Título: Relator pede absolvição de Mentor
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 17/03/2006, Política, p. A8

A sorte do deputado José Mentor (PT-SP) está nas mãos do PSDB e do presidente do Conselho de Ética da Câmara, Ricardo Izar (PTB-SP). Em sessão realizada ontem no colegiado, o relator do processo contra o petista, Edmar Moreira (PFL-MG), recomendou a absolvição de Mentor das acusações de envolvimento com o pagamento de mesada a parlamentares. Os deputados Júlio Delgado (PSB-MG), Moroni Torgan (PFL-CE) e Cezar Schirmer (PMDB-RS) pediram vista do processo e vão recolocá-lo em discussão na próxima quinta-feira. Moreira justificou o pedido de absolvição de Mentor pela falta de provas. O petista é acusado de receber R$ 120 mil do valerioduto - o que ele confirmou, justificando a origem do dinheiro em honorários de advogado - e de ter, a pedido do empresário Marcos Valério de Souza, beneficiado o Banco Rural nas investigações da CPI do Banestado, comissão da qual foi o relator. Na ocasião, irregularidades teriam sido apontadas em operações no exterior do Rural. Tais ilegalidades teriam sido ignoradas por Mentor na elaboração do relatório final da CPI do Banestado. Com o pedido de vista, fica a expectativa sobre como vai votar o PSDB dentro do Conselho. Segundo apurou o Valor, Moroni, Delgado, Orlando Fantazzini (PSOL-SP), Chico Alencar (PSOL-RJ) e Jairo Carneiro (PFL-BA) deverão votar pela cassação. Ficarão ao lado de Mentor os dois deputados do PP, Nelson Trad (PMDB-MT), Ann Pontes (PMDB-PA), Josias Quintal (PSB-RJ) e Ângela Guadagnin (PT-SP), além do relator. São sete votos a cinco a favor de Mentor. Resta saber qual será o posicionamento adotado pelos dois tucanos - Carlos Sampaio (SP) e Mendes Thame (SP). Se decidirem pela perda do mandato de Mentor, o placar ficará empatado em sete votos a sete e caberá ao presidente Ricardo Izar o desempate. O petebista se manifestara anteriormente que, no caso de empate, votaria com o relator. Mas não se sabe qual será a reação do presidente do Conselho agora, quando o relatório prevê a absolvição do acusado. Valério teria pedido a Mentor para excluir o Rural. Segundo Moreira, "nada se provou" e é impossível fazer tal ilação. Com relação ao dinheiro, o relator considerou pertinentes as explicações do acusado. Mentor justifica o recebimento do dinheiro em três estudos jurídicos elaborados por seu escritório de advocacia para a 2S Participações, empresa de Marcos Valério e Rogério Lanza Tolentino. Os pagamentos foram feitos em dois cheques de R$ 60 mil. Mentor apresentou ainda cópia de documentos de recolhimento de impostos e notas fiscais emitidas. Junto a toda a documentação, o petista apresentou laudos periciais que atestam a veracidade das provas. "Não cometi ato indecoroso. Não abusei das prerrogativas. Não me sinto debilitado por estar sendo investigado por esse Conselho. Estou do lado da verdade e por isso não renunciei ao mandato", afirmou Mentor, em sua defesa. "Não há qualquer prova de que o representado tenha recebido recurso oriundo do que se convencionou denominar de ´valerioduto´, escreveu Moreira, no voto. Durante a leitura do voto, Moreira demonstrava a intenção de votar pela absolvição de Mentor e por diversas vezes preocupou-se em dar satisfações aos colegas e à opinião pública. "O processo ou o julgamento político não deve servir de panacéia para o cometimento de ilegalidades e injustiças, chegando-se, muitas vezes, a absolver culpados e decretar a morte ficta de inocentes". E completou: "O conselheiro, sem se despir da condição de representante da vontade popular, não deve se acovardar perante às pressões da opinião pública".