receber um telefonema de Perillo. Voltou e, às 15h30, anunciou: "Recebi telefonema do governador Marconi pedindo para que votemos ainda hoje [ontem] o requerimento para quebrar seus sigilos."

A partir daí, os tucanos passaram a apontar que, na prática, os sigilos de Agnelo Queiroz já estavam quebrados, uma vez que ele autorizou sua quebra pelo Ministério Público Federal e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) também decretou essa medida.

Ainda assim, os petistas comemoravam o que consideravam uma "virada no jogo". De acordo com petistas, a "virada" fora decidida por Agnelo na noite anterior, seguindo conselhos de correligionários. Para o governador, seria uma prova política de que não está envolvido nas muitas denúncias contra ele.

Para o partido, predominou a avaliação de que Perillo se saíra bem em seu depoimento, o que dificultou o avanço das investigações contra ele. Além disso, o gesto poderia propiciar uma reunificação, ao menos temporária, da base aliada.

"Vossa Excelência desarticulou tudo que estava preparado para tirar a sua credibilidade aqui", disse o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ). "O senhor está de parabéns, governador. Entrou um anão e saiu um gigante", declarou o deputado Silvio Costa (PTB-PE), ambos da base aliada ao governo. Até o PMDB, calado nos principais depoimentos, entrou na onda. "Você sai maior do que entrou. O que teve de positivo na vinda dos governadores foi a possibilidade de organizar nossos trabalhos, por fim nas emoções políticas e focar no trabalho técnico", disse o deputado Leonardo Picciani (RJ).