Título: Candidatura Serra em 2012 é quase uma exigência partidária
Autor: Taquari, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 01/04/2011, Política, p. A8

De São Paulo O PSDB se prepara para escolher no dia 10 de abril o presidente do diretório municipal de São Paulo. A eleição deve expor a divisão no partido entre os vereadores e os aliados do governador Geraldo Alckmin, que articulam para lançar na disputa o secretário estadual de Gestão Pública, Júlio Semeghini. Liderados pelo presidente da Câmara Municipal, José Police Neto (PSDB), os vereadores não abrem mão do comando da sigla na capital. Advogam que o partido precisa de um projeto político para não cair nas mãos de marqueteiros. Aos 38 anos e em seu segundo mandato como vereador, Police tem bom trânsito com todos os grupos do PSDB e é um dos maiores aliados de Kassab na capital. É um defensor entusiasmado da candidatura do ex-governador José Serra à Prefeitura. A seguir, a entrevista ao Valor:

Valor: Como os vereadores tucanos veem a movimentação de aliados do governador para assumir o comando do partido no município?

José Police Neto: O processo está sendo noticiado como se existisse uma disputa de grupos. Não tem isso. Há uma disputa de concepção. A eleição do diretório é uma consequência do projeto político que o PSDB tem para a cidade. A bancada de vereadores vem trabalhando nisso há um bom tempo.

Valor: No que consiste o projeto?

Police: Em discutir os problemas da metrópole e aprofundar as alternativas. Debatemos soluções que redistribuam a riqueza na metrópole. Isto é, precisamos trazer a riqueza para onde as pessoas já estão morando. Tem que inverter o processo de desenvolvimento da metrópole. Essa é a discussão que a bancada de vereadores quer fazer no exercício da presidência do partido para apresentar soluções na eleição do ano que vem.

Valor: O que deve constar neste debate de desenvolvimento?

Police: A definição de regras claras para a integração dos 39 municípios que compõem a região metropolitana de São Paulo, que sofrem com problemas de transporte, habitação e ocupação de áreas de risco. Estamos em contato com presidentes de outras câmaras municipais. Temos um projeto político para a capital e a metrópole. Por isso apresentamos a bancada como parceira neste processo de renovação da direção partidária.

Valor: Qual papel o novo diretório municipal deve ter em 2012?

Police: O diretório tem que funcionar como o instrumento de propostas para a sociedade. Caso contrário, voltamos numa tese que aconteceu nos últimos anos. Ou seja, de que plano de gestão é montando por marqueteiros. Os vereadores do PSDB estão dizendo para os militantes que acreditam na força do partido para escrever aquilo que querem para a cidade. Não querem entregar isso para uma dúzia de marqueteiros excelentes para vender Omo e Casas Bahia.

Valor: Qual o projeto que os aliados do governador apresentaram para comandar a legenda?

Police: Projeto de poder. Não estou criticando. Todo mundo pode ter o seu. Mas eu prefiro outro caminho. Prefiro ter projeto para cidade a ter projeto de poder.

Valor: A bancada de vereadores já escolheu um nome?

Police: Não fechamos nomes porque esse é um diálogo que queríamos fazer com o partido como um todo. Temos o (deputado estadual) Carlos Alberto Bezerra e o Adolfo Quintas, que é a maior liderança popular do partido. Com ele, resgataríamos um conceito da fundação do PSDB.

Valor: Como Alckmin e o ex-governador José Serra reagiram aos apelos dos vereadores?

Police: Conversamos com todas as lideranças, inclusive com o secretário Júlio Semeghini, que postula o cargo. Tivemos sempre uma recepção positiva. Até porque não seria razoável um dirigente dizer que o vereador não pode demandar o diretório municipal.

Valor: A disputa pode dividir o partido, como em 2008, quando Alckmin não teve o apoio de 11 dos 12 vereadores na eleição municipal?

