Título: Alta das compras externas reflete gargalos produtivos
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 02/12/2004, Brasil, p. A-5

Com a forte retomada da economia e vários setores atingindo o limite da capacidade instalada, os gargalos da produção começam a provocar aumento das importações. A tendência pode se agravar, se o país mantiver o ritmo de crescimento em 2005. As compras externas de produtos siderúrgicos aumentaram 81,5% em novembro ante o mesmo período de 2003. A alta das importações chegou a 69% em borracha e artefatos, 60% em filamentos têxteis, 64,4% em veículos e autopeças, 52,9% em plásticos, 37,4% em equipamentos mecânicos na mesma comparação, conforme a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Próximos a 100% de utilização da capacidade instalada, as siderúrgicas estão reduzindo as exportações para atender a demanda interna, diz Carlos Loureiro, presidente da Rio Nebro, distribuidora do grupo Usiminas. O executivo explica que está aumentando a importação de aços especiais, enquanto as compras externas de aços planos em volume devem crescer apenas 2% esse ano. Uma parcela significativa da alta de 81,5% de importações siderúrgicas em valores é conseqüência do forte aumento de preços dos produtos.

Loureiro pondera, no entanto, que poderá haver uma alta expressiva nas compras externas de aço a partir do final de 2005. "Com os investimentos previstos hoje, teremos maior disponibilidade de aço no país no começo de 2007. Se voltamos a crescer 4%, vai aumentar a importação de aço em 2006", diz. Segundo Vilien Soares, diretor-geral da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip), as importações de pneus devem crescer 10% esse ano, atingindo 2,9 milhões de unidades, recuperando os patamares de 2002. "O volume está coerente com a recuperação econômica", diz. "Se você trabalha na capacidade máxima, não há condições de suprir alguns modelos". O executivo não acredita que o atual patamar do câmbio esteja estimulando as importações. As indústrias de pneus atingiram 90% a 95% da capacidade de produção e planejam novos investimentos. Segundo a Anip, a Pirelli anunciou a construção de nova fábrica em Gravataí, enquanto a Continental se instalará no país com um planta em Camaçari. As filas de espera para a entrega de máquinas e equipamentos no país já chegam a 16 semanas, informa Newton de Mello, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Ele pondera que o prazo ainda é inferior ao do produto importado, mas estimula os compradores a fazerem cotações no exterior. "Se essa situação perdurar por muito tempo, poderá haver um deslocamento", explica Mello. O setor está trabalhando com 85% da capacidade instalada e deve investir entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões esse ano, ante R$ 3 bilhões em 2003. O valor atual significa investimentos reais, já que o montante aplicado no ano passado era suficiente apenas para a manutenção das fábricas. De acordo com Eduardo Cintra, diretor-executivo da Associação Brasileira de Produtores de Fibras Artificiais e Sintéticas (Abrafas), o aquecimento da demanda está provocando um aumento automático da importação, principalmente de poliester. "O setor está batendo entre 80% a 85% da capacidade produtiva, chegando a 95% em alguns períodos", diz. Cintra explica que os investimentos previstos não saíram do papel, porque as empresas ainda esperam sinais de que a retomada é consistente. "Esse é um setor de capital intensivo, que exige escala. Com as atuais taxas de juros, fica difícil". Francisco Salazar, responsável pela área de comércio exterior da Associação Brasileira da Indústria de Plástico (Abiplast), atribui o aumento das importações de plástico à recuperação da demanda interna, câmbio favorável, alta do preço da matéria-prima no mercado local, maiores exportações que incentivam o drawback (regime que isenta de tributos insumos para a exportação). "Mas a recuperação da economia é o fator preponderante", diz. Salazar acredita que os fabricantes de plástico que atendem setores voltados para a exportação estão batendo recorde da capacidade instalada. Já as empresas que atendem o mercado interno ainda tem algum espaço de manobra.