Título: Banco segura taxa apesar do custo maior de captação
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2010, Finanças, p. C3

De Brasília

Mesmo apertados pelo aumento do custo de captação, os bancos continuam segurando as taxas de juros praticamente estáveis. Em contrapartida, os spreads continuam caindo e já estão no segundo menor nível da série histórica do Banco Central, iniciado em junho de 1994. Os juros para as pessoas físicas subiram 0,1 ponto percentual, para 41,1% ao ano. Para as empresas, a taxa permaneceu estável em 26,3% ao ano. Já os spreads para o consumidor caíram 0,2 ponto percentual, para 29,5. Nas linhas para empresas, o spread recuou 0,3 ponto, 16,8 pontos.

O movimento dos bancos se deve em parte a uma maior concorrência no pós-crise, especialmente nas linhas voltadas às pessoas físicas. Mas a queda da inadimplência, um dos fatores de maior peso na composição das taxas de juros, amorteceu o aumento da Selic. "A elevação do custo de captação reflete um aumento na curva de juros futuros antes mesmo do aumento da taxa básica de juros. Mas como tem caído a inadimplência, o spread também vem caindo", disse chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Para Lopes, essa é uma tendência que deve se manter, já que os atrasos devem continuar apresentando redução nos próximos meses. Os calotes acima de 90 dias estão em 3,9%, vindo de 4,3% do fim do ano passado. Nas linhas para o consumo, os calotes somam 6,8% da carteira, contra 7% do mês anterior, enquanto entre as empresas o nível é de 3,6%, estável.

O segmento de taxas flutuantes para empresas foi o que apresentou maior queda, de 0,5 ponto, para 16,6% ao ano. Não por acaso, esse é o nicho que hoje apresenta a maior competição entre os bancos, afirma Walter Malieni, diretor de crédito do Banco do Brasil. "Os bancos privados voltaram ao mercado e a concorrência hoje está mais forte no segmento de grandes empresas", disse.

Os dados do BC apontam ainda que spread menor segue influenciando os custos cobrados em maio. Dados preliminares para os nove primeiros dias úteis deste mês mostram o spread estabilizado em 23,8%. O volume global de crédito do sistema financeiro aumentou 1,1% na passagem de março para abril, para R$ 1,468 trilhão, o correspondente a 45,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Um mês antes, o estoque de empréstimo se encontrava em R$ 1,451 trilhão, ou 45% do PIB. Em abril de 2009, essa relação era de 41% do PIB. Nos 12 meses até abril deste calendário, houve acréscimo de 17,6%.

A parcela de empréstimos com recursos livres ficou em R$ 981,2 bilhões em abril, elevação mensal de 0,9% e aumento de 11,7% em 12 meses. A parcela de crédito com recursos direcionados, como financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), créditos habitacional e rural, situou-se em R$ 487 bilhões, ampliação de 1,6% no mês e de 31,6% em 12 meses.

Para Lopes, a expansão do crédito reflete o aquecimento econômico. Isso fica claro quando se toma o crédito direcionado, tomado por empresas, cujo ritmo tem acelerado nos últimos meses. A uma taxa de 31,6% nos 12 meses terminados em abril, a expansão do direcionado é quase o dobro dos 17,6% registrados em período igual para o crédito global. Segundo ele, a escassez de liquidez internacional, aliada à trajetória dos juros em queda até o início deste mês, estimulava a ampliação de financiamentos a empresas com recursos internos. Esse lastro doméstico cresceu 16,5% em 12 meses até abril, enquanto o crédito com recursos externos recuou 37,7%.

Luiza Betina Petroll Rodrigues, da equipe de análise do Santander, diz que as novas concessões registraram queda de 2,3% em relação ao mês anterior (dados ajustados sazonalmente pelo banco). "Já esperávamos queda em abril nas linhas para o consumo por conta do fim dos incentivos fiscais." (Colaborou Azelma Rodrigues)