Título: FGC assegurava R$ 1,8 bilhão em depósitos do Panamericano
Autor: Adachi , Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2010, Finanças, p. C1

O Fundo Garantidor de Crédito (FGC) tem no banco Panamericano R$ 1,8 bilhões em Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGE), instrumento criado no pós-crise financeira global para restabelecer o processo de captações dos bancos pequenos e médios. Essa foi uma das razões, provavelmente a principal, do FGC - fundo privado, formado com recursos dos próprios bancos que têm seus representantes no conselho de administração - ter sido ágil na decisão de emprestar R$ 2,5 bilhões ao Panamericano, por um prazo de dez anos, três de carência e correção pelo IGP-M, sem juros.

O rombo do Panamericano, cujos prejuízos decorrentes de pagamento de juros elevados na captação estavam sendo cobertos pela contabilização das operações de cessão de carteiras como ativo, como se estas não tivessem sido vendidas a outros bancos, acabou sendo solucionado pela associação com a Caixa Econômica Federal, que pagou R$ 739 milhões pela compra de 36,6% do capital da instituição no ano passado. Com essa operação, o banco do empresário Silvio Santos passou a captar a juros mais baixos e a interromper a produção sistemática de prejuízos operacionais. Para o controlador, porém, a solução veio tarde.

As auditorias feitas por ocasião da negociação com a Caixa não detectaram qualquer problema no banco. E, embora a contabilidade irregular já viesse de alguns anos, o BC só agora descobriu a dupla contagem das carteiras de crédito vendidas a outras instituições. Falha da fiscalização do BC? A instituição afirma que não. O que a autoridade monetária explica é que não é sua função auditar balanços de bancos na medida que uma auditagem significaria que o BC está avalizando aquele bancos e, portanto, não há risco para os investidores. Seu mandato seria um pouco diferente - garantir a higidez do sistema financeiro no que se refere a índices de alavancagem, padrões de liquidez, análises de risco de crédito. As auditorias independentes também terão que se explicar.

Para a CEF, o risco foi grande. O banco federal poderia ter perdido R$ 739 milhões ao comprar uma instituição com tal nível de problema sem saber. Como o FGC entrou com R$ 2,5 bilhões e o controlador entregou todo seu patrimônio, inclusive o sistema de televisão (SBT) - no qual continuará mandando mas num arranjo jurídico em que seus herdeiros não terão direito ao grupo de mídia - a Caixa se salvou de ter o prejuízo. No contrato de venda de parte do capital para a Caixa, Silvio Santos se comprometeu em assegurar o nível de capitalização que o banco tinha no momento da operação. Agora, ele vai ter que vender o que restou da instituição para pagar o FGC.

Na avaliação do órgão regulador do sistema financeiro, é importante que os investidores tenham plena consciência de que há risco no mundo dos bancos e que esse risco tem que ser precificado. Essa é, aliás, uma das recomendações do Comitê da Basileia.

Os envolvidos na operação de salvamento do Panamericano acham que deixar quebrar sairia muito mais caro do que o empréstimo concedido. Não sairia por menos de R$ 8 bilhões a R$ 10 bilhões, estimam, considerando os prejuízos para a CEF, para o FGC, e para todo os demais clientes.