Título: Aproximação entre Dilma e aliados isola candidatura Ciro
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2009, Política, p. A6

As conversas da candidata do PT à Presidência, ministra Dilma Rousseff, com os partidos aliados, desidrataram a candidatura presidencial do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), avaliam coordenadores políticos da campanha petista, o que apressa a definição de sua candidatura ao governo de São Paulo, em aliança com o PT. Este foi o caminho traçado desde o início pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estratégia que não excluía a insistência do deputado em manter-se na corrida ao Palácio do Planalto, para expor-se nacionalmente. Lula argumentou com auxiliares que Ciro deveria continuar em campanha nacional, até o quadro ficar mais claro. Um dos problemas era enquadrar o PT de São Paulo para aceitar o PSB na liderança da chapa, o que começou a ser uma realidade desde sexta-feira.

"Lula espera que a "resposta" oficial do PSB seja dada apenas em fevereiro de 2010", disse um aliado da candidatura de Dilma, dando sinais de que Ciro pode continuar, até lá, expondo-se nacionalmente.

A data remete ao 4º Congresso Nacional do PT, que ratificará a candidatura de Dilma a presidente e definirá também as políticas de alianças estaduais. Lula defende a candidatura de Ciro ao governo de São Paulo para transformar a eleição nacional em uma disputa plebiscitária entre Dilma e um candidato do PSDB, de preferência o governador paulista, José Serra. Ciro transferiu o domicílio eleitoral para São Paulo, mas, por enquanto, tanto ele quanto seu partido não admitem ainda que desistirão da disputa presidencial. "Vamos ver como estarão as coisas em fevereiro do ano que vem, não temos pressa nenhuma", disse um dirigente do PSB.

A estratégia do PT de antecipar as conversas com os demais partidos da coalizão - a aliança com o PMDB é preliminar mas é uma indicação para a Convenção Nacional em junho de 2010. Falta um encontro com o PP, os demais partidos da aliança de Lula estão no arco de apoio a Dilma. Isto deixou o PSB sem margem para composições políticas futuras. "Pouco a pouco, a candidatura presidencial de Ciro vai ficando isolada e perde viabilidade eleitoral", afirmou um aliado de Dilma, mostrando que o desenho traçado inicialmente pelo presidente Lula vem se completando. A ofensiva foi favorecida, na visão de petistas influentes no governo, também pelo estilo "pouco agregador" de Ciro Gomes.

O parlamentar cearense teria trânsito difícil na coalização devido a seus arroubos verbais. "Ciro tem um histórico político que o afasta de diversos aliados. Tome como exemplo as duras declarações que dá a respeito do PMDB", lembrou um petista próximo do presidente. Na negociação de alianças para o governo de São Paulo, o universo de conversas é menor e enseja menos atrito.

Dilma realizou bem, nesta avaliação, os passos necessários a se tornar a candidata da polarização. Além de promover ampla pré-aliança e afastar Ciro da disputa presidencial, a ministra mudou radicalmente seu comportamento e desempenho na política. A ministra diminuiu a sisudez, passou a brincar nas reuniões com deputados e senadores e a ter contato mais afável com plateias. "Não estamos aqui para falar de PAC, pré-sal ou para mostrar PowerPoint. Estamos aqui para conversar sobre política e sobre o Brasil", disse a ministra em encontro partidário segundo relato de um integrante da cúpula petista.

As avaliações entre petistas apontam dificuldades na formação de alianças para Ciro, mesmo em São Paulo, devido ao estilo pessoal do candidato e sua relação com políticos e eleitores. Numa candidatura presidencial, o PSB também teria pouco a oferecer aos demais partidos que viesse a convidar para a aliança. Seus únicos trunfos aparecem nos estados nos quais a legenda governa - Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Já o PT tem uma militância forte espalhada em todo o país e uma média de 10% a 15% de intenção de voto em praticamente todos os estados.

"É um percentual suficiente para decidir uma eleição, especialmente nos locais onde o PT abrirá mão da cabeça de chapa", confirma um ministro petista.

Em outras unidades da federação, haveria até mesmo a impossibilidade de o PSB oferecer um palanque forte para Dilma e os aliados nacionais. "O PDT nos apoia no plano nacional mas pediu contrapartida no Paraná, onde o candidato deles é o senador Osmar Dias. Como o PSB é vice do prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), a tendência é que eles apoiem os tucanos caso Richa seja candidato ao governo", completou um petista em ascensão no cenário político nacional.

Se o PT nacional queria há tempos minar as chances de Ciro no pleito nacional, o PT paulista começou, no fim de semana, a intensificar os acenos para que ele declare logo a candidatura ao governo estadual. Na última quinta, o grupo petista ligado ao ex-ministro José Dirceu sugeriu os nomes de Emídio de Souza (prefeito de Osasco) e Edinho Silva (presidente estadual do PT e ex-prefeito de Araraquara) como possíveis vices numa chapa PT-PSB.

No dia seguinte, Emídio soltou nota à militância petista defendendo a abertura do diálogo com os demais partidos que compõem a aliança nacional. "Não ajuda nada ficarmos chutando o PSB e o Ciro. A eleição paulista terá papel estratégico na eleição presidencial", afirmou Emídio.

Como o PSB não definirá agora sua posição, a tendência é que o PT lance Emídio como pré-candidato, para facilitar uma aliança futura. "A intenção é evitar que nomes como Marta Suplicy e Aloizio Mercadante resolvam apresentar-se como pré-candidatos ao governo estadual", afirmou um líder petista. No momento, só Marta ainda resiste a abandonar a candidatura próprio do PT ao governo de SP.