Título: Bayer investe para reduzir pirataria
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2006, Agronegócios, p. B12

A Bayer Cropscience decidiu investir em rastreabilidade para tentar elevar as vendas de sementes certificadas de algodão. A empresa implantou no país um programa de certificação que engloba toda a cadeia produtiva, desde o setor sementeiro até as empresas exportadoras. O objetivo, segundo Alex Merege, diretor da divisão bioscience da Bayer Cropscience, é triplicar as vendas de sementes certificadas (produzidas pelas indústrias). Segundo Merege, hoje as variedades de algodão da Bayer vendidas pelas indústrias respondem por 10% do mercado brasileiro de sementes, sendo a vice-líder no mercado, depois da MDM.

A empresa calcula que o volume de sementes informais (piratas ou multiplicadas pelos produtores para uso próprio) que circula no mercado seja pelo menos três vezes maior que o de sementes legais.

"O objetivo é transformar esse mercado informal em formal dentro dos próximos cinco anos", diz Merege. Para alcançar esse índice, a empresa aposta no programa de rastreabilidade e na liberação comercial de sementes transgênicas.

O produtor que compra a semente certificada é cadastrado em um banco de dados, e o processo produtivo é acompanhado pela Bayer. O algodão colhido é submetido à avaliação HVI (High Volume Instruments), sistema que confirma se a semente é a da empresa. Em seguida, o produto é classificado conforme exigências internacionais de qualidade pela Coinbra/Allenberg - parceira da Bayer no programa.

Os lotes recebem um selo com dados sobre o processo produtivo. Merege diz que esse processo já é adotado nos EUA e na Austrália - os dois principais exportadores mundiais. Os produtores desses países recebem prêmios de até 10% sobre a cotação internacional da fibra. "Utilizamos variedades que oferecem uma fibra diferenciada e que é valorizada no mercado externo", afirma. Neste primeiro ano de programa, os produtores brasileiros receberam um prêmio de 2% sobre o preço internacional, mas o percentual deve subir para 5% no próximo ciclo.

Ele diz que o avanço do plantio ilegal de sementes transgênicas preocupa a empresa, que aguarda a liberação comercial pela CTNBio do algodão Liberty Link (resistente ao herbicida glifosinato) para ampliar as suas vendas no Brasil. Hoje a empresa trabalha com três variedades de sementes convencionais no país. "A expectativa é que seja liberado rapidamente", afirma.

Nos EUA e na Austrália, a empresa trabalha só com sementes transgênicas. Segundo o International Service for the Acquisition of Agri-biotech Applications (ISAAA), o plantio de sementes transgênicas de algodão responde por 28% da área total plantada no mundo, ou 9,8 milhões de hectares. No Brasil, o Ministério da Agricultura estima que 100 mil dos 857 mil hectares da safra 2005/06 eram transgênicos.

A Associação Brasileira dos Obtentores Vegetais (Braspov) calcula que 65% da área plantada no país com algodão seja cultivada com sementes sem certificação (piratas, salvas pelos produtores e transgênicas). O uso excessivo de sementes informais levou a entidade a desenvolver o programa de certificação Orileg, que também faz o rastreamento do algodão. Ronaldo Schroter, gestor do programa, afirma que o programa cobriu 36% da área plantada no país no primeiro ano de implantação. "A preocupação sobre o rastreamento e as denúncias sobre o uso de sementes transgênicas levaram os produtores a investir mais em sementes certificadas", diz.