Título: Mantega vê câmbio em "patamar problemático"
Autor: Raquel Landim e Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2006, Brasil, p. A3

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, disse ontem que o câmbio está num "patamar problemático", que traz "problemas para alguns setores econômicos". Ele notou que as "exportações perderam um pouco de dinamismo no último mês" e que algumas empresas "podem estar postergando" investimentos devido ao real apreciado. Mantega, porém, mostrou-se otimista quanto à trajetória do dólar, apostando que a queda dos juros e o aumento de importações podem estancar a valorização do real. Para o presidente do BNDES, a medida de isenção tributária para investidores estrangeiros em títulos públicos é bastante positiva, por abrir espaço para uma redução mais forte da taxa Selic. Mantega afirmou que a medida "pode aumentar a oferta de dólares para o país num primeiro momento, mas num segundo significa a aceleração da redução dos juros". Esse capital externo, afirmou, deve continuar a derrubar as taxas de longo prazo da economia, o que tende a pressionar o Banco Central (BC) a diminuir a Selic mais rapidamente. Segundo ele, se as taxas de títulos com prazos de 10 a 15 anos estiverem bem mais baixas, não há como o BC manter a Selic nas alturas. O risco-país em recordes históricos de baixa e a solidez das contas externas também possibilitam mais ousadia na condução da política monetária. Com juros mais baixos, a tendência é que diminua o fluxo de recursos que entra no país para aproveitar o diferencial entre as taxas internas e externas, avaliou ele. Além disso, o custo fiscal do BC de acumular reservas - também dado pela diferença entre juros aqui e lá fora - seria menor com uma Selic mais civilizada. Com isso, a autoridade monetária teria mais liberdade para continuar a comprar dólares. Mantega prevê que o Brasil pode terminar o ano com US$ 100 bilhões de reservas - hoje, estão na casa de US$ 60 bilhões. Além dos juros menores, o crescimento das importações contribui para uma trajetória mais favorável do câmbio, avaliou Mantega, que participou de um evento na Câmara de Comércio França Brasil - seção São Paulo. Ele disse estar otimista com as perspectivas de crescimento, num momento em que a inflação está sob controle e as contas externas estão sólidas. Para Mantega, a economia pode crescer 4,5% neste ano. "É um otimismo baseado nas condições concretas da economia."