Título: Silvio Santos negociou resgate pessoalmente
Autor: Adachi , Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2010, Finanças, p. C1

O Banco Central (BC) costurou com o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) uma solução inédita para salvar o banco Panamericano, do Grupo Silvio Santos, de uma liquidação. O FGC concedeu empréstimo de R$ 2,5 bilhões ao Panamericano, operação concluída ontem por meio da compra de debêntures emitidas pela holding Silvio Santos Participações (SSP). Os títulos têm vencimento de dez anos e o banco ainda vai contar com carência de três anos. O valor será corrigido pelo IGP-M, sem juro.

A disposição mostrada pelo empresário Silvio Santos para tentar sanar o problema foi determinante na realização da operação. Único acionista da SSP, Silvio Santos ofereceu como garantia para o pagamento do empréstimo todas as cinco empresas ligadas diretamente à holding - a rede de televisão SBT, a fabricante de cosméticos Jequiti, a Liderança Capitalização, o Baú da Felicidade e o próprio Panamericano. As garantias foram calculadas em R$ 2,7 bilhões, tendo por base a avaliação patrimonial dos números contidos nos balanços. Gabriel Jorge Ferreira, presidente do conselho de administração do FGC, diz que o valor econômico do grupo pode superar os R$ 2,7 bilhões.

"Atuo no sistema financeiro há 50 anos e nunca vi nada parecido, um empresário financeiro entregar seu patrimônio para evitar uma liquidação. Em geral eles fazem o oposto, uma blindagem. Foi um comportamento exemplar", disse Ferreira, que além de presidir o conselho do FGC é um ex-presidente da Febraban e um ex-vice-presidente do Unibanco. "Ele está muito impactado emocionalmente, mas negociou pessoalmente todos os itens, já que está pagando pelo erro de confiar a empresa a gestores que não conhecia tão bem. Somente a parte burocrática foi passada a terceiros." Segundo apurou o Valor, Silvio Santos contou com a assessoria do escritório de advocacia Mattos Filho para costurar o acordo com o FGC.

Um taxista que trabalha no ponto embaixo do edifício que abriga a sede do FGC, em São Paulo, chegou à conclusão de que o FGC era "uma empresa do seu Silvio". Para negociar o resgate de seu banco, o empresário esteve pessoalmente na sede do fundo mais de dez vezes, em reuniões que duraram de cinco a seis horas. A primeira vez em que o empresário pisou no 12º andar do número 210 da avenida Faria Lima foi em 11 de outubro, já determinado a dispor de todo o seu patrimônio para amarrar um salvamento do banco.

Foram tantos encontros que, ao longo deles, Gabriel Jorge Ferreira e Silvio Santos desenvolveram o hábito de trocar sugestões de filmes. O empresário fez uma lista das recomendações e, ao final da montagem do salvamento, havia visto todos. Entre eles, "A felicidade não se compra", de Frank Capra, um clássico que conta a história de um valoroso empresário que resolve se matar depois de ser vítima de um banqueiro desonesto que destruiu seu império.

Segundo Ferreira, a ideia é que, ao longo dos dez anos de vigência do empréstimo, o controlador (Silvio Santos) busque interessados na compra das empresas que estão servindo de lastro para a operação. O banco Panamericano é considerado "o ativo mais líquido". Mas nem todas as empresas terão de ser, necessariamente, vendidas. Silvio Santos tentará se desfazer primeiro daquelas com as quais tem menos afinidade pessoal. O SBT, portanto, estaria no fim da lista.

A solução encontrada, ao que parece, foi interessante para ambas as partes. Se tivesse sido decretada intervenção no Panamericano, o FGC seria obrigado a comparecer com as garantias as quais os depositantes têm direito - nesse caso, um montante avaliado em R$ 2,2 bilhões. "Além do efeito perverso sobre o sistema financeiro, isso geraria prejuízo para o fundo", explica Ferreira. "Temos uma situação em que o fundo é credor e, mais ainda, credor com garantias, de bens empresariais que, de acordo com a escritura das debêntures, têm regras de administração para que o patrimônio seja preservado." Os dividendos que venham a ser gerados pelo Panamericano, por exemplo, terão de ser direcionados, automaticamente, para o pagamento das debêntures.