Título: Alckmin tenta evitar tutela na formulação de política econômica
Autor: César Felício e Caio Junqueira
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2006, Política, p. A10

Aliados do governador paulista e pré-candidato a Presidência da República pelo PSDB, Geraldo Alckmin, devem começar a elaborar a partir de abril um embrião do programa de governo do candidato. Será um documento provisoriamente chamado de "Termos de Referência para um Projeto Nacional". A coordenação do trabalho estará formalmente a cargo do Instituto Teotônio Vilella, o órgão de pesquisas tucano, que desde o início do ano está realizando seminários temáticos pelo país. Farão parte da equipe personalidades de fora do partido, uma forma de sinalizar para o objetivo de Alckmin de propor uma coalizão, ao menos para o segundo turno, de todas as forças de oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desta forma, a elaboração do plano do governo serviria também para agregar apoios políticos ao candidato do PSDB. "O objetivo é colaborar para que se faça um plano de governo que revista o candidato de um ideário para consolidar uma maioria no Congresso antes mesmo da posse", disse o secretário estadual de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento e Turismo, João Carlos de Souza Meirelles, um articulador político informal do governador. Deverão participar do trabalho o PFL, caso a aliança entre os dois partidos se concretize, como é provável, entidades como a Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro e a Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte. Alckmin deverá buscar também empresários e sindicalistas. O único critério será a inexistência de vínculo dos consultados com o atual governo federal. "A meta é não trazer ninguém do outro lado", comentou Meirelles. O documento trará diagnósticos e propostas voltados para o desenvolvimento social e para o crescimento econômico de cada um dos 27 Estados brasileiros e para as cinco regiões. É uma forma de conseguir "despaulistizar" o candidato, que nunca fez política fora dos limites de São Paulo. Paralelamente, tratará das questões macroeconômicas centrais. "O foco são as questões locais que formam um Brasil multifacetado, com necessidades específicas conforme o Estado e a região, mas há também as questões transversais, como a agenda de reformas constitucionais, a situação fiscal, a situação cambial, que serão tratadas de forma paralela", afirmou Meirelles. O secretário de Alckmin diz que o candidato do PSDB irá tentar buscar um denominador comum entre os economistas da Casa das Garças - reduto da ortodoxia econômica, dominado pela PUC do Rio - e o grupo de economistas ligados ao partido, como Luiz Carlos Mendonça de Barros e Yoshiaki Nakano, que defendem um afrouxamento na política monetária. "Temos que construir uma proposta a partir daquilo que for consenso, entre as pessoas que estão olhando a história do mesmo lado, sem radicalismo liberal ou pensamento de Estado zero", disse Meirelles. O documento deverá ser concluído em junho, quando a comissão que irá elaborar o programa de governo começar a trabalhar de forma oficial. "Será mostrada uma visão razoavelmente pragmática, colocando o objetivo do crescimento econômico como uma matriz", disse Meirelles. Entre os economistas do PSDB próximos ao prefeito paulistano José Serra, já aparecem vozes otimistas em relação ao que poderá ser o programa de Geraldo Alckmin. José Roberto Afonso, que elabora documentos sobre a situação fiscal do país para o partido e foi colaborador do prefeito, define como "perda de tempo" a tentativa de identificar Alckmin com alguma corrente econômica. Segundo Afonso, qualquer candidato irá procurar o máximo de apoio e jamais optará por uma escola contra outra. O economista afirmou que Alckmin vem dando muito destaque ao tema fiscal. "Esse é um ponto que une praticamente as escolas, por mais divergências macro-econômicas que apresentem", comentou Afonso. Articulador político, na prática, de Alckmin, Meirelles foi seu coordenador geral da campanha em 2002, para o governo do Estado, e tem acompanhado o governador em suas visitas políticas fora de São Paulo. Esteve, por exemplo, com Alckmin quando em um mesmo dia o governador viajou para Goiás, para encontrar-se com o governador Marconi Perillo, e Paraíba, para receber um título de cidadão honorário. no dia do aniversário do governador. Será, a princípio, o único secretário a deixar o cargo no final deste mês para atuar na campanha presidencial. A campanha de Alckmin deverá se dividir entre São Paulo e Brasília. A coordenação política e financeira da campanha ficará em Brasília e tende a ser exercida pelo presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), ou por outra pessoa que a Executiva Nacional tucana designar. A parte operacional e alguns núcleos da formulação do programa de governo, em São Paulo. A partir de 1º de abril, depois de renunciar ao cargo, Alckmin deverá usar a sede estadual do PSDB, um sobrado em uma congestionada avenida na zona Sul da cidade, como seu escritório.