Título: Aliados neutralizam oposição na CPI do MST
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2010, Política, p. A7

A base governista conseguiu neutralizar a tentativa da oposição em fazer da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) um palco de ataques a um dos principais movimentos sociais que apoiam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os governistas utilizaram-se da mesma estratégia da oposição - de fazer uma devassa nas contas do movimento - e apresentaram diversos requerimentos de quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico de entidades ruralistas e de seus representantes, além de empresários ligados ao agronegócio.

Também aproveitou-se do objeto descrito no fato determinado da CPI - "analisar e diagnosticar a estrutura fundiária agrária brasileira e, em especial, a promoção e execução da reforma agrária" - para levar os debates a uma comparação entre o que foi feito na área agrícola no governo atual e no do antecessor, Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

O resultado foi que, dos mais de 160 requerimentos apresentados à comissão, 66 foram aprovados por unanimidade. São esses pedidos que darão o ritmo dos trabalhos nos próximos meses. Entre os destinatários desses convites, estão acadêmicos, religiosos e especialistas ligados a questão agrícola e fundiária brasileira. Até o presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes, será convidado a apresentar dados do Censo Agropecuário de 2006, com números favoráveis ao governo petista.

Ficaram de fora pedidos de quebra de sigilo das organizações acusadas de financiar o MST; convocações de envolvidos na ocupação da fazenda do empresário José Luís Cutrale no ano passado, fato que propiciou a formação da CPI; convocação do ex- ministro Tarso Genro (Justiça) e pedidos de informações relativas a encontros entre líderes do MST e ministros de Estado.

Por outro lado, os ruralistas conseguiram evitar que fossem pedidas quebras de sigilo em suas principais instituições, como a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), além de impedir que fossem convidados a depor empresários ligados ao agronegócio, como fazendeiros envolvidos em acusações de empregar trabalhadores em situação análoga à escravidão. São citados nos requerimentos o Grupo Cosan e Companhia Brasileira de Açúcar e Álcool, duas das maiores usinas de álcool do país.

Serão convidados a depor o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Ubiratan Aguiar; o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa; o procurador-geral da República, Roberto Gurgel; o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel; e o presidente do Incra, Rolf Hackbart. Também foram convidados representantes das organizações de trabalhadores que realizaram convênios com órgãos do governo, além de representantes desses órgãos, em sua maioria ministérios. Também foram pedidas cópias dos convênios firmados.

De acordo com o relator da CPI, deputado Jilmar Tatto (PT-SP), o cronograma de trabalho reflete o objeto previsto no requerimento de instalação da comissão. "Vamos investigar os convênios e discutir a questão agrícola do país", disse o deputado, que pretende apresentar seu relatório em junho.