Título: Sara Lee prepara nova expansão de suas marcas de café no Brasil
Autor: Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2006, Empresas &, p. B1

A multinacional americana Sara Lee, líder em café no Brasil, prepara-se para acelerar seu avanço no país. Oito anos depois de chegar ao Brasil, a companhia trabalha a expansão de suas marcas Pilão e Caboclo no mercado interno e investirá na nacionalização de sua rede de cafeterias, a Café do Ponto.

Em entrevista ao Valor, Adriaan Nühn, presidente da Sara Lee International, disse que o mercado brasileiro é muito importante para a companhia. No Brasil desde 1998, quando adquiriu as marcas Café do Ponto e Seleto, a entrada da multinacional no país marcou o movimento de internacionalização do setor. Dois anos depois, a Sara Lee arrematou de uma só vez as marcas União, Pilão e Caboclo, tornando-se a líder no varejo, com uma participação atual de 22%, considerando um universo de mais de 2 mil marcas no país.

Com faturamento líquido global de US$ 15,94 bilhões, a Sara Lee acaba de concluir investimento de R$ 90 milhões em sua segunda fábrica de café no país, localizada em Jundiaí (SP) e considerada uma das mais modernas da companhia, com capacidade para processar 100 mil toneladas de torrado e moído anuais. Os investimentos da Sara Lee somam R$ 500 milhões desde 1998, entre aquisições, novos produtos e marketing.

A estratégia da companhia será focar na nacionalização da marca Caboclo, com maior atuação no centro-sul do país, e na consolidação da marca líder Pilão, que está presente em praticamente 100% do território nacional, disse Nühn.

Terceira maior torrefadora do mundo, atrás da Kraft e Nestlé, a multinacional americana planeja também investir em 30 novas cafeteiras, totalizando 100 unidades até junho de 2006, quando se encerra o ano fiscal da companhia.

A intenção de nacionalizar o café Caboclo atende ao propósito de agregar valor à marca. Nühn reconhece que o perfil de consumo do Brasil é diferente. "O Brasil não é um só país. O que acontece no Norte é completamente diferente do que acontece no Sul, por exemplo. Nós sempre estamos de olho nas necessidades do país", afirmou. A Seleto, por exemplo, é negociada somente em São Paulo. A marca União deverá ser descontinuada nos próximos dois anos.

Os planos da multinacional para a rede de cafeterias, a Café do Ponto, são de levar a marca para fora de São Paulo. Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul são os Estados-alvo da companhia, segundo Dantes Hurtado, presidente da companhia no Brasil. Essa expansão não é uma resposta à chegada da Starbucks ao Brasil, disse Nühn. "Para nós, a Café do Ponto não é simplesmente uma franchising. Queremos desenvolver e divulgar a nossa marca com o Café do Ponto [trabalhada como marca de cafés especiais da companhia]", disse Hurtado.

"Nós vemos uma grande oportunidade aqui no Brasil (...) O mercado continua crescendo, as pessoas estão consumindo mais café", afirmou o executivo. O consumo de café torrado e moído no país está estimado em 16 milhões de sacas de 60 quilos para este ano, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic). A expectativa é de que o consumo atinja 20 milhões de sacas em 2010.

Com atuação global nas áreas de café e chá, carnes, produtos de higiene e limpeza, perfumaria e panificação, a divisão de café representa a principal fatia do faturamento do grupo, que possui 18 torrefadoras no mundo. No Brasil, a Sara Lee atua somente com café. Hurtado adiantou que a empresa poderá investir futuramente no mercado de chás no país.

Os planos globais da Sara Lee em café são atingir mercados como Leste Europeu e países asiáticos. No mundo, a Sara Lee não foca uma marca internacional. "O foco são em marcas locais." A Senseo e Douwe Egberts são as mais conhecidas da empresa. A marca Pilão é hoje a maior em volume negociado pela Sara Lee no mundo. A Douwe Egberts tem a maior receita. A Senseo é negociada nos EUA e Europa em máquinas de auto-serviço. A companhia não tem a intenção de internacionalizar a marca Pilão. "Exportamos café brasileiro para o Japão e Estados Unidos, onde a presença de imigrantes brasileiros é maior", disse Nühn. Nos mercados americanos e europeus, a empresa está focada no segmento de food service, no qual é uma das líderes mundiais.