Título: Alckmin assume negociação com PFL
Autor: Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2006, Política, p. A10

O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, assumiu pessoalmente as negociações com as lideranças do PFL nos Estados em que a costura eleitoral entre os dois partidos é mais problemática.

No jantar com a bancada de senadores do PFL, na casa do senador Heráclito Fortes (PI), na noite de quarta-feira, Alckmin conversou individualmente com o governador João Alves (PI) e com os senadores Antonio Carlos Magalhães (BA), Roseana Sarney (MA), Demóstenes Torres (DF) e Paulo Octávio (DF). A todos, prometeu empenho pessoal para solucionar divergências com o PSDB local.

"Ele ficou surdo de tanto ouvir e disse que vai resolver", afirmou o governador João Alves, candidato à reeleição, por enquanto sem apoio do tucano Albano Franco. Na cúpula nacional do PSDB, não há expectativas de solução para os principais conflitos entre com o PFL, localizados na Bahia, em Sergipe e no Maranhão. Alckmin deve subir em dois palanques ou priorizar o mais forte, como é o caso da Bahia, em que ACM não aceita palanque duplo. Alckmin já declarou apoio ao pefelista Paulo Souto.

"Ele subiu um degrau. Informou-se, ouviu cada um. Agora pode avaliar os argumentos e se mover para fazer arranjos. Onde não puder ter aliança, pelo menos que haja um pacto de convivência", disse o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN) - que disputa com o senador José Jorge (PE) a indicação para ser vice na chapa de Alckmin.

Ontem, a Comissão Executiva Nacional do PFL decidiu formalmente aguardar a definição do PMDB sobre o lançamento ou não de candidato próprio a presidente - que deve ocorrer em 13 de maio -, para fechar as alianças partidárias nos Estados e anunciar o parceiro de chapa de Alckmin.

Os pefelistas cobram do PSDB nacional interferência nos diretórios estaduais onde o PFL lidera a disputa eleitoral. "A meta do PSDB é eleger Alckmin. Então, precisa fazer entendimentos. Onde o PFL é favorito, não pode abrir mão de candidaturas", disse José Jorge.

A senadora Roseana Sarney, candidata a governadora do Maranhão, queixou-se a Alckmin do PSDB estadual, aliado ao PDT de Jackson Lago, candidato ao governo estadual. Na Bahia, o deputado Jutahy Júnior, presidente do diretório do PSDB, também defende aliança com o PDT.

Alckmin disse a Roseana que buscaria uma solução, mas a senadora considera difícil um entendimento. Mas gostou da conversa, porque ainda não negociou com o PSDB no Estado. "Foi bom, porque foi o primeiro contato", disse a senadora.

As dificuldades mais graves de convivência entre tucanos e pefelistas estão nos Estados da Bahia, de Sergipe e do Maranhão. Em Goiás e no Distrito Federal também há arestas a aparar.

O início de negociação direta com o candidato ajuda a distender tensões. "Não sei os termos das conversas, mas ninguém saiu de lá triste ou com lágrimas nos olhos", disse o anfitrião Heráclito Fortes.

No caso de Sergipe, o governador quer intervenção de Alckmin para tentar convencer o ex-governador Albano Franco a interromper negociações com o petista Marcelo Déda, seu maior adversário. Em troca do apoio de Albano, Alves oferece a vaga de vice em sua chapa. O tucano quer disputar o Senado, mas a candidata é a mulher do governador, a atual senadora Maria do Carmo, favorita nas pesquisas.

"O que está acontecendo em Sergipe é inconcebível: o PSDB de lá está ostensivamente conversando com o PT", afirmou. Na tentativa de buscar entendimento, Alves e Albano voltaram a conversar depois de dez anos de rompimento. Mas as negociações não avançaram por causa da reivindicação de Albano pela vaga do Senado.

A Executiva Nacional do PFL fixou o dia 25 de maio como data-limite para solucionar as divergências com o PSDB nos Estados e marcar a formalização da coligação nacional entre os dois partidos. Nas cúpulas partidárias, a aliança nacional é dada como certa, mas a decisão do PMDB pode facilitar ou dificultar as negociações.

O PMDB é parceiro eleitoral do PFL em Estados importantes, como Pernambuco, onde o pefelista Mendonça Filho é o candidato a governador e o ex-governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), a senador. Essa coligação - da qual também participa o PSDB, que indicará o vice - será inviável, se o PMDB lançar candidato próprio a presidente. A regra da verticalização proíbe coligação estadual entre partidos com candidatos diferentes à Presidência da República.

Se o PMDB aprovar o lançamento de candidato próprio a presidente, na pré-convenção nacional de 13 de maio, a solução para casos como esse será uma "coligação branca", mas os candidatos temem eventuais contestações judiciais. "Torço para que o PMDB não tenha candidato", afirmou o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC).

O senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), por exemplo, pretende disputar o governo do seu Estado, por uma aliança com o PFL, que deve indicar o vice, e o PSDB. "A candidatura própria do PMDB vai sepultar essa coligação", afirmou Alves.

Ele disse que as recentes críticas de irregularidades no financiamento da campanha do pré-candidato do PMDB a presidente, Anthony Garotinho (RJ), aumentam as resistências contra a candidatura própria. O ex-presidente Itamar Franco (MG) também se lançou na disputa, mas, sem conseguir apoio representativo, admitiu desistir.