Título: Analistas reduzem previsões para PIB do 2º tri
Autor: Lamucci, Sergio; Villaverde, João
Fonte: Valor Econômico, 22/07/2010, Brasil, p. A3

de São Paulo

O resultado decepcionante de indicadores importantes como a produção industrial e as vendas no varejo evidenciam uma forte desaceleração da atividade econômica a partir de abril, levando a uma onda de redução das estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre. A expectativa hoje é de uma alta entre 0,4% e 0,8% em relação ao primeiro, feito o ajuste sazonal, um ritmo muito mais fraco que os 2,7% registrados no primeiro. Há algumas semanas, vários analistas ainda estimavam uma alta próxima a 1% ou até mais no segundo trimestre. Por enquanto, porém, ainda não há um movimento generalizado de diminuição das projeções para o PIB do ano de 2010.

Os economistas do Itaú Unibanco, que calculam a variação do PIB mensalmente, avaliam que houve duplo recuo na comparação com o mês anterior: em abril, de -0,4%, e maio, de -0,2%. Para Aurélio Bicalho, economista do banco, o resultado veio abaixo das expectativas na indústria e no comércio, o que fez o Itaú Unibanco reduzir a estimativa de avanço do PIB entre abril e junho - de 0,8% para 0,5% sobre o primeiro trimestre. "Mas no ritmo em que se expandem o crédito e o mercado de trabalho, a economia deve compensar no segundo semestre esses fatores transitórios, que explicam a desaceleração do segundo trimestre", diz Bicalho, que mantém a previsão de 7,5% para o PIB do ano.

Há dez dias, o departamento econômico do Bradesco revisou a sua projeção de crescimento no segundo trimestre de 1,3% para 0,8%. "Após quatro trimestres de um crescimento médio de 3,9%, as vendas do varejo ampliadas devem ter registrado queda de 0,9% no segundo", escrevem os economistas do banco. Números preliminares do Bradesco apontam que, depois da queda em abril e da estabilidade em maio, a produção industrial recuou em junho 0,8% em relação ao mês anterior. Apesar do resultado fraco, a indústria deverá avançar 1,5% sobre o primeiro trimestre, porque a média de abril a junho ficará superior à dos três meses anteriores. Antes, a expectativa do banco era de uma alta na casa de 2%.

Para os analistas do Bradesco, além da antecipação do consumo no primeiro trimestre, provocada pela iminência do fim do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido para bens como veículos, pode estar em curso também uma "canibalização" entre os bens duráveis e os imóveis. Quem compra uma casa muitas vezes faz algum esforço inicial de poupança e reduz a taxa de consumo para se adaptar ao novo fluxo de caixa, dizem eles. Depois do forte resultado do primeiro trimestre, o banco chegou a apostar em crescimento de 1,3% no segundo trimestre e num PIB de 7,7% para o ano, números que foram rebaixados para, respectivamente, 0,8% e 7,5%.

O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, é um dos que apostavam na desaceleração expressiva do PIB no segundo trimestre. Ele acredita hoje numa expansão de 0,7% sobre o primeiro, número que chegou a ser de 1%. Para ele, a antecipação de consumo induzida pelas reduções temporárias de IPI funcionaram como um freio natural da atividade no segundo trimestre. "O PIB no primeiro trimestre não podia ser extrapolado para o resto do ano", afirma Borges, que espera uma alta de 6,6% em 2010. Para a segunda metade do ano, ele aposta numa alta média de 0,8% por trimestre, "contido já pelo impacto contracionista da política monetária".

"Do jeito que o mercado está reagindo, parece que ninguém esperava uma desaceleração depois do primeiro trimestre", diz Fernando de Paula Rocha, economista da JGP Gestão de Recursos. Para ele, o ritmo real da economia não ocorreu nem no primeiro trimestre - inflado pelos incentivos à produção e ao consumo - tampouco no segundo - quando os incentivos foram retirados e a Copa do Mundo ainda provocou "semiferiados nacionais". O economista mantém projeção de 7,5% para o ano. "Antes eu estava mais para 8%, agora estou mais para 7%".

O economista Juan Jensen, da Tendências Consultoria, mantém a sua projeção de uma alta de apenas 0,4% no segundo trimestre, um dos números mais conservadores do mercado. "Acreditávamos numa desaceleração forte a partir de abril, por causa da antecipação de consumo no primeiro trimestre, mas ela tem sido até mais forte do que esperávamos, especialmente na indústria", afirma ele, que projeta expansão de 6,6% no PIB.