Título: Exportação sobe apenas 4% em fevereiro
Autor: Raquel Landim e Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2006, Brasil, p. A3

As exportações voltaram a dar sinais de desaceleração na terceira semana de fevereiro, o que voltou a provocar manifestações de preocupação no Ministério do Desenvolvimento. As vendas externas do país somaram US$ 5,8 bilhões até a terceira semana do mês, alta de 4,1% em relação a fevereiro de 2005. As importações aumentaram 17,5% no mesmo período, para US$ 4,225 bilhões. Com esse resultado, o superávit comercial está em US$ 1,6 bilhão até a terceira semana do mês. Em fevereiro de 2005, ficou em US$ 2,776 bilhões.

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, acredita que o fraco crescimento das exportações em fevereiro servirá como um recado para o mercado financeiro de que o fluxo de entrada de dólares no país pode diminuir.

"Os números da balança de fevereiro evidenciam uma mudança no ritmo das exportações com redução do saldo da balança", disse Furlan. "Essa mudança deve mostrar aos agentes de mercado, que fazem uma aposta permanente de que o dólar vai cair, que isso está gradualmente se modificando." O ministro participou ontem do lançamento do programa Exporta Cidade, em Diadema, na região metropolitana de São Paulo. Nenhuma das três categorias de produtos teve uma boa performance em fevereiro. Até a terceira semana, as exportações de produtos básicos caíram 5,1% em relação a igual período do ano anterior. Os embarques de semimanufaturados ficaram estáveis e as exportações de manufaturados cresceram apenas 6,2%. No acumulado do ano, as exportações brasileiras atingiram US$ 15,1 bilhões até a terceira semana de fevereiro, alta de 19,5%. Pelo conceito de média diária, a alta recua para 12,7%. As importações ficaram em US$ 10,6 bilhões, aumento de 26,6%, que recua para 19,4% pela média diária. O ritmo de crescimento das exportações é bem inferior ao aumento de 22,6% dos embarques em 2005 ante 2004. Já as importações cresceram num ritmo mais fraco no ano passado, com alta de 17% em relação a 2004. Furlan ressaltou que não é possível dizer se a perda de dinamismo este mês é uma tendência. Com a entrada da safra agrícola nos próximos meses, pode haver uma reversão. Mas ele enfatizou que "concretamente, em fevereiro, as exportações estão crescendo numa velocidade baixa". Apesar do fraco desempenho deste mês, o ministro descartou rever a meta de exportações do ano, que está em US$ 132 bilhões. Para atingir esse total será necessário que as exportações brasileiras aumentem 12% este ano ante 2005. Furlan afirmou que os setores mais prejudicados pela valorização do real são os intensivos em mão-de-obra e que importam poucos insumos. É o caso de têxtil e calçados. Já alguns setores acabam se beneficiando da queda do dólar, porque importam mais barato, como as empresas de eletroeletrônicos e a Embraer. Para o ministro, "não há solução única, não há um remédio específico" que resolva a situação do câmbio no país. Furlan disse que uma série de medidas estão sendo articuladas pelo governo, que espera uma acomodação rápida da taxa de câmbio. Ele descartou, no entanto, a desoneração das importações para estimular a saída de dólares do país. "Estamos no fim das negociações da OMC e não faria sentido o Brasil desonerar unilateralmente as importações de produtos industriais sem contrapartida nas áreas que tem interesse", afirmou. Furlan voltou a defender a reforma da legislação cambial, particularmente a medida que permitiria as empresas manterem conta em dólares no exterior para compensar suas operações de exportação e importação. Segundo o ministro, o spread entre essas operações chega a representar 2% a 5% da receita. O ministro classificou como "positiva" a medida que isentou da cobrança do Imposto de Renda o capital estrangeiro investido em título público. Para os exportadores, a mudança contribui para a valorização do real.(RL)