Título: Aperto monetário aplicado pelo BC foi na dose certa, avalia estudo do Ipea
Autor: Safatle, Claudia
Fonte: Valor Econômico, 09/08/2006, Brasil, p. A2

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que será divulgado hoje, redime o Banco Central, ao sustentar que o aperto monetário de setembro de 2004 a meados de 2005 foi aplicado na dose certa e por um período adequado para manter o compromisso da estabilidade; enfatiza a necessidade de um ajuste fiscal de longo prazo "para que seja afastado o risco inflacionário implícito na atual situação"; e destaca que o compromisso institucional com a estabilidade de preços significa que o BC deve ser independente para executar a política monetária e o controle da taxa de juros nominal de curto prazo deve ser exclusivo do Banco Central.

Na avaliação do Ipea, o controle da estabilidade em 2004 teve o menor custo em termos de queda da produção industrial desde 1994. "O processo de desinflação comprometeu a atividade de curto prazo da economia, mas isso é parte dos custos de redução da inflação. Isto, porém, não implicou redução do crescimento de médio prazo da economia brasileira", diz.

O texto - segundo livro da série "Brasil, o Estado de uma Nação" - será divulgado hoje. Nas suas 499 páginas, traz uma avaliação da política macroeconômica como introdução para a análise da realidade e das perspectivas do mercado de trabalho no país. Dividido em oito capítulos, trata da oferta da força de trabalho, da educação no Brasil, das instituições trabalhistas, do desempenho do mercado, das políticas públicas de emprego e o período pós-laboral - a previdência e assistência social.

Registra, ainda, como inquietante o crescimento das despesas públicas. O gasto primário real teve alta de 7,1% em 2004 e 10,2% em 2005, tendo sido financiado pelo aumento da carga tributária federal, que passou de 23,8% para 25,3% do PIB no período.

O estudo aponta que as regras de funcionamento do mercado de trabalho são incompatíveis com o aumento dos investimentos e da competitividade das empresas, para gerar empregos e reduzir a informalidade. "Há necessidade de ajustes institucionais que permitam às empresas disputarem em condições de igualdade o mercado internacional e que garantam adequada proteção do trabalhador."

Um cruzamento minucioso de dados da PNAD indica que a concentração populacional nas áreas urbanas aumentou de 36,2% do total da população, em 1950, para 81,2% no ano 2000. Já a população residente nas áreas rurais e em localidades com menos de 20 mil habitantes declinou de 75,7% em 1950 para 34,0% em 2000. "Em 50 anos, o Brasil fez uma transição demográfica que a Europa demorou dois séculos para fazer."

Os homens estão passando menos tempo nas atividades econômicas, mais tempo na escola e na condição de aposentados. A queda na participação masculina nas atividades econômicas foi expressiva entre a população menor de 18 anos e maior de 49 anos. A redução está associada, entre outros fatores, à diminuição da proporção da população economicamente ativa na agricultura -- e não apenas ao maior tempo passado na escola e a um adiantamento da aposentadoria. O resultado é que a proporção de aposentados com menos de 60 anos, passou de 45% em 1980 para 56% em 2000.

Outra conclusão é que o ritmo de crescimento da população será nulo dentro de 25 anos, caso não haja aumento da taxa de fecundidade (2,1 filhos por mulher) e, em 2030, o crescimento populacional atingirá níveis próximos a 0,5% e a população se aproximará de 225,3 milhões.

A geração de novos empregos deverá levar em conta uma população maior de 45 anos - que responderá por 47% da futura População em Idade Ativa (PIA). Estes empregos deverão se urbanos, já que 85% da nova PIA deverá estar nas cidades em 2030.

O economista Claudio Moura Castro coordenou o capítulo 3 do estudo, um trabalho interessante sobre educação, em que fez um levantamento geral sobre a formação profissional informal que tem sido feita no Brasil. Segundo ele, cerca de 40 milhões de pessoas freqüentam cursos livres, cursos do sistema S, cursos ministrados por sindicatos, cursos oferecidos por ONGs, que formam uma rede praticamente permanente de educação. É o que o especialista denomina o "não-sistema". Há, segundo o estudo, uma demanda reprimida de 27 milhões de pessoas que terminaram o ensino médio e não têm vaga no ensino superior.