Título: Advogado da filha de Serra fará apuração paralela
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2010, Política, p. A11

De São Paulo

A filha e o genro do presidenciável tucano José Serra prestaram depoimento ontem na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo no inquérito que apura o vazamento de dados sigilosos pela Receita Federal.

Veronica Serra e Alexandre Bourgeois tiveram seus sigilos violados por meio de uma procuração falsa, utilizada pelo técnico em contabilidade Antônio Carlos Atella Ferreira.

Segundo o advogado de Veronica, Sérgio Rosenthal, o delegado que preside o caso, Hugo Uruguai, sinalizou que vai indiciar Atella pelo uso de procurações falsas. Rosenthal afirmou que a defesa também vai fazer uma investigação paralela sobre o caso, mas não deu detalhes de como isso será feito.

Questionado se a investigação paralela mostra desconfiança no trabalho da polícia, ele disse que confia na PF e que pretende apenas auxiliá-la. "Nós pretendemos acompanhar essa investigação e realizar uma investigação, inclusive, paralela e muito minuciosa para que possamos descobrir qual foi a utilização dessas informações sigilosas", disse. Segundo ele, o primeiro passo será obter a cópia integral do inquérito para analisar os passos que já foram dados.

Ele disse que o delegado informou que a Justiça Federal já autorizou a quebra do sigilo telefônico de Atella. Segundo Rosenthal, também já foram colhidos o material grafotécnico de Veronica e de seu marido para iniciar a perícia das assinaturas das procurações.

Rosenthal foi perguntado se, para a defesa, já estava caracterizado que houve um crime político. "É muito difícil dizer que se trata de um crime político", disse. Entretanto, ele afirmou que é possível inferir. "Me parece que o fato de terem sido violados os sigilos da filha e do genro de um candidato a presisência, assim como de outras pessoas ligadas a um partido político, que por sinal é o maior partido de oposição atualmente, parece que é possível inferir que há sim uma conotação política nesses fatos", disse.

Veronica e Bourgeois, segundo a defesa, afirmaram não conhecer Atella, o office boy Ademir Estevam Cabral, que supostamente teria pedido ao contador os dados dois dois, entre outros envolvidos no caso. Eles foram ouvidos por cerca de uma hora na sede da PF e deixaram o local sem falar com a imprensa.

O documento solicitando acesso aos dados de Veronica tinha registro em cartório onde ela não tem firma reconhecida, carimbo que o tabelião afirma ser forjado e assinatura que ela própria não reconhece.

Com o documento falso em mãos, em 30 de setembro de 2009, a servidora Lúcia Milan, da agência da Receita Federal em Santo André, coletou as declarações de Imposto de Renda de Veronica referentes aos exercícios de 2007 a 2009, e repassou-as a Atella no mesmo dia.

O contador revelou ao "Jornal Nacional" o nome de um dos responsáveis por supostamente lhe pedir os dados: o office boy Ademir Estevam Cabral, que nega ter qualquer ligação com a quebra de sigilo de Veronica. Bourgeois teve seus dados cadastrais acessados pela agência do fisco em Mauá.