Título: Silvio não gosta de dívida, e venda de ativos é analisada
Autor: Mattos , Adriana
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2010, Finanças, p. C8

O futuro do grupo Silvio Santos deve envolver a venda de ativos da companhia, como forma de tentar reduzir os impactos do rombo de R$ 2,5 bilhões nas contas da empresa. Essa hipótese já está na mesa de discussões do grupo há pelo menos dois meses, desde que o empresário Silvio Santos tomou conhecimento dos problemas na empresa, segundo informações apuradas pelo Valor com executivos da companhia. "Ele [Silvio Santos] só começa a pagar esse empréstimo em 2013. Mas o Silvio não gosta de dever nada e está desenhando agora algum planejamento mais detalhado sobre o que fazer", diz um diretor de uma das unidades de negócios do grupo. Silvio Santos tem recebido relatórios semanais sobre todas as empresas do grupo. Mas já está claro que as negociações envolvendo a venda dos ativos não-financeiros - são 16 empresas controladas por Silvio Santos - não conseguirão eliminar o buraco bilionário em suas contas. Isso já foi possível de se concluir com base em cálculos que a própria companhia fez nas últimas semanas, em cima de estimativa futura de desempenho das atividades para os próximos cinco anos.

Segundo a avaliação, a receita bruta total dos quatro maiores negócios não-financeiros do grupo - a emissora SBT, Jequiti Cosméticos, Lojas do Baú e Sisan Empreendimentos Imobiliários - deve atingir R$ 1,7 bilhão em 2010. Se tudo isso fosse vendido com base na receita com vendas ou serviços, não eliminaria o rombo. "Essa não é uma negociação feita com base no faturamento simplesmente, mas por aí, já dá para ter uma ideia de que ainda se está distante do valor devido", reforça o executivo. O Panamericano, que está no centro do rombo bilionário - e foi salvo com o aporte feito pelo grupo, por meio do empréstimo do Fundo Garantidor de Créditos - não estará na mesa de negociações num primeiro momento.

A ideia é esperar a situação se tranquilizar e, enquanto isso, analisar possibilidades de venda na parte de ativos na área de comércio e serviços. Foi a instituição que ajudou a reforçar o caixa da empresa nos anos de 2006 e 2007 quando o SBT estava com dificuldades financeiras.

Ter que se desfazer de ativos é algo que Silvio não gosta muito. Mas também não suporta a ideia de ser devedor. Ele tem até hoje a primeira casa que comprou com financiamento do BNH.

Em 2009, o grupo Silvio Santos, com 9 mil funcionários, apurou receita bruta de R$ 4,7 bilhões, uma leve expansão de 5,6% em relação a 2008. Foi registrado prejuízo de R$ 7,8 milhões, ante lucro de R$ 73,5 milhões no ano anterior

Entre as operações mais interessantes ao mercado está a Lojas do Baú, que passa por uma reestruturação desde o fim de setembro, comandada pela equipe de Claudio Galeazzi. Depois do SBT - que deve faturar entre R$ 850 milhões e R$ 900 milhões em 2010, a cadeia varejista é a segunda maior fonte de receita da empresa. Segundo um diretor da Lojas do Baú, o papel da Galeazzi será o de mostrar erros e acertos da administração da rede e, ao fim desse processo, não está descartada a venda da operação. "É algo que pode ser sugerido à empresa e vamos avaliar", diz ele. Nesse momento, os negócios que podem ser colocados à venda, além da rede, são a Jequiti Cosméticos - com receita estimada de R$ 380 milhões em 2010 - e o SBT.

São duas operações com perfis diferentes em relação a possíveis negociações. Há informações no mercado de que a sueca Oriflame tem interesse na Jequiti e estrangeira a sondou meses atrás. A Jequiti nega a informação. A Oriflame admite que tem interesse em empresas brasileiras na área de venda direta.

Já em relação ao SBT, a questão é outra, e um tanto complicada. O negócio que mais dá dinheiro para Silvio Santos não pode ser vendido de "bate e pronto". Como se trata de uma concessão pública, é preciso que o governo avalie qualquer mudança no contrato. E isso normalmente demora meses para acontecer. O SBT pode vender a empresa e transferir a concessão para outra companhia. Em relação à venda para uma empresa estrangeira, o limite de participação no negócio do capital internacional é de 30%. (Colaboraram Daniele Madureira e Vanessa Adachi)

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 11/11/2010 01:37