Título: Maestro fora da orquestra
Autor: Tahan, Lilian; Maciel, Nahima
Fonte: Correio Braziliense, 10/06/2010, Cidades, p. 36

Caixa de Pandora

O regente Ira Levin ¿ que recebia R$ 40 mil mensais de uma associação abastecida por emendas parlamentares apresentadas pela sogra, a distrital Eurides Brito ¿ perdeu o vínculo com a Sinfônica do Teatro Nacional, mas continua a conduzir ensaios

Ira Levin não é mais o regente da Orquestra Sinfônica de Brasília. Com o cancelamento do convênio entre a Secretaria de Cultura e a Associação de Amigos Pró-Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, o vínculo entre o maestro e a orquestra foi interrompido. O problema é que Ira permanece conduzindo os ensaios e regendo concertos, mesmo a contragosto da maioria dos músicos que reivindica a saída definitiva do maestro. A permanência dele à frente da orquestra, segundo o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), configura uma ilegalidade. Como revelou o Correio em março,

Ira Levin recebia salário de R$ 40 mil da Associação de Amigos Pró-Orquestra. A entidade era abastecida com dinheiro de emendas parlamentares apresentadas pela distrital afastada Eurides Brito, uma das investigadas na Operação Caixa de Pandora. Ela é a sogra de Ira Levin.

Numa assembleia realizada na manhã de ontem, a Associação dos Músicos da orquestra (Amus-OSTCNS) decidiu elaborar um documento oficial em que pede o afastamento, de fato, de Ira Levin. Compareceram à reunião 40 músicos, 36 dos quais votaram pelo encerramento dos trabalhos do regente e quatro se manifestaram por sua permanência. Os músicos estão preocupados de a instituição ser associada a supostos esquemas de corrupção e não aceitam mais o comando de Levin. ¿Não há mais condições morais para ele continuar regendo até que os fatos sejam esclarecidos e seja provada a inocência do maestro¿, diz Afonso Galvão, primeiro-secretário da Amus.

Não bastasse a reação da própria classe, no início da tarde de ontem, a vice-presidente da Comissão de Ética da Câmara Legislativa, Érika Kokay (PT), entrou com uma representação no Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) pedindo auditoria nos repasses feitos à Associação Pró-Amigos da Orquestra. A distrital também propõe que Ira Levin fique definitivamente à parte da rotina de concertos enquanto durarem as investigações. Em abril, a Comissão de Ética convocou Ira Levin e o músico Joaquim França para tratar sobre a relação entre a Secretaria de Cultura e a entidade que, desde 2007, recebe recursos públicos.

Na última segunda-feira, Joaquim França compareceu à Câmara e disse estar convicto de que, com orçamento reduzido e recursos limitados, a orquestra realizou mais entre 1999 e 2006, sob regência de Silvio Barbato, do que nos últimos quatro anos, quando esteve sob a batuta de Ira Levin. ¿Com orçamento que vinha só da Secretaria de Cultura, de mais ou menos R$ 30 mil por ano, a orquestra fez muito mais do que com a verba dessa associação¿, garante França.

Em 25 de março, reportagem do Correio revelou que, de 2007 e 2010, a distrital afastada Eurides Brito destinou R$ 10,5 milhões em emendas parlamentares para a Associação de Amigos Pró-Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional. Desse valor, R$ 5,9 milhões foram liberados para a entidade considerada, por meio de um projeto de lei também de autoria da deputada, de utilidade pública. Entre outras atribuições da Associação, estava a de pagar o salário de R$ 40 mil ao maestro Ira Levin.

Licitação A alegação da deputada ao turbinar a associação ¿de utilidade pública¿ era a de prover recursos para a Orquestra Sinfônica. Mas três pareceres elaborados pela Procuradoria-Geral do Distrito Federal em 2007, 2008 e 2009 orientaram que o vínculo entre a associação e a Orquestra Sinfônica deveria ser feito por meio de licitação, a menos que houvesse argumentos capazes de justificar a assinatura de convênio com a dispensa de concorrência pública, o que não ocorreu. Por esse motivo, o MPDFT ordenou o cancelamento do convênio entre e a Secretaria de Cultura e a associação que banca o salário de Ira.

Nas últimas três semanas, os músicos trabalharam com regentes convidados. A última apresentação de Levin à frente da orquestra foi em 25 de maio, mas o maestro tem concerto marcado para a próxima semana. ¿Só que vínculo com a orquestra, ele não tem mais nenhum¿, aponta Afonso Galvão.

A deputada Eurides Brito esteve ontem na Secretaria de Cultura para pedir apoio aos músicos em relação à permanência do maestro, mas os instrumentistas se recusaram a recebê-la. ¿Não temos nada para conversar com ela¿, garante Galvão. ¿A orquestra decidiu repudiar a associação (Associação Pró-Amigos da OSTNCS), não queremos envolvimento e não temos mais condições de trabalhar com o Ira. É completamente inapropriado¿, diz o fagotista Gustavo Kolberstein, presente à assembleia de ontem.

