Título: Alckmin tem vantagem entre empresários
Autor: Cristiane Agostine, César Felício e Caio Junqueira
Fonte: Valor Econômico, 23/01/2006, Política, p. A8

Eleições Tucanos temem que mercado queira impor agenda ao PSDB e exija uma "Carta ao Povo Brasileiro" Se nas pesquisas de opinião o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, continua em desvantagem em relação ao prefeito paulistano, José Serra, na disputa pela candidatura à Presidência da República pelo PSDB, entre o empresariado a equação é invertida: o governador tem apoio sólido quando se indaga ao setor produtivo qual sua preferência dentre os dois candidatos tucanos. De nove empresários e altos executivos consultados por este jornal, de São Paulo, Bahia, Santa Catarina , Goiás e Minas Gerais, Alckmin recebeu a preferência de seis. Um optou por Serra. Outros dois afirmaram não ter qualquer preferência. Quase todos , contudo, ressalvam: a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia fomentar um ambiente de instabilidade política com reflexos na economia e seria o quadro menos desejável. Entre Lula e Serra, a maior parte dos consultados fica com o tucano. Foram dois os motivos básicos para a escolha: o primeiro é o temor de mudanças. Alckmin atrairia o setor produtivo por ser o tucano mais favorável à manutenção da atual política econômica, elogiada pelas lideranças empresariais. Já Serra, de acordo com a maioria dos consultados, teria uma disposição maior para propor mudanças sem um processo amplo de consulta ao setor produtivo. O segundo motivo, que predomina em São Paulo, é a experiência de cada um. Como vice-governador, Alckmin cultivou boas relações com o empresariado, que impressionou-se com seu desempenho no comando do programa estadual de privatizações. O prefeito, por sua vez, mesmo tendo sido ministro do Planejamento e ministro da Saúde, é apontado como uma incógnita em relação ao papel do Estado na economia. "Alckmin é um neoliberal, está focado na minimização do Estado. Serra ainda entende que o Estado é a mola indutora do crescimento", chega a opinar um alto dirigente de empresa multinacional concessionária de serviços públicos. Entre os tucanos que estão envolvidos na elaboração do programa de governo, julgamentos como esses preocupam. "Há uma tentativa de certos setores em imporem uma agenda econômica ao candidato. Só falta exigirem que o PSDB apresente uma ´Carta ao Povo Brasileiro´", disse um deles, próximo a Serra, referindo-se ao documento divulgado pelo então candidato Lula em junho de 2002 , que foi um compromisso com o mercado de moderação na área econômica. Segundo um dirigente de uma entidade industrial, a afinidade do patronato com o governador começou a ser construída na gerência da desestatização, mas teve seu coroamento depois de Alckmin assumir como governante de fato, em 2001. O governador encerra seu período estruturando a primeira parceria público-privada do país, para a construção da linha 4 do metrô, um investimento de US$ 1,2 bilhão, ainda que o ímpeto privatizante tenha arrefecido: o governo estadual abriu o capital do banco Nossa Caixa, mas ainda não conseguiu vender a distribuidora de energia elétrica Cteep e manteve a empresa de saneamento Sabesp e a seguradora Cosesp sob controle estatal. Este contato freqüente com o meio empresarial faz Alckmin ser chamado comumente de "bom gestor". A experiência administrativa do governador paulista, há seis anos à frente do Palácio dos Bandeirantes é defendida como diferencial. "Alckmin tem a gestão, o controle dos gastos, a modernização da estrutura administrativa. Serra é bem qualificado, mas é a primeira vez que governa", explica Jorge Lins Freire, empresário do setor de construção e presidente da Federação das Indústrias da Bahia Uma das primeiras ações de Serra quando assumiu a prefeitura paulista irritou credores do governo municipal: ele avisou que não pagaria o total das dívidas com grandes empresários, deixando o montante devido a mais de 900 grandes credores para ser parcelado em sete anos. Já o aumento dos investimentos do governo estadual - e de obras e contratos com empreiteiras - atraiu o setor produtivo paulista. Em 2006, Alckmin planeja um investimento recorde, com R$ 9 bilhões para obras. Em 2004, o valor foi de R$ 5,7 bilhões. Os temores em relação a Serra são difusos. Este dirigente de entidade industrial receia uma redução da taxa Selic ou do depósito compulsório para aquecer a economia, sem uma medida imediata de corte nos gastos correntes. Ainda que se aposte na manutenção dos três paradigmas da política econômica - o regime de metas de inflação, superávit primário e o câmbio flutuante -, seja qual for o candidato tucano, Alckmin é visto como um político disposto a fazer uma atenuação da ortodoxia ao passo que Serra poderia propor uma reformulação de conceitos. O executivo de multinacional afirma que o prefeito deu provas de frieza com o setor produtivo ao rolar em sete anos a dívida da prefeitura com fornecedores e brigar publicamente com a Eletropaulo, a concessionária de luz elétrica na cidade de São Paulo. Serra seria mais "radical" e "mais à esquerda do que Lula" na condução do programa econômico, na visão do presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, o mineiro Paulo Safady Simão. Para ele, Serra é visto como centralizador; e Alckmin, como conciliador e flexível. Isso facilitaria as negociações com o governador paulista. "Há uma diferença grande entre eles: um senta para conversar para cumprir o ritual, porque já tem a decisão tomada; o outro, para ouvir." O empresariado de grande porte sinaliza querer um candidato que apresente as mudanças da forma mais suave e restrita possível, como afirma o presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina e empresário do setor têxtil, Sérgio Rodrigues Alves. "O Brasil cresce mesmo fazendo pouco. Só precisamos de alguém que não atrapalhe". O único consultado que representa um setor médio da classe patronal, o de lojistas de shopping centers, foi o único que demonstrou preferência pelo prefeito, exatamente porque o vê como adepto de mudanças na área econômica. "A experiência dele como ministro o classifica como apto ao embate com Lula. Serra é um pouco mais radical que Alckmin, poderia mudar mais a economia. Voto nele", afirmou Mihran Mehrzian, também vice-presidente da Associação Comercial de Goiás. A preferência por Serra ou Alckmin é, porém, posta de lado por um setor específico do empresariado: o agrícola. Antes de tomar um posicionamento por este ou aquele pré-candidato, o setor quer que seja assumido o compromisso de defesa da agricultura nacional, segundo afirmou o presidente da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo, Fábio Meirelles, para quem o governo Lula não atendeu bem às reivindicações da classe. "O melhor candidato tucano é aquele que tiver mais condições de derrotar o presidente Lula." , disse, sem tomar partido. A irritação com o governo, segundo Meirelles, é com a falta de prioridade ao setor nos últimos anos. "Ações equivocadas foram feitas que resultaram, por exemplo, na queda do preço da carne e no aumento do preço do álcool combustível", disse.