Título: Anfavea condiciona investimento a incentivo
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 19/11/2004, Brasil, p. A-2

A indústria automobilística condiciona a realização de um novo ciclo de investimentos no Brasil à criação de uma política industrial, com incentivos capazes de elevar as vendas de carros. A direção da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) informou ontem que o setor precisa mais do que duplicar a média dos investimentos dos últimos dois anos para poder alcançar um grau de competitividade capaz de evitar o deslocamento dos recursos dessas multinacionais para as fábricas de outros países. Segundo números apresentados pelo presidente da Anfavea, Rogelio Golfarb, o ritmo dos investimentos do setor caiu drasticamente nos últimos 10 anos. Em 1994, período que antecedeu a onda de construções de novas fábricas de veículos no país, o setor aplicou US$ 2,2 bilhões. Em 2003, a soma do dinheiro gasto foi de US$ 1,2 bilhão. Segundo Golfarb, a diferença aumenta quando levado em conta o aumento do número de fabricantes e de modelos produzidos. O mercado brasileiro tinha 210 modelos de carros 10 anos atrás. O total pulou para 590 em 2003. "Isso significa que a média de investimentos por modelo passou de US$ 10 milhões para US$ 2,2 milhões", concluiu o executivo. Ele diz que o resultado não será muito melhor neste ano. Segundo seus cálculos, a média de investimento por veículo deveria aumentar para algo em torno de US$ 5 milhões a US$ 6 milhões para garantir o mínimo de desenvolvimento tecnológico. O posicionamento da Anfavea sobre o assunto veio uma semana depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter anunciado que pretende, no próximo ano, fechar acordo para atender a uma pauta de reivindicações da indústria automobilística já entregue ao governo. O receio de que o anúncio da disposição do governo em conceder incentivos à compra de carros afugente o consumidor costuma preocupar essa indústria. É por isso que os dirigentes do setor esclarecem que a lista de reivindicações encaminhada ao governo é bastante complexa e, por isso, não pode ser concluída em pouco tempo. Golfarb destacou que as medidas não devem se restringir à redução da carga tributária. "Temos de fazer algo diferente", afirmou. O elenco de medidas em estudo pelo governo passa pela redução de impostos - inclusive estaduais -, facilidades no financiamento e redução de despesas no pós-venda, como imposto de propriedade.