O secretário de Cultura, Silvestre Gorgulho, afirma que Ira não está recebendo mais o salário da orquestra e que tem prestado um trabalho voluntário. ¿Ele não parou o trabalho porque é comprometido¿, afirma Gorgulho. O secretário deve consultar a Procuradoria-Geral do DF na tentativa de encontrar uma forma legal de manter o maestro até o fim do ano.

REFORÇO NO PEDIDO DE INTERVENÇÃO A procuradora-geral da República em exercício, Deborah Duprat, enviou ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) um parecer para confirmar o pedido de intervenção federal no DF. Na opinião de Duprat, a intervenção tem o objetivo de ¿refrear abusos, instituir criteriosa fiscalização e rigoroso saneamento, afastando em definitivo qualquer nódoa que venha conferir descrédito aos poderes Legislativo e Executivo¿. Em resposta ao STF, a Procuradoria do GDF e a da Câmara Legislativa sustentam que o pedido de intervenção perdeu o objeto, já que teria ocorrido anteriormente à realização das eleições indiretas. Na visão de Deborah Duprat, porém, ainda não há como se falar em restauração da normalidade das instituições: ¿Apesar de debates, incursões, decisões esparsas, alterações na Lei Orgânica e eleição indireta, em verdade, nenhuma medida concreta foi realizada pela Câmara Legislativa, o que só ocorrerá se a Suprema Corte fizer valer a Constituição para reafirmar o princípio republicano¿.

O casamento de Durval Barbosa

Ana Maria Campos

Flagrado recentemente numa feira de noivas na capital do país, o homem-bomba do Distrito Federal, Durval Barbosa, se casou na noite de terça-feira, numa cerimônia íntima, com Kelly Melchior. Separado da segunda mulher, Fabiani Barbosa, com quem trava uma disputa judicial em torno da mudança do prenome do filho caçula, Durval Barbosa Rodrigues Filho, o ex-secretário de Relações Institucionais do GDF decidiu tornar oficial um romance que sempre fez questão de exibir.

Kelly Melchior acompanhou Durval no depoimento prestado em fevereiro à CPI da Codeplan na Câmara Legislativa, onde recebeu uma declaração pública de amor, e também na Superintendência da Polícia Federal, quando o noivo foi inquirido pela deputada distrital Érika Kokay (PT) no curso do processo por quebra de decoro parlamentar contra Eurides Brito (PMDB). O noivado de Durval foi brindado com champagne no restaurante Trattoria da Rosario, no Lago Sul, há dois meses, na companhia do jornalista Edson Sombra e da mulher dele, Wânia Luiza.

O local escolhido para o noivado foi o mesmo em que numa das mesas o então governador José Roberto Arruda, ao lado do advogado José Eduardo Alckmin, fez a última refeição antes de ser preso, em fevereiro, sob acusação de tentativa de suborno a Sombra. A suposta propina serviria para que o amigo de Durval alterasse provas do Inquérito nº 650, em curso no Superior Tribunal de Justiça (STJ), conhecido como Operação Caixa de Pandora. Durval não divulgou o local da cerimônia de matrimônio. Este é seu terceiro casamento. Nos depoimentos prestados na Operação Caixa de Pandora, o colaborador da Justiça e do Ministério Público disse que um dos motivos para a decisão de delatar o suposto esquema de corrupção no governo Arruda foi uma crise conjugal, no primeiro semestre do ano passado, com a então mulher.

Lavagem de dinheiro A loja da ex-mulher de Durval, a Dot Paper, no Gilberto Salomão, foi alvo de busca e apreensão na Operação Megabyte, em junho de 2008, quando o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) apurava indícios de lavagem de dinheiro desviado dos contratos de informática do GDF. Parentes de Fabiani também foram investigados. No ano passado, o casal se separou e ela ficou com a ampla casa no Lago Sul, onde policiais também apreenderam documentos e computadores. Depois da separação, Fabiani entrou com uma ação na Vara de Registros Públicos na qual pede para mudar de Durval para Eduardo o nome do filho que teve com o ex-secretário de Relações Institucionais. A criança tem 2 anos.

Após as denúncias, Durval e Sombra tentam retomar a vida normal. Quando estava ontem numa clínica médica no fim da Asa Sul, Sombra esbarrou com o pivô da crise que provocou a prisão de Arruda, o ex-conselheiro do Metrô-DF Antônio Bento. Os dois tiveram uma conversa sem agressões e até trocaram números de telefone. Bento passou dois meses na Papuda sob acusação de intermediar o suposto suborno.