Título: Fundos já mostravam inadimplência
Autor: Adachi , Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2010, Finanças, p. C1

Os fundos de direitos creditórios do Panamericano já indicavam que a qualidade dos financiamentos de veículos feitos pelo banco não era das melhores. Os fundos só se mantinham de pé por causa das recompras que o banco fazia dos créditos que ele mesmo tinha vendido para os fundos. Só no primeiro semestre, o Panamericano recomprou R$ 350 milhões em papéis, sendo que os cinco fundos somavam um patrimônio de R$ 2,9 bilhões. Dois fundos foram liquidados neste ano por decisão dos cotistas. Em um dos casos, os investidores não aprovaram os desenquadramentos do fundo.

Uma dessas carteiras foi o Panamericano Veículos I, que começou a ter problemas visíveis em dezembro de 2008, após a quebra do americano Lehman Brothers. Enquanto o mercado ia bem, a inadimplência era mascarada pela troca de créditos ruins por ativos novos do próprio cedente, o Panamericano. Mas, quando a situação de liquidez se restringiu, os atrasos ficaram mais perceptíveis porque a capacidade de se gerar novas operações de empréstimos pelo banco também ficou comprometida.

Na ocasião, a inadimplência chegou a bater 30,9% da carteira. Porém, considerando as recompras pelo banco dos recebíveis em atraso, esse indicador caiu para 6,6%. Além do aumento da inadimplência, o fundo estava desenquadrado com um perfil de risco maior do que o permitido pelo regulamento. Isso levou a agência de classificação de risco Fitch a por o fundo em observação negativa.

Os problemas com o fundo, segundo um consultor de investimentos, teria levado cotistas a pedir resgate de cotas. O pagamento, contudo, foi feito em parcelas. Os controles de riscos do banco sempre foram ruins, destacou. Ele cita ainda o fato de a cobrança dos créditos ter sido feita pelo próprio Panamericano, com o dinheiro passando pela tesouraria do banco.

Em maio, no último relatório publicado, a Fitch estima que, desde a criação do fundo, em meados de 2007, o banco já tenha recomprado 33,8% dos créditos que ele vendeu por conta de problemas com inadimplência. E a cada recompra, a inadimplência voltava para a carteira do banco.

O maior FIDC, ainda aberto para aplicações, é o Master Panamericano, que também compra recebíveis de veículos. Ao fim de agosto, a carteira tinha patrimônio de R$ 2,1 bilhões e 396 cotistas. Os créditos vencidos e não pagos somavam R$ 32,4 milhões e outros R$ 17,8 milhões estavam provisionados para suprir a conta de devedores duvidosos. Só no primeiro semestre, o banco retirou da carteira do fundo R$ 325,6 milhões. A administração é do próprio banco.

Dentro do balanço do banco, a quantidade de créditos classificados entre "D" e "H", as piores notas segundo o Banco Central (BC), com atrasos entre 61 e mais de 180 dias, já dava pistas de problemas na originação das operações. Ao fim do segundo trimestre, somavam R$ 999,7 milhões, 10,9% da carteira total do banco, de R$ 9,2 bilhões. No período entre abril e junho, a instituição teve prejuízo de R$ 20,9 milhões, como reflexo do aumento da provisão para créditos de liquidação duvidosa em R$ 120 milhões. Houve mudanças no critério de apuração da provisão por orientação do BC.