Título: Apenas PP, PDT, DEM e PR afirmam ter repassado fundo partidário a candidatos
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2011, Política, p. A6

De Brasília O PP, PDT, DEM e PR foram os únicos partidos que, na prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), discriminaram repasses do fundo partidário a campanhas eleitorais. Os quatro partidos usaram o fundo para financiar diretamente campanhas eleitorais de 146 candidatos de suas legendas em 2010, dos quais 65 foram eleitos. Ao todo, foram destinados às contas eleitorais desses candidatos quase R$ 10 milhões do fundo, constituído a partir da arrecadação de multas eleitorais, doações e dotações orçamentárias da União.

O PP foi o partido que mais se utilizou do expediente, destinando R$ 3,7 milhões dos R$ 13,6 milhões do seu fundo em 2010 para financiar 101 candidatos, tendo eleito 41 deles. No geral, cada candidato a deputado federal recebeu R$ 40 mil, ao passo que os que pleitearam as Assembleias Legislativa ficaram com R$ 20 mil.

A sigla, cuja bancada no Congresso (46 parlamentares) é composta por 25 milionários, deu preferência no repasse aos seus integrantes do diretório nacional, independentemente da necessidade financeira. Por exemplo, Paulo Maluf (SP), o sexto mais rico do Congresso com um patrimônio declarado de R$ 39,4 milhões, recebeu R$ 40 mil do PP, o que corresponde a 5% dos R$ 803 mil que captou para sua campanha. Beto Mansur (SP), com patrimônio de R$ 16,2 milhões, também recebeu R$ 40 mil. O atual ministro das Cidades, Mário Negromonte (BA), também recebeu a mesma quantia, equivalente a 2,8% dos R$ 1,42 milhão que amealhou. Seus bens somados valem R$ 975 mil.

No PDT, 11 deputados federais da atual bancada de 27 tiveram contribuições do comando partidário para se eleger com recursos públicos. No entanto, diferentemente do que ocorreu com os pepistas, os repasses decorrentes do fundo partidário foram determinantes para a campanha.

Caso de Reguffe (DF), o deputado federal proporcionalmente mais bem votado do país, que teve quase 70% (69,5%) da sua campanha financiada pelo fundo partidário de sua legenda. Foram R$ 100 mil dos R$ 143,8 mil que ele declarou como custo da campanha. Depois dele, aparece o deputado Sebastião Bala Rocha (AP), com 66,3% da campanha financiada por recursos públicos (R$ 150 mil de R$ 226,6 mil). Na sequência, vêm o deputado Paulo Rubem Santiago (PE), com 37,5%, e José Carlos Araújo (BA), com 33,8%.

No PDT, não houve critérios específicos para a distribuição dos recursos entre os candidatos. Enquanto Araújo, filiado desde 2009, com longa passagem anterior pelo antigo PFL - onde atuou por 15 anos - recebeu R$ 300 mil; Vieira da Cunha (RS), na legenda desde 1981, foi aquinhoado com R$ 50 mil. O senador Cristovam Buarque (DF) obteve R$ 100 mil.

Descendentes de figuras históricas ligadas ao partido, por sua vez, tiveram privilégios na distribuição. Os netos do ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul Leonel Brizola, deputado federal Brizola Neto (RJ) e deputada estadual Juliana Brizola (RS), tiveram em seus caixas, respectivamente, R$ 50 mil e R$ 82 mil, provenientes do fundo partidário. O primeiro assumiu o cargo como suplente e a segunda foi eleita.

O parentesco com outro considerado ícone da legenda, o ex-presidente João Goulart, também beneficiou seu filho, João Goulart Filho, na candidatura a deputado distrital no Distrito federal. Embora não tenha sido eleito, recebeu R$ 50 mil. O neto do ex-presidente, Christopher Goulart, candidato a deputado estadual no Rio Grande do Sul, captou internamente o mesmo valor, mas também não se elegeu.

No Democratas, apenas quatro eleitos receberam recursos públicos para suas campanhas - todos dirigentes da legenda. Os deputados federais Abelardo Lupion (PR) e Lira Maia (PA) integram a Executiva Nacional; Eduardo Sciarra (PR), hoje de saída para o PSD, era vice presidente de Assuntos Econômicos em 2010. Vilmar Rocha (GO), eleito deputado federal e outro que deixou a legenda rumo ao PSD, foi um dos fundadores do antigo PFL, posteriormente rebatizado de Democratas.