Título: Abril começa sem sinais de tensão
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2006, Finanças, p. C2

Para um mercado que experimentou, na última semana de março, troca de comandante da economia, temores de mudanças na política econômica e sinais de prolongamento do aperto monetário americano, o horizonte desprovido de tensões descortinado para abril é quase uma miragem. Uma a uma, foram caindo as barreiras ao curso natural dos mercados ainda regidos por forte liquidez global. Os indicadores programados para este semana não prometem interromper o idílio. Amanhã, o IBGE divulga a produção industrial de fevereiro e os economistas prevêem recuperação (alta entre 0,3% e 0,8%) frente ao péssimo resultado de janeiro (baixa de 1,3%). Na quinta-feira, o Banco Central Europeu (BCE) deve optar por manter em 2,5% o juro básico da zona do euro, protelando o temor de reaperto monetário mundial. E, na sexta-feira, o IBGE divulga o IPCA de março, cujos núcleos devem mostrar desaceleração comparativamente aos de fevereiro, apesar de o índice cheio vir (0,46%, na expectativa Focus) mais elevado do que anterior (0,41%) por causa dos combustíveis.

-------------------------------------------------------------------------------- Pregões recuperam curso normal da liquidez --------------------------------------------------------------------------------

Nos EUA, a tendência é de gradual dissipação dos receios relacionados à possibilidade de avanço contínuo dos juros. Isso porque, na sexta-feira, foi divulgado o deflator implícito ao PIB. O seu núcleo acumula alta de 1,8% nos últimos doze meses. Os economistas consideram inflação abaixo de 2% como sob controle, sem requerer cuidados monetários mais intensos. A angústia do Fed e do mercado é mais psicológica do que concreta. Consiste na falta de elementos suficientes para elucidar os efeitos sobre a economia do choque do petróleo. Não se sabe ainda se ele provocará uma onda generalizada de aumento de preços ou uma mera mudança de preços relativos. Nessa segunda hipótese - a mais factível no momento -, os consumidores absorvem uma perda de renda, em termos reais, e as empresas, uma redução de suas margens de lucro. Nesse caso, observa o economista-chefe da Global Invest Asset, Pedro Paulo da Silveira, "os preços, medidos pelo core do CPI, não sobem e a política monetária mantém-se inalterada". Se o Fed conseguir juntar evidências de uma mudança de preços relativos é até bem possível que suspenda a alta de 0,25 ponto que já sinalizou para a reunião de 10 de maio ou, então, eleve o juro para 5% mas indique a suspensão do ciclo de alta. A resolução dessa dúvida tem implicação direta sobre o comportamento do mercado de câmbio doméstico. Se o Fed indicar um cenário de tranqüilidade, os bancos terão de desmanchar suas posições compradas à vista, incompatíveis com a derrubada do dólar futuro em resposta à ampliação da liquidez externa. Na sexta-feira, o dólar fechou em queda de 1,10%, cotado a R$ 2,1650, mesmo assim no mês de março acumulou valorização de 1,26%. Resolvida a questão externa, internamente não há entrave algum. A decisão do CMN de reduzir a TJLP para 8,15% mostra que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não está propenso a arroubos desenvolvimentistas ou anti-mercado. O Banco Central pode prosseguir, sem medo de retaliações, na dosagem ortodoxa de redução da Selic. No mercado futuro de juros da BM&F, o CDI previsto para a virada do ano caiu de 14,99% para 14,97%.