Título: Cresce disputa interna no governo pela coordenação da campanha à reeleição
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2006, Política, p. A11

O controle da campanha da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode escapar das mãos do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e migrar para um conselho formado pelas cúpulas do PT, do PSB e do PCdoB. É grande a pressão para que Palocci não dê as cartas sobre o programa de governo para um eventual segundo mandato de Lula. Ontem, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), pediu mudanças na política macroeconômica, depois de um almoço com empresários da construção civil no Secovi, em São Paulo. "Todo mundo sabe que o Brasil não tem porque manter a taxa de juros no patamar em que estamos mantendo. Não se justifica mais, a não ser pelo temor do País de se desenvolver. Não podemos transformar a estabilidade em uma bóia de urtigas", afirmou, comparando a política econômica com um instrumento que salva do afogamento, mas provoca profundo desconforto físico. Aldo afirmou que a ênfase no crescimento "é um debate que se trava dentro dos partidos", e não entre governo e oposição. "Provavelmente, a maioria do governo não tem apoiado firmemente certas teorias sobre taxas de juros e sobre câmbio", disse. Indagado sobre por que Palocci não se engaja em mudanças, Aldo respondeu: "Esta é uma boa pergunta, para ele responder na próxima entrevista coletiva que der. Acho que é o receio, o medo de crescer e o medo de desenvolver, depois de um processo inflacionário traumático". A resistência aos pressupostos da política econômica existe dentro do PT, mas concentra-se fora do partido do presidente da República. Na avaliação de aliados do governo federal, a necessidade de uma guinada seria defendida até pela ala governista do PMDB e pelos ministros da área produtiva que não são filiados a partidos políticos. Este ponto de vista seria defendido inclusive pelos setores empresariais e financeiros que estariam dispostos a não adotar uma posição hostil ao governo federal. Por este raciocínio, Palocci poderia estar perdendo credenciais como interlocutor governista até mesmo junto ao meio patronal. A avaliação não se coaduna, contudo, com o comportamento de Palocci nos últimos meses. O ministro da Fazenda esteve algumas vezes em São Paulo, participando de discretas reuniões com grandes empresários, onde expôs uma agenda de ação governamental de longo prazo. Dentro do ministério, Palocci conta com o apoio do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Para os que combatem o ministro da Fazenda dentro do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenderá a se afastar da linha defendida pelo ministro da Fazenda caso o perceba isolado politicamente. Entre os aliados do governo e petistas distantes de Palocci, a avaliação da estratégia política que a campanha pela reeleição deve seguir é oposta da preconizada pelas pessoas mais próximas ao ministro. Nesta avaliação alternativa, Lula deveria consolidar seu prestígio eleitoral na região Nordeste e entre a população mais pobre da região Sul e Sudeste, trabalhando com especial afinco para garantir o primeiro lugar no primeiro turno em Minas Gerais. O primeiro lugar em São Paulo é dado como perdido, já que o candidato do PSDB será o governador Geraldo Alckmin ou o prefeito paulistano José Serra. Também há diferença de visão sobre qual o candidato tucano ideal para o embate com o presidente. A linha predominante dentro do PT é de que Serra é um candidato mais frágil do que Alckmin, pela grande vinculação com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por não representar novidade para o eleitor e pela vulnerabilidade que teria para justificar sua renúncia à prefeitura. Para os aliados não petistas, contudo, Serra inspira mais preocupação, pelo fato de ter sido um crítico da linha econômica seguida no governo Fernando Henrique e mantida no governo Lula. Ele teria assim maior autoridade para criticar o governo do ponto de vista econômico.