Título: Adversários buscam munição na TV
Autor: Ulhôa, Raquel e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2006, Política, p. A8

A oposição já começa a buscar na campanha eleitoral da televisão munição contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Considerando que Lula citou, em seu primeiro programa no horário gratuito de televisão, obras ainda inexistentes como supostas realizações de seu governo, o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), disse que o petista está "mentindo tanto que está perdendo a noção do limite da enganação".

Segundo Tasso, Lula está "abusando, porque suas mentiras estão passando em branco". A oposição considera "virtuais" realizações que Lula costuma citar em seus discursos e foram repetidas no programa, como construção de refinarias de petróleo e ampliação de linhas de metrô. "O programa de hoje (ontem) foi um factóide, cheio de meias verdades, anunciando ao país obras que não fez", afirmou o senador Heráclito Fortes (PFL-PI).

O ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) disse que o programa de Alckmin apresentou "um rol de obras de engenharia" e o de Lula foi o mais consistente. "Eu acho que o único programa que apresentou algo realmente foi do presidente Lula, naquilo que é falar do passado e projetar algo para o futuro", disse.

O ministro disse que a campanha de Lula está preparada para eventuais ataques da oposição, mas avaliou que "quem baixa o nível, perde audiência".

Mas, em avaliações feitas reservadamente, petistas admitiram que o programa de Alckmin gerou preocupações na campanha de Lula, porque foi eficiente ao transmitir que o ex-governador também tem realizações a mostrar ao eleitor.

As duas campanhas encomendaram pesquisas qualitativas para avaliar o desempenho dos seus candidatos e adversários, mas os resultados não foram divulgados.

Na tentativa de descontruir a imagem de Lula, Tasso anunciou que PSDB e PFL querem levar o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, na primeira semana de setembro. A idéia é esclarecer contradições entre o que Okamotto e Lula disseram a respeito da dívida do presidente com o PT, paga pelo presidente do Sebrae.

Em depoimento na CPI dos Bingos, em 22 de novembro de 2005, Okamotto afirmou ter pago ao PT, com recursos próprios, uma dívida cobrada de Lula de cerca de R$ 30 mil, sem nunca ter conversado com o presidente sobre isso. Na entrevista dada ao "Jornal Nacional" na semana passada, Lula disse que havia conversado com Okamotto sobre a dívida.

"Ou o presidente do Sebrae vem à CCJ e desmente Lula, ou ele cometeu perjúrio na CPI dos Bingos e, nesse caso, vamos pedir cadeia para ele", afirmou Tasso. A estratégia de convidar Okamotto foi combinada com o presidente da CCJ, senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).