Título: Aécio contraria PSDB e vai a evento com a presença de Lula
Autor: Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 27/07/2006, Política, p. A7

A agenda era de presidente da República, mas os petistas mineiros trataram de garantir discursos de campanha para Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, na cidade Santos Dumont. Segundo maior colégio eleitoral do país, Minas Gerais é um Estado considerado estratégico para garantir sua reeleição em primeiro turno. No último Datafolha, Lula tem 45% dos votos no Estado e o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, 26%.

Lula esteve na cidade natal de Alberto Santos Dumont para participar das comemorações pelo centenário do vôo do 14 Bis. Também nascido na cidade, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci, encarregou-se de dar o tom de campanha. Em seu discurso, abusou das metáforas aeronáuticas. "Nada melhor do que comemorar este centenário quando, depois de muitos anos de estagnação, como se fosse um avião sem peças guardado num hangar, o Brasil voltou a voar sob o comando de Lula". E completou: "Talvez não seja ainda um supersônico, mas se sustenta bem no ar, como o 14 Bis". Para o ministro, as contribuições que o presidente dá ao país, como o desenvolvimento do biodiesel, são comparáveis à invenção do avião por Santos Dumont.

Primeiro prefeito eleito pelo PT na cidade, de 55 mil habitantes, Evandro Nery fez questão de enumerar para a platéia que lotava o ginásio da cidade todas as obras realizadas em sua gestão graças às verbas federais. A ajuda do governo Lula vai, segundo ele, da construção de um estrada que favorecerá o turismo até casas para desabrigados.

O prefeito afirmou ainda que, graças a Lula, "o presidente que mais se preocupou com os pobres", diminuiu a fila de moradores pedindo cesta básica na porta da prefeitura. Nery referia-se ao programa Bolsa Família, uma das principais plataformas da campanha à reeleição.

Candidato ao governo de Minas, o ex-ministro Nilmário Miranda (PT) não subiu ao palco, mas participou da solenidade da arquibancada, ao lado do candidato ao Senado, Newton Cardoso (PMDB). Lula não cumprimentou em público o pemedebista, um dos inimigos históricos do PT mineiro, mas teve com ele uma conversa reservada.

A aliança com Newton Cardoso tem causado constrangimento para muitos petistas mineiros, incluindo líderes como o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, que é coordenador da campanha presidencial no Estado. Lula, entretanto, considerou que a parceria com o PMDB ligado a Newton Cardoso era essencial para a campanha. Com isso, acabou desagradando ao ex-presidente Itamar Franco, que disputou a indicação ao Senado pelo PMDB. Ao contrário de Newton, Itamar defendia a aliança do partido com o governador do Estado, Aécio Neves (PSDB).

O governador Aécio Neves estava em Santos Dumont, ao lado do presidente Lula. "Não é porque alguém é meu adversário que ele tem todos os defeitos, não é porque alguém é meu aliado que ele tem apenas virtudes", declarou. Segundo Aécio, as disputas partidárias não podem impedir o cumprimento das funções institucionais e as relações políticas.

Graças à pressão do PSDB, o governador chegou a desistir da viagem, mas acabou voltando atrás. Para evitar constrangimentos, resumiu sua participação à visita ao museu. Não participou da cerimônia em que Lula recebeu homenagem da Fundação Casa de Cabangu, responsável pela manutenção do acervo deixado pelo pai da aviação. O governo federal liberou R$ 550 milhões para a reforma do museu.

O governador mineiro confirmou para hoje o encontro entre Itamar Franco e Geraldo Alckmin. A expectativa é que Itamar oficialize seu apoio ao tucano. O anúncio, caso se confirme, contrariará os planos da campanha petista, que esperava obter ao menos a neutralidade de Itamar. Pimentel chegou a dar essa possibilidade como certa.

Durante a solenidade, Lula esteve sorridente, acenando à platéia. Deu autógrafos para moradores, mas evitou improvisos. Leu um discurso pedindo que a população se espelhe no exemplo de Santos Dumont. Para ele, o aviador foi "um daqueles brasileiros que não desistem nunca", numa alusão à sua campanha publicitária. Lembrou também que o inventor preferiu não patentear o 14 Bis, dando livre acesso à sua tecnologia. Além disso, repartiu todo o dinheiro que ganhou entre os pobres e os operários que trabalharam na construção do avião.

Antes chamada Palmira, a cidade de Santos Dumont recebeu o novo nome após a morte do aviador, em 1932. A primeira decolagem do 14 Bis ocorreu em 23 de outubro de 1906, em Paris. Ontem o nome de Alberto Santos Dumont foi incluído no Livro de Heróis da Pátria.