Título: Acordo reunifica Fiesp e Ciesp e garante reeleição de Paulo Skaf
Autor: Landim, Raquel e Vieira, André
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2006, Brasil, p. A4

A um ano da eleição, industriais da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) fecharam um acordo para lançar um candidato único para comandar as duas casas: o empresário Paulo Skaf, atual presidente da Fiesp. O acerto deve assegurar uma vitória tranqüila para Skaf, bem diferente da eleição de 2004, que provocou um racha inédito na história da representação industrial paulista.

O acordo foi alinhavado por partidários de três lideranças do empresariado do Estado: Skaf, o presidente do Ciesp, Cláudio Vaz, e o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. Um dos donos da Sadia, o ministro foi vice-presidente da Fiesp na gestão de Horário Lafer Piva. Segundo empresários ligados ao Ciesp, Furlan destacou o presidente da Agência de Promoção de Exportações (Apex), Juan Quirós, para ajudar nas negociações. Amigo pessoal do ministro e auxiliar de longa data, Quirós tem bom trânsito entre os empresários do interior paulista, onde o peso do Ciesp é maior e, por conseqüência, há maior resistência ao nome de Paulo Skaf.

A visão dos empresários é que os esforços das duas entidades, que sempre andaram juntas, foram dispersos com a divisão de comando entre Fiesp e Ciesp. No entanto, nem todos os industriais concordam com a forma como vêm sendo feitas as articulações para unir as duas bases industriais. Alguns avaliam que a estrutura da entidade - que passou por ajuste nas contas na gestão passada - corre o sério risco de inchar novamente.

Para angariar apoios e acomodar interesses dos dois lados, Skaf reformulou o estatuto da Fiesp. Foram ampliados o número de cargos da diretoria da entidade. Vice-presidentes, diretores-secretários, diretores financeiros e diretores de departamento somam agora 92 pessoas. Apenas os postos de vices foram ampliados de 15 para 21 cargos. O prazo do mandato do próximo presidente da Fiesp foi estendido de três para quatro anos.

Os empresários favoráveis à mudança dizem que são cargos não-remunerados. Já os opositores argumentam que essas pessoas utilizarão a estrutura da Fiesp, o que gera despesas. Esses cargos também serão fonte de influência política para seus titulares.

O próprio Skaf não esconde o desejo por um novo mandato na Fiesp e sua tentativa por comandar também o Ciesp. "Ele é candidato à reeleição e pretende trazer o Ciesp para perto", diz o porta-voz da Fiesp, Ricardo Viveiros, encarregado por Skaf para falar sobre o processo eleitoral.

O porta-voz explica que a probabilidade de Skaf sair candidato único é forte, sem concorrentes nem na Fiesp nem no Ciesp. "Esse é o sentimento dos corredores", diz Viveiros. O titular do Ciesp, Cláudio Vaz, diz que ainda é cedo para discutir o assunto, mas considera improvável sua candidatura à reeleição. "Ainda não avaliei, mas é provável que não. Me afastei dos meus negócios e da minha empresa", afirma.

Defensores e opositores de Skaf afirmam que sua candidatura à reeleição para a presidência da Fiesp se tornou muito forte. "Ele é imbatível. Já tem 95 votos de público e diz que chega a 110 no fim do ano, o que eu não duvido", diz uma fonte ligada ao Ciesp. As mudanças no estatuto e nas regras eleitorais da Fiesp contaram com o apoio de 95 dos 133 sindicatos e serviram para indicar o crescimento do apoio interno de Skaf junto às bases. Quando foi eleito dois anos atrás, Skaf teve o voto de 70 sindicatos.

O grupo ligado ao Ciesp chegou a articular a candidatura de Furlan à presidência da Fiesp. "Foi uma balão de ensaio que não deu certo", diz uma fonte do grupo. "Furlan só jogou charme. Nunca procurou as bases", afirma um empresário do interior do Estado. O grupo de Skaf diz que Furlan se recusou a entrar na disputa para perder.

No encerramento do Congresso da Indústria, em maio, o próprio Furlan insinuou que voltaria para entidades de classe. Na época dessas articulações, surgiram uma série de rusgas entre a Fiesp e o Ministério do Desenvolvimento. Skaf cobrava de Furlan uma postura rígida contra as importações chinesas, com a aplicação de salvaguardas, o que o deixava em uma saia justa com o Itamaraty, que vê a China como um parceiro estratégico. Agora que o acordo foi alinhavado para garantir a eleição de Skaf, as cobranças pelas salvaguardas diminuíram.

Para concorrer com Skaf e se dedicar à campanha, correndo o interior em busca de votos, Furlan deveria ter deixado o ministério na metade do ano, mas ele optou por permanecer no cargo. Empresários ligados ao ministro acreditam que ele pode continuar no governo em um eventual segundo mandato de Lula e poderia, eventualmente, disputar a sucessão de Skaf na Fiesp, pois os estatutos só permitem uma reeleição.

Furlan tem dito a interlocutores que sua etapa à frente do Desenvolvimento está cumprida e que só permaneceria no governo para enfrentar um novo desafio. Seus partidários cogitam uma nova incumbência na área de infra-estrutura, para solucionar os gargalos da exportação. Em conversas com o presidente Lula, Furlan vem batendo na tecla de que é preciso tornar a gestão da infra-estrutura mais profissional e menos política. Mas o ministro também não descarta deixar o governo para se dedicar mais à família. Por enquanto, Furlan ainda não conversou com Lula sobre seu futuro. "O presidente só tem dito ao ministro que ele é uma peça-chave", diz uma fonte. "E peças-chave têm lugares importantes", completa.

A articulação promovida pela turma de Skaf em seu primeiro ano de gestão ajudou a consolidar um estilo com forte viés político. Ele fortaleceu a voz dos sindicatos menos representativos, ampliou as atividades no interior e as missões empresariais no exterior, expandiu as discussões sobre variados temas, criando uma série de comitês setoriais. A Fiesp abriu escritório em Washington para discutir temas sensíveis à indústria.

A movimentação de Skaf atraiu a atenção de políticos do PFL, PSDB e PMDB e outros partidos nanicos, que o convidaram para lançar-se candidato nesta eleição. Skaf preferiu manter-se independente da política partidária, aprofundando sua relação com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em julho, foi eleito 1º vice-presidente, recuperando a tradição quebrada por Piva de ocupar o segundo posto na hierarquia da CNI.

Para tentar conquistar os 9 mil eleitores do Ciesp, Skaf começa a fazer incursões na base da entidade. Ele deu início ontem a um ciclo de palestras nas regionais do Ciesp, primeira aparição no terreno onde perdeu a eleição no ano passado. A iniciativa tem o apoio de Vaz. "O Ciesp é uma entidade com autonomia regional", diz.

O grupo do Ciesp concorda com a unificação do comando das entidades, mas não quer ver a entidade submetida novamente ao domínio da Fiesp. Os empresários defendem que a cisão serviu para mostrar que o Ciesp é viável e para reforçar sua independência. "Essa história do Ciesp ser apêndice da Fiesp não existe mais", defende uma fonte. As eleições para as presidências de Fiesp e Ciesp devem ocorrer em agosto de 2007.