Título: Boom imobiliário estimula mercado de drywall no país
Autor: Ambrosio , Daniela D
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2010, Empresas, p. B8

A pressa das construtoras em entregar seus imóveis e a nova onda de apartamentos flexíveis - nos quais o morador escolhe o modelo da planta - está movimentando o segmento de drywall, as paredes de gesso. Com um consumo ainda muito baixo no Brasil quando comparado a outros países, e mais restrito ao alto padrão, os fabricantes procuram investir em novas tecnologias e aplicações, além da parceria com as construtoras para disseminar o uso do produto no Brasil. De qualquer forma, a resposta da demanda já reflete no aumento das vendas e até na ampliação da capacidade produtiva de algumas fábricas. No país, são três multinacionais que atuam no setor e dividem o mercado com participações muito próximas, na casa de 30% : a francesa Lafarge, a alemã Knauf e a Placo, do também francês Saint Gobain. Uma quarta fabricante, de capital nacional e menor porte, a Trevo Drywall, opera em Juazeiro do Norte (CE) e não integra a associação do setor no país. Para este ano, a meta da indústria é fechar com aumento de 25% a 30% nas vendas.

A Lafarge, há 15 anos no mercado brasileiro, pretende crescer 15% este ano no país. Segundo Mário Castro, presidente da divisão de gesso da Lafarge, as construtoras já representam 25% das vendas e foi o canal que mais cresceu no ano passado, com um aumento de 40%. A empresa criou uma equipe de vendas própria para atender o segmento. "Estamos focando nas construtoras porque elas abrem mercado no futuro para as reformas", afirma Castro. "Por conta da necessidade da velocidade da entrega dos imóveis, todas as grandes construtoras voltaram a usar drywall e o mercado começa a se abrir para as pequenas e médias", acrescenta o executivo da Lafarge.

A divisão de gesso tem um faturamento equivalente a 10% do grupo Lafarge, o que representa cerca de R$ 150 milhões no Brasil este ano. A companhia francesa tem duas fábricas no Brasil, ambas localizadas em Pernambuco, nas cidades de Petrolina e Araripina.

A Placo, que também está há 15 anos no país, espera crescimento entre 15% e 20% este ano. A empresa, que já havia ampliado em 15% a capacidade produtiva de sua fábrica em Mogi das Cruzes (SP) no ano passado, vai atingir uma expansão de 50% este ano, chegando a 22 milhões de m2 de placas de gesso por ano. "A forte retomada do setor de construção civil nos fez adiantar os investimentos", diz Sandro Maligieri, diretor-geral da Placo. A empresa vai investir 35% do seu faturamento anual - que não revela - na ampliação. A Saint Gobain está reunindo várias áreas de materiais de construção, inclusive gesso, para desenvolver produtos mais baratos para imóveis populares.

Já a Knauf, última entre as multinacionais a chegar ao Brasil, começa a estudar planos de expansão, que podem ser executados em dois anos. Por enquanto, de acordo com o presidente da companhia alemã, o complexo industrial de Queimados (RJ), inaugurado em 1999, tem capacidade instalada para atender à demanda crescente - hoje, as linhas podem produzir 13 milhões de metros quadrados ao ano. Além disso, a Knauf tem concentrado cada vez mais suas vendas no mercado interno, uma vez que as exportações deixaram de ser interessantes sob as atuais condições de câmbio. "Neste ano, devemos exportar a metade do que foi em 2009", diz Gunter Leitner, presidente da alemã e da Associação Brasileira dos Fabricantes de Chapas para Drywall.

Apesar da perspectiva positiva, os produtores sabem que têm um árduo trabalho pela frente: derrubar o estigma de que o drywall é um produto caro e não oferece resistência e isolamento adequados. "Isso ocorre por conta da comparação errada. O drywall pode ser mais barato, por conta da rapidez que confere às obras, e é o único que atende a todas as normas", defende Gunter Leitner. Nas salas nacionais de cinema, predomina o sistema de drywall, equipado com isolantes térmicos e acústicos. "Também por isso, as indústrias começam a usar a tecnologia."

Além de ser uma construção mais rápida e limpa - sem a formação de entulhos e portanto, também, mais sustentável - a parede de gesso é mais fina e leve que a alvenaria convencional, o que diminui o gasto com estruturas e fundações. São justamente essas vantagens para as construtoras que fazem com que o produto ainda encontre uma certa resistência no mercado. Parede fina passa a impressão de isolamento acústico menor. "A culpa é da parede, mas o barulho passa por conta de uma série de outros itens, como laje, portas e janelas", diz Castro, da Lafarge. Para mudar essa imagem, as empresas comemoram o fato de o drywall ter sido o primeiro sistema construtivo a atender as normas térmicas e acústicas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), criadas este ano.

O mercado estima que o índice de adoção do sistema drywall no mercado imobiliário residencial esteja entre 10% e 15% em relação aos sistemas tradicionais de alvenaria, principalmente no médio e alto padrão. Se considerados também os projetos de baixa renda - onde o produto ainda é pouco usado - essa participação não passa de 5%. Já nos imóveis corporativos, as paredes de gesso representam 80% das divisórias internas.