Título: Convocação de ministros esquenta debate na CPI
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 01/08/2006, Política, p. A8

O subrelator de sistematização da CPI das Sanguessugas, deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), entrega hoje o documento mais importante produzido até agora pela comissão. O tucano levará uma descrição detalhada ao relator, senador Amir Lando (PMDB-RO), com um ranking do nível de envolvimento de cada um dos 90 congressistas que tiveram seus nomes citados nas investigações. Há provas documentais ou testemunhais contundentes contra 75 políticos.

O tucano dividiu os acusados em sete grupos. No primeiro, encontram-se aqueles contra quem há provas irrefutáveis: 15 parlamentares receberam dinheiro em suas próprias contas. Seria o pagamento de propina feito pela Planam em troca da inclusão de emendas para a compra de ambulâncias no Orçamento da União.

No segundo grupo estão 25 políticos que tiveram dinheiro depositado na conta de assessores ou funcionários. A lista segue com seis deputados que teriam recebido depósitos em outras contas, indicada pelo próprio parlamentar à Planam. Outro grupo, formado por 21 políticos, teria recebido sua parte no esquema em dinheiro vivo. Oito parlamentares receberam "presentes", como carros e viagens.

Há também 15 políticos, divididos em dois subgrupos, contra os quais não há indícios de participação. Seis não foram mencionados no depoimento de Luiz Antonio Vedoin, dono da Planam, e outros nove não têm registro de pagamento. Sampaio defendeu a divulgação da lista. "Temos de mostrar a participação ou não desses 90 parlamentares antes das eleições " , afirmou. A CPI deve aprovar na próxima semana um relatório parcial com os nomes desses 90 parlamentares e o detalhamento de suas participações. Os nomes deverão ser enviados aos conselhos de ética da Câmara e do Senado.

A CPI criou ontem uma subrelatoria para investigar o Executivo. Os três subrelatores terão a missão de analisar a participação dos ministérios da Saúde, Educação, Ciência e Tecnologia e Comunicações nos negócios da Planam. A maior fatia dos negócios da empresa se relacionava a ambulâncias, mas há indícios de braços nesses outros três ministérios. O deputado Júlio Redecker (PSDB-RS) já foi escolhido para compor a subrelatoria. Outros dois parlamentares ainda serão escolhidos.

A criação da subrelatoria promete politizar a CPI de vez. O debate a ser travado será em torno da convocação ou não do ex-ministro da Saúde José Serra (PSDB-SP), candidato ao governo de São Paulo. "Isso ficará a cargo dos subrelatores", disse o relator Amir Lando. O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) é favorável à convocação. "Se for para chamar ministros, temos de chamar todos. O esquema começou a funcionar na gestão de Serra", afirmou. Os ex-ministros Humberto Costa (PT-PE) e Saraiva Felipe (PMDB-MG) deverão prestar esclarecimentos. O petista se colocou à disposição e o pemedebista consta da lista de deputados citados por Vedoin.

O vice-presidente da CPI, Raul Jungmann (PPS-PE), é contra. "Não podemos chamar ministros por isonomia. Devemos chamar efetivamente quem apareceu nas investigações", afirmou. O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) concorda e não acredita na necessidade de ouvir Serra. "Não há nenhuma menção contra ele. Ao contrário de Humberto Costa e Saraiva Felipe".