Título: Agora, Parmalat pode se manter no Brasil
Autor: Carolina Mandl e Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 23/12/2005, Empresas &, p. B2

Alimentos Proposta prevê que matriz do grupo italiano exerça opção de compra da companhia entre 2009 e 2012

Depois de meses pavimentando o terreno para se desfazer do investimento que tem no Brasil, a Parmalat levou ontem a seus credores o desenho de um plano de recuperação que lhe dá o direito de se manter no controle da empresa. A proposta não havia sido votada até o fechamento desta edição. Logo pela manhã, a Parmalat Alimentos apresentou à assembléia de credores uma minuta que previa a possibilidade de vender o controle da empresa agora, mas lhe garantia o direito de recomprá-la daqui a três anos. O controle da Parmalat poderia ser transferido, neste momento, a um investidor que subscrevesse um aumento de capital de R$ 20 milhões. Entre 2009 e 2012, a matriz do grupo italiano poderia exercer uma opção de compra da empresa pelo valor mínimo de 42,3 milhões de euros. A proposta foi rejeitada pelos maiores credores financeiros da Parmalat - apelidados pela empresa e por eles próprios de "G-7" - logo pela manhã, mal havia começado a assembléia. A reunião foi suspensa para que a Íntegra, consultoria responsável pela recuperação da Parmalat, pudesse rediscutir o assunto com a matriz e com os credores. Horas depois, no meio da tarde, a Parmalat voltou com uma nova solução, depois de muito negociar o assunto com os bancos: a matriz teria o direito de subscrever o aumento de capital que é um dos pilares do plano de recuperação. Com isso, manteria-se no controle. O presidente do conselho de administração da Parmalat Alimentos, Nelson Bastos, disse que a matriz italiana ainda não resolveu se vai participar do aumento de capital e se pretende manter seus negócios no Brasil. "O que ela quer é ter esse direito", ressaltou. Segundo fontes ligadas às negociações, a opção de compra à Parmalat havia sido acertada entre a companhia e o empresário João Alves de Queiroz Filho, que negocia a aquisição do controle da companhia de alimentos. Essa cláusula havia sido discutida quando Queiroz, dono da Assolan, foi à Itália para falar com o interventor da Parmalat, Enrico Bondi. Porém, só foi apresentada a alguns credores anteontem à tarde. As conversas com o empresário prosseguem, mas diminuíram de intensidade nos últimos dias porque os bancos querem mais detalhes sobre o plano de negócios para a Parmalat. Bastos não quis comentar o assunto. Até ontem à noite, o plano não havia sido votado e os bancos discutiam o valor dos créditos habilitados no processo de recuperação judicial da companhia. Depois disso, eles ainda teriam pela frente a discussão da proposta de recuperação da Parmalat Participações, holding do grupo no país. O interesse da Parmalat em manter uma porta aberta para ficar com o controle da empresa operacional pegou de surpresa boa parte dos credores. Somente os bancos do "G-7" haviam ficado sabendo dessa cláusula na véspera - ainda assim, ao término de uma teleconferência em que todas as arestas sobre o plano de recuperação pareciam ter sido aparadas. "Como é que vamos aprovar um plano que dá a uma companhia que cometeu uma série de fraudes a possibilidade de voltar ao controle?", questionou o advogado que representa um banco. "Agora que a Parmalat está em dificuldades, a matriz não quer. Quando estiver tudo bem, ela tem o direito de voltar. Assim não pode ser", disse o representante de outro credor. Por conta de queixas desse tipo a proposta foi alterada, dando a Parmalat a chance de participar do aumento de capital que deverá ocorrer nos próximos meses. No início da tarde, quando a questão aparentemente estava resolvida e a assembléia poderia ser retomada, nova surpresa. O Deutsche Bank, depositário de títulos emitidos anos atrás pela Parmalat, obteve decisão judicial garantindo seu direito de votar na assembléia da empresa operacional. Dessa forma, se tornaria o maior credor, com algo em torno de R$ 500 milhões. A Parmalat contestava na Justiça o direito de o Deutsche votar porque ele não havia realizado uma assembléia com os detentores dos bônus - e a própria multinacional italiana alega ser um deles. Segundo Bastos, boa parte dos títulos dos quais o Deutsche é depositário está na tesouraria da Wishaw, empresa da Parmalat com sede no Uruguai e destino de recursos supostamente desviados pelo grupo italiano. "A Parmalat alega isso, mas nunca conseguiu provar que os bônus estão com a Wishaw", disse Luiz Fernando de Paiva, advogado que representa o Deutsche. Para resolver o imbróglio, o Deutsche decidiu que não votaria na assembléia. Dessa forma, não influenciaria o resultado. Com a aprovação do plano, a Parmalat poderá vender a Batávia ou a Etti, sua unidade de atomatados. O objetivo é levantar recursos para pagar os credores operacionais. "Já temos propostas para esses ativos", afirmou Bastos, sem fornecer detalhes. A Perdigão estaria interessada na Batária e Queiroz Filho estaria avaliando a possibilidade de comprar apenas a Etti.