Título: Serviços precários ampliam tragédia no Rio
Autor: Rosas, Rafael; Ennes, Juliana
Fonte: Valor Econômico, 14/01/2011, Brasil, p. A4

No segundo dia após uma das maiores tragédias do Estado do Rio de Janeiro - que deixou mais de 470 mortos -, a população atingida convivia com um cenário de absoluto caos, enquanto muitos ainda procuravam informações sobre parentes e amigos. No final do dia, 30% da rede elétrica ainda estava desligada e o sinal telefônico apenas parcialmente recomposto, enquanto o acesso por terra (especialmente para Nova Friburgo) começava a ser precariamente reaberto e equipes de resgate - reforçadas pela presença homens da guarda nacional - ainda tentavam chegar a lugares atingidos por deslizamentos de encostas. Ao mesmo tempo, autoridades faziam promessas de liberação de verbas e de ações rápidas. A Polícia Civil informava que o número de vítimas fatais deve crescer, pois ele corresponde apenas aos já identificados pelo órgão. Do total, 214 mortes foram registradas em Nova Friburgo, 208 em Teresópolis, 35 em Petrópolis (no distrito de Itaipava), 13 em Sumidouro e 4 em São José do Vale do Rio Preto. Segundo o último balanço, Petrópolis tinha 6.500 desabrigados ou desalojados, e 1.500 casas total ou parcialmente destruídas. Em Teresópolis, eram 960 desalojados, e 1.280 desabrigados. Em Nova Friburgo, 3.220 desalojados 3.220, e 1.970 desabrigados.

Na sexta-feira, a Marinha, a pedido do governador Sérgio Cabral, vai instalar um hospital de campanha em Nova Friburgo. Na noite de quarta-feira, outra unidade começou a ser montada em Teresópolis. Na região, também os hospitais foram atingidos pela chuva, o que dificulta o atendimento da população, inclusive dos resgatados em escombros.

Ontem, a presidente Dilma Rousseff, acompanhada do governador do Rio, Sérgio Cabral, visitou a região e disse que a tragédia foi causada por décadas de desleixo e de falta de programas habitacionais que privilegiassem a população de baixa renda. "Onde eles vão morar? Onde não pode", afirmou. Dilma disse que o governo federal vai liberar recursos para projetos que visem uma ocupação mais racional, retirando famílias de áreas de risco. "Prevenção não é questão de defesa civil apenas, é uma questão de saneamento, drenagem e política habitacional de governos que se preocupam com a população", disse Dilma, frisando que as ações preventivas cabem às três esferas de governo. "O que não está certo é não diminuir o efeito dessa chuva", observou.

Segundo a presidente, o governo federal liberará rapidamente de recursos para a reconstrução das áreas afetadas, desde que os municípios apresentem projetos estruturados e prestem contas dos recursos empenhados. Ao todo serão liberados R$ 780 milhões para as áreas atingidas do Rio e de São Paulo, mas a presidente não soube detalhar quanto para cada região.

Ontem, o Ministério das Cidades também informou que apesar da segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) destinar R$ 1 bilhão para obras de estabilização e contenção de encostas, grande parte das cidades não enviou projetos para utilizar as verbas. Para destinar esse dinheiro, o ministério identificou 99 municípios com histórico de tragédias causadas por deslizamentos, mas menos da metade (45) conseguiu apresentar projeto com base no qual a verba será liberada. Entre as cidades com histórico de mortes por desabamentos, estão 15 municípios do Rio, incluindo os da região serrana. Diante da falta de planejamento, o governo federal liberou R$ 44 milhões para a elaboração dos projetos.

Só a reconstrução de Teresópolis deverá custar pelo R$ 590 milhões. A estimativa foi apresentada pelo prefeito da cidade, Jorge Mário Sedlacek, à presidente. O valor não considera os gastos para reconstruir as casas destruídas. "A presidente ficou de avaliar os projetos", disse Sedlacek, acrescentando que gastou os R$ 5 milhões que a prefeitura tinha em caixa durante os três dias de resgates iniciais.

O prefeito informou que na segunda-feira haverá uma reunião em Teresópolis para a formação de um consórcio com Nova Friburgo e Petrópolis para que os municípios busquem em conjunto recursos para a reconstrução. O prefeito afirmou que teve aprovados projetos para contenção de encostas, drenagem e moradia, com remoção de áreas de risco e construção de casas populares, no valor de R$ 120 milhões e que os desembolsos começariam em 2011.

As três cidades serranas afetadas pelas chuvas já tinham mapeamento geológico de risco feito em 2009, dentro de um programa financiado pelo Ministério das Cidades, contou Flávio Erthal, presidente do Departamento de Recursos Minerais (DRM) do estado do Rio. No ano passado o DRM foi escalado para fazer o trabalho de mapeamento geológico no Etado, no contexto das medidas adotadas pelo governo estadual sugeridas pelo Coppe.

Até 2010, o DRM era um órgão de geologia que atuava apenas na área de mineração e ocupação do solo. Hoje com dez geólogos e concurso público em andamento para contratar mais 16, o departamento teve funções reformuladas e incluído no núcleo de acompanhamento das medidas de prevenção. (Colaborou Janes Rocha, do Rio)