Título: Acordo automotivo divide autopeças e montadoras
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2006, Brasil, p. A2

As discussões para o acordo automotivo do Mercosul vão começar com incompatibilidade de posições dentro do próprio setor. Enquanto a indústria de autopeças já definiu que vai defender a isenção de Imposto de Importação somente para componentes que não forem produzidos na região, as montadoras deverão insistir na permanência de um desconto para todos os itens comprados no exterior. Os representantes do setor de autopeças de todos os países do Mercosul estiveram reunidos esta semana em Alagoas e fecharam a proposta, que será apresentada aos respectivos governos nos próximos 15 dias. O documento estabelece que o Imposto de Importação para peças fabricadas fora do Mercosul deverá ser integral. Haverá uma lista dos itens que não são feitos na região e nesse caso o setor defende isenção do imposto. Paulo Butori, presidente do Mercoparts, a entidade que reúne a indústria da região, explica que caberá às montadoras e fornecedores elaborar a lista de exceções que contemplará os itens sem similar no Mercosul. A idéia é renovar a lista anualmente. Hoje, as peças fabricadas em países fora do bloco são importadas com redutor de 40%. A questão provocou polêmica no final do ano passado, quando a Receita Federal decidiu suspender o benefício e posteriormente o devolveu. Os representantes dos fabricantes de veículos demonstram interesse em fazer valer a continuidade do redutor na renovação do acordo automotivo, que entrará em vigor no dia 1º de julho. Até lá, vale um acordo-ponte, que mantém as regras da negociação anterior. A relação entre montadoras e fornecedores já está abalada por conta de recentes declarações dos presidentes da Fiat e da General Motors . Na semana passada, Cledorvino Belini, da Fiat, e Ray Young, da GM, defenderam a importação de componentes. O presidente da Fiat revelou que a montadora tem estimulado os fornecedores a substituírem produtos nacionais por importados como forma de compensar a perda de competitividade provocada pela valorização do real. Para Butori, a declaração de Belini foi "oportunista". "Hoje há oportunidade para importar; há um ano as montadoras nos pediam para reduzir as exportações para impedir o desabastecimento", diz. Segundo ele, que também é presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes (Sindipeças), os maiores fornecedores, chamados no setor de sistemistas, são os que podem comprar no exterior. Já os sub-fornecedores desse time são os que, na avaliação do executivo, vão sofrer com a importação. Ele diz que algumas montadoras começaram a pressionar os fabricantes de peças a reduzir preços com a ameaça da importação. "Eles não entenderam que a parceria com os fornecedores tem que ser na saúde e na doença", destaca Butori.