Título: Após dez meses, a indústria volta a abrir novas vagas
Autor: Galvão , Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 08/10/2009, Brasil, p. A4

A volta da criação de empregos, em agosto, reforça o movimento de recuperação da indústria. É a primeira vez, em dez meses, que isso ocorre. Além desse novo sinal de retomada do setor, agosto foi marcado pelo recuo da ociosidade, pela melhora do faturamento e pela elevação da utilização da capacidade instalada (UCI). O único contraste ficou com as horas trabalhadas, que ainda não reagiram.

Esse é o quadro apurado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em pesquisa mensal baseada em informações repassadas pelas federações estaduais. Na comparação com julho, o faturamento aumentou 1%, o emprego cresceu 0,7% e o uso da capacidade instalada passou de 79,9% para 80,1%. As horas trabalhadas recuaram 0,2%.

Nas comparações dos indicadores de agosto com os do mesmo mês em 2008, e no confronto dos períodos janeiro-agosto deste ano e do ano anterior, prevalecem ainda as variações negativas, porque essa é a marca da crise econômica mundial.

No faturamento, a queda foi de 3,6% sobre agosto de 2008. Para as horas trabalhadas, o recuo foi de 9,9%, o emprego baixou 4,5% e a massa salarial foi 2,5% menor. No resultado acumulado de janeiro a agosto, a redução foi de 7,9% no faturamento da indústria. Para esse período, também caíram as horas trabalhadas (8,8%), o emprego (3,3%) e a massa salarial (1,7%).

Para o economista-chefe da CNI, Flávio Castelo Branco, o ajuste no emprego industrial deve ter acabado e, portanto, foi mais rápido que o esperado. Antes da crise, foram mais de 30 meses seguidos de criação de postos de trabalho. "A demanda doméstica vem sustentando a recuperação. É bastante provável que, a partir de agora, seja iniciado um novo ciclo de crescimento da atividade, mas ainda não dá para prever qual será a intensidade", comentou.

Além do quadro geral da indústria, o segmento de máquinas e equipamentos também vem apresentando alguma recuperação, mas o economista Marcelo de Ávila, da CNI, afirmou que é cedo para afirmar que o investimento voltou.

A Confederação Nacional da Indústria não tem dados dessazonalizados por setor, mas, nas indústrias de bens de capital, a utilização da capacidade instalada subiu de 78% (julho) para 78,6% em agosto, mas era de 83,8% em agosto de 2008. Na comparação com julho, o faturamento também cresceu 3,8% em agosto nessa área. Com relação ao mês de agosto de 2008, a queda foi de 12,5%. De janeiro a agosto, o faturamento real das indústrias de máquinas e equipamentos caiu 16,9%.

Nas horas trabalhadas, esse segmento teve queda de 0,6% em agosto, se comparadas às de julho. A queda de agosto deste ano, em relação a agosto do ano passado, foi de 22,9%. Também foi apurada redução de 22,2% nas horas trabalhadas do período janeiro-agosto de 2009. De julho para agosto, o emprego cresceu 0,8% nesse segmento industrial. No confronto de agosto com o mesmo mês de 2008, a queda foi de 11,4%. Entre os meses de janeiro a agosto, a redução foi de 8,1% sobre o mesmo período do ano passado.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert, revelou que agosto foi o primeiro mês, desde outubro do ano passado, com registro de contratações. Foram admitidos cerca de 600 trabalhadores em todo o país, o que é muito pouco perto das quase 26 mil vagas fechadas desde que a crise mundial começou. "Ainda estamos na UTI. De janeiro a agosto, a queda no faturamento foi de 25% sobre os mesmos oito meses de 2008", lamentou.

Apesar do discurso, Aubert admite que a perspectiva é positiva para 2010. De acordo com suas explicações, as linhas mais baratas de financiamento de máquinas e equipamentos, no BNDES, começaram a ser contratadas em julho, mas há uma inércia de cerca de 90 dias para os primeiros impactos positivos. Além disso, acredita na força dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no programa habitacional Minha Casa Minha Vida, na produção do petróleo do pré-sal e na demanda para a Copa do Mundo de 2014.

Os Indicadores Industriais da CNI também revelaram que, em agosto, mais três setores tiveram crescimento do faturamento sobre o mesmo mês em 2008: equipamentos de transporte, couros e calçados e produtos químicos. Já tinham essa variação positiva os segmentos de alimentos e bebidas, edição e impressão, minerais não metálicos, têxteis e papel e celulose.

Na análise das horas trabalhadas, em agosto, todos os 19 segmentos acompanhados pela CNI mostraram queda sobre agosto do ano passado. Os economistas da CNI investigam porque isso ocorreu, apesar do aumento do emprego. A média geral da indústria teve queda de 4,5% no emprego, na comparação de agosto com o mesmo mês de 2008. Mas três segmentos ampliaram esse movimento: veículos automotores, metalurgia básica e refino e álcool.

Com relação ao uso da capacidade instalada, Castelo Branco ressaltou que ela ainda está 2,8 pontos percentuais abaixo da média do período pré-crise, o que significa, na sua avaliação, que não há pressões inflacionárias. Imprimir Compartilhar| Brasil: