Título: Preparado para o pior
Autor: Meirelles, Henrique
Fonte: Correio Braziliense, 11/06/2010, Economia, p. 11

Um dia depois de comandar o aumento da taxa básica de juros (Selic), de 9,50% para 10,25% ao ano, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, garantiu que o Brasil está muito mais protegido para enfrentar a atual crise europeia. ¿Nós nos preparamos para o pior¿, disse. Ele ressaltou, porém, que está ¿torcendo para o melhor¿ da Europa e do mundo.

Na opinião de Meirelles, o Brasil, que registrou crescimento de 9% no primeiro trimestre do ano na comparação com o mesmo período de 2009, aprendeu com as crises passadas. ¿Buscamos políticas consistentes e o aperfeiçoamento das instituições¿, assinalou. Isso ficou evidente, acrescentou ele, no auge da crise mundial provocada pelo estouro da bolha imobiliária americana, em setembro de 2008, quando o governo tomou várias medidas anticíclicas, como a redução dos impostos e dos juros, que permitiram ao país sair rapidamente da crise.

Meirelles aproveitou ¿o sucesso¿ para cutucar seu antecessor no BC, Armínio Fraga. Segundo ele, em 1999, quando o Brasil foi obrigado a abrir mão do câmbio fixo para adotar o sistema de taxas flutuantes, em vigor até hoje, o BC teve que aumentar a taxa Selic para 45% ao ano. ¿Pela primeira vez, o governo pôde adotar políticas de estímulo (à economia)¿, disse.

Voz dos emergentes O presidente do BC lembrou que a próxima cúpula do G-20, grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo e a União Europeia, discutirá questões relacionadas à crise mundial. Entre os temas principais, estará a regulação do sistema financeiro global. Ele lembrou que o papel do Brasil no grupo é distribuir a carga do ajuste pós-turbulência entre os países e garantir maior voz aos emergentes. O encontro de cúpula está marcado para este mês, em Toronto, Canadá. ¿O G-20 apresentará um conjunto de sugestões para ações específicas, como redes de proteção financeira, para fortalecer a capacidade dos países de lidarem com a volatilidade dos fluxos de capital¿, disse.

O grupo também pretende avançar no campo regulatório, tornando-o mais seguro e transparente, revisar os limites e padrões da liquidez dos bancos, fortalecer a supervisão dos fundos de hedge (altamente especulativos), controlar os negócios com derivativos e debater a questão da supervisão das instituições sistemicamente importantes. ¿O Brasil tem, no G-20, o objetivo de promover a cooperação internacional e garantir a distribuição do esforço de ajuste das economias¿, afirmou, em evento em São Paulo.

Outro objetivo brasileiro no G-20 é realinhar a representatividados organismos internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), para que o Brasil e outros emergentes participem deles de forma mais ativa. Ao concluir, Meirelles voltou a reiterar que a crise fiscal enfrentada pela Europa é séria e ¿preocupa a todos¿.

Pela primeira vez, o governo pôde adotar políticas de estímulo (à economia). Buscamos políticas consistentes e o aperfeiçoamento das instituições¿ presidente do Banco Central

Inflação cai a 0,18%

A inflação medida entre as famílias de baixa renda registrou, em maio, o menor nível do ano: 0,18%. Na avaliação de André Bráz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), a queda deve ser atribuída aos alimentos, que respondem por 40% do orçamento mensal dos lares com renda de até 2,5 salários mínimos. O Índice de Preços ao Consumidor Classe 1 (IPC-C1) foi derrubado pelo açúcar refinado, que ficou 4,33% mais barato, pelas hortaliças e legumes, com baixa de 5,21%), pelas frutas (-1,30%), pescados frescos (-0,85%) e óleos e gorduras (-0,30%). ¿Creio que, para junho, continuaremos a ter um IPC-C1 com taxa baixa¿, afirmou.

Mas Bráz fez uma ressalva. Ao se calcular o núcleo da inflação excluindo os alimentos, pode-se perceber que há um avanço de preços persistente e em trajetória crescente. A taxa deste núcleo saltou de 0,12% em março, para 0,41% em abril e para 0,45% no mês passado, por causa do setor de serviços. ¿Os preços dos serviços entre as famílias de baixa renda, assim como entre famílias com renda mais elevada, estão apresentando altas maiores¿, frisou. Em 12 meses, por exemplo, os serviços de barbearia ficaram 7,35% mais caros e os do salão de beleza, 6,95%.