Título: Aécio condena tática de 'bater' em adversário
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2006, Política, p. A6

O governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), condenou ontem a estratégia defendida por alguns tucanos, de que candidato Geraldo Alckmin tem de aumentar o tom dos ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para recuperar os pontos que perdeu nas pesquisas de intenção de voto. "Acho uma bobagem a tese de que tem de bater", afirmou. "Ele tem mais é que mostrar o político que é, mostrar que fez uma administração aprovadíssima em São Paulo e não tentar inventar uma figura agora."

Numa sabatina promovida pelo jornal "Folha de S. Paulo", Aécio Neves, que é candidato à reeleição no Estado, chamou de "derrapada" a queda de Alckmin. Segundo ele, entretanto, o quadro ainda está muito longe de ser uma "eleição perdida". Na sua avaliação, o presidente Lula tem "pouca gordura para queimar" e há boas chances de que a disputa vá para o segundo turno. "E segundo turno é outra eleição, aí estamos no páreo."

Respondendo a críticas sobre sua participação na campanha de Geraldo Alckmin, como o fato de não ter sequer citado o candidato a Presidência em seus programas, o governador mineiro disse que ainda haverá tempo para isso. "É natural que o primeiro programa seja para apresentação do próprio candidato", justificou.

Aécio destacou que Minas foi um dos Estados onde Alckmin se manteve estável, de acordo com as últimas pesquisas. Mas frisou que não conseguirá transferir para o correligionário todos os votos que tem no estado. "A transferência de votos tem sua limitação." Enquanto Aécio tem cerca de 73% das intenções de voto dos mineiros, Alckmin aparece nos levantamentos com 26% das intenções no segundo colégio eleitoral do país.

O governador lembrou ainda que, apesar de ter vencido em Minas Gerais com larga vantagem na eleição de 2002, o presidente Lula não conseguiu eleger seu candidato ao governo. E, frisou, não foi porque não fez campanha para o candidato.

Questionado sobre suas boas relações com políticos petistas e com o presidente petista, Aécio foi irônico. "Eu pessoalmente gosto do Lula, não gosto é do governo dele." Segundo ele, o presidente da República não foi capaz - como ele, Aécio, chegou a acreditar que seria - de conduzir as prometidas reformas previdenciária e administrativa e garantir uma melhor distribuição das receitas entre União, Estados e municípios. "Não se aprova (essas reformas) sem a condução do presidente da República e do governo federal."

Embora decepcionado com a gestão de Lula, Aécio Neves disse que valeu a pena para o país ter a experiência da administração petista. " É importante desmistificar essa coisa de que existia um partido diferente dos outros. " Para ele, no exercício do poder, o Partido dos Trabalhadores se mostrou pior do que parecia antes de chegar à Presidência.

Mais um vez, o governador mineiro falou da necessidade de o poder político do país sair de São Paulo. Lembrou que, independente de quem sai vencedor dessas eleições, serão 16 anos seguidos de Presidência da República nas mãos de um paulista. Ele negou, no entanto, que este discurso da descentralização do poder seja a plataforma do seu discurso de campanha a Presidência em 2010. Repetiu o que costuma dizer quando questionado sobre assunto, de que ser presidente não é vontade pessoal e sim "destino".