Police: Não acredito. O PSDB é uma legenda parlamentarista. Negar a força do parlamentar na condução do partido é negar a nossa essência. Um partido que renega isso sai derrotado em qualquer circunstância.

Valor: O que acontece em caso de derrota da bancada?

Police: Vou cobrar diariamente do secretário (Júlio Semeghini) o tempo de dedicação ao partido, a articulação e a construção do projeto político e não de poder. Criamos um arco amplo de alianças para a presidência da Câmara, que envolvem partidos como PPS, PDT, PSB, PC do B, PSC, PTB e DEM. Podemos estar juntos na eleição municipal se eles perceberem que fazem parte de um projeto político. Não vejo na articulação do Semeghini esse diálogo com essas esferas municipais destes partidos.

Valor: O que os vereadores estão fazendo para evitar o racha interno que marcou 2008?

Police: Antes de sair a candidatura de Alckmin ao governo do Estado, apresentamos o nosso projeto político. O processo envolveu a escolha de Floriano Pesaro para a liderança do partido na Casa e a vitória de um vereador do PSDB na presidência da Câmara. A terceira fase da estratégia se dá agora, com a importância de um vereador chegar ao diretório municipal. Conversamos com todos e ninguém discordou. Tudo feito de maneira a evitar o episódio de 2008.

Valor: Qual deve ser o candidato tucano à prefeitura de São Paulo?

Police: Estamos felizes nesse momento porque há poucos dias o governador deu sequência à nossa tese da bancada, de que temos uma liderança nacional, que é o Serra, que teria todas as condições para conduzir este processo de diálogo da metrópole, com a integração dos 39 municípios.

Valor: Em declarações recentes, Serra não parece muito animado...

Police: Ele reage. Não quer. Mas o partido não funciona só por desejos individuais. Muitas vezes você tem que entender o que o partido lhe pede e ter capacidade de aceitar quase uma exigência partidária. Agora o partido também tem que respeitar as posições daquele que teve mais de 40 milhões de votos. Não é algo simples.

Valor: Serra não pode ser acusado de ter abandonado a cidade no meio do mandato?

Police: É o inverso. Ele deixou de ser prefeito para ser um superprefeito. Nunca a região metropolitana teve tanto investimento como na passagem dele pelo governo. Essa é uma condição que renova a possibilidade de ele ser prefeito de novo. Tudo que você enxerga de grande na cidade aconteceu nas mãos do superprefeito Serra na continuidade dos 15 meses de prefeito que ele foi. Você não vai encontrar governador na história recente que fez tanto investimento na capital. Esse não é o problema.

Valor: Qual o problema então?

Police: O problema é encontrar uma equação dos desejos futuros. Não tem nada a ver com o projeto político do partido para a capital e a região metropolitana. Ele tem todas as condições de ser presidente da República. Disputou a última eleição em grau de igualdade com Dilma, que vinha de um governo com mais de 80% de aprovação. Todos temos que respeitar a força, as vontades e os desejos de um homem público deste tamanho.

Valor: Como está vendo a criação do PSD?

Police: Todo partido novo é a reafirmação da democracia. Me parece que o Kassab virou o cara que tem que apanhar para este partido ganhar musculatura nos outros cantos. Passado o desafio da montagem do partido, todos esses que se serviram do Kassab passam a render a ele elogios de excelente articulador. Foi o único que teve tamanho e coragem de montar o partido e a janela.

Valor: Pode ocorrer uma debandada no PSDB?

Police: PT e PSDB estão cristalizados. Se perder um nome ou outro, o partido continua no mesmo tamanho. Essa duas legendas se consolidaram. Os partidos que perdem são os que não ganharam maturidade ao longo do tempo.

Valor: O senhor foi convidado pelo prefeito para migrar de sigla?

Police: Não. Somos muito próximos, mas o prefeito jamais faria isso. Só tenho uma filiação na vida. Iniciei no clube dos tucaninhos. Só vou sair se me empurrarem, mas não creio nisso. As suas legendas podem estar juntas em 2012.