Título: Tucano enfrenta 4 rebeliões e diz que, no governo de SP, "não há ladrões"
Autor: César Felício e Caio Junqueira
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2006, Política, p. A10

A nove dias da desincompatibilização do cargo, o governador Geraldo Alckmin divide sua agenda entre inaugurações e rebeliões. Ontem, o Estado registrou quatro rebeliões no sistema prisional na grande São Paulo e no interior, que somam-se aos dois motins na Fundação do Bem Estar do Menor (Febem) em menos de um mês. Em sua primeira semana de campanha, Alckmin também enfrentou dificuldades e ontem foi recebido sob vaias e aplausos na periferia da capital paulista. Ao grupo de manifestantes contrários à sua gestão, o candidato do PSDB à República foi categórico e disse que no governo de São Paulo "não há ladrões. Na maratona de entrega de obras e serviços, Alckmin inaugurou ontem a segunda unidade móvel do Poupatempo - local onde a população pode tirar documentos como RG e CPF com rapidez - em Perus, bairro periférico da capital. Apesar de sete unidades móveis estarem previstas para serem instaladas em bairros carentes desde 2004, apenas uma está em funcionamento. As demais devem ser entregues até a próxima semana. O Poupatempo é uma das vitrines do governo Alckmin e é considerada pelo tucano um dos quatro melhores serviços públicos do país - e "orgulho da população" -, atrás dos serviços do Corpo de Bombeiros, dos Correios e do Metrô. No evento, o governador foi constrangido por um grupo com cerca de dez jovens, que pedia mais investimentos em educação, cultura e geração de empregos. Segurando um cartaz com os dizeres: "Cadê a cultura e a educação?" e "Mala direta. Note nulo", o estudante Clebio Ferreira de Souza, de 21 anos, reclamava a ausência de Alckmin na região. "Ele nunca apareceu aqui, nunca fez nada por nós. Só veio para fazer propaganda eleitoral". A cada palavra do governador, grupo de estudantes, alguns com nariz pintado de vermelho, rebatiam com gritos e vaias. Revoltado com as críticas, o frentista Luiz Alvoro Pussi, de 42 anos, declarando voto no governador, contestou as críticas e iniciou um pequeno tumulto. Sereno, Alckmin observou tudo à distância, falou de suas realizações e deixou seu apelo moral - "sempre vemos corrupção e o dinheiro sendo roubado e desperdiçado por outros governos". Aos manifestantes, deu um recado e disse que os desculpava: "Aqui em São Paulo, vocês podem ficar tranqüilos, aqui não tem ladrão. No nosso partido, nós podemos olhar nos olhos de vocês, de cada um de vocês", discursou. "A gente percebe que em todo lugar estão vindo agora alguns provocadores. Isso não é movimentação espontânea, também não sei bem a origem disso. Mas estou absolutamente zen, então vão brigar sozinhos", respondeu o governador à imprensa. Questionado se fazia associação entre sua candidatura e a efervescência de rebeliões , Alckmin desconversou e disse que o governo "não vai retroceder um milímetro, nenhum milímetro". "É uma rebelião que não tem pauta de reivindicação. Nós vamos para cima. Tudo isso é uma tentativa de fuga frustrada". Em franca campanha, Alckmin mostrou que sua plataforma de governo destaca concessões e parcerias com setor privado. "O Brasil precisa investir para valer em sua infra-estrutura, recuperar a capacidade de investimento público, que hoje é muito pequena", defendeu. Ontem, participou do último investimento privado de seu governo, o lançamento da pedra fundamental da fábrica de lisina (aminoácido utilizado na ração de animais) da C.J. do Brasil.