Título: Estatais recorrem ao BNDES para construir usinas novas
Autor: Leila Coimbra
Fonte: Valor Econômico, 19/12/2005, Empresas &, p. B9

Furnas Centrais Elétricas, que ganhou a concessão para construir a maior usina nova entre as sete hidrelétricas licitadas na sexta-feira no leilão de energia nova, a hidrelétrica Simplício (323,8 MW) e que tem projeto acoplado a uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH), pretende obter financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O financiamento será pedido para as três usinas que a estatal adquiriu, sozinha ou em consórcio. Além de Simplício, Furnas obteve a concessão da hidrelétrica Paulistas (52,5 MW) e tem 15% da hidrelétrica Baguari (52,5 MW), em associação com Cemig Geração (34%) e Neoenergia (51%). Todos são empreendimentos novos. O presidente de Furnas, José Pedro Rodrigues, explicou que pretende financiar 100% do custo dessas usinas usando o programa do BNDES. Simplício e Paulistas serão construídas por R$ 1,582 bilhão. Segundo estimativa da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Baguari está orçada em R$ 487,5 milhões, o que significa que o investimento de Furnas para garantir sua participação é de R$ 73 milhões. Com esse montante, sobe para R$ 1,655 bilhão o programa de investimentos da empresa somente nessas três usinas. "Todos esses projetos tem retorno econômico-financeiro e taxa de retorno de 10%. Aliás, todo o império hidrelétrico construído no Brasil pelas estatais foi feito com retorno de 10% ao ano do ativo imobilizado", disse o presidente de Furnas, dando uma cutucada nos investidores privados que ficaram de fora afirmando que o preço máximo de R$ 116 por MWh a ser gerado pelas novas hidrelétricas não trazia o retorno esperado, de pelo menos 15% ao ano. Rodrigues explicou que as negociações para obtenção do empréstimo do BNDES para as subsidiárias da Eletrobrás estão sendo tocadas diretamente entre o presidente da holding, Aloísio Vasconcellos, e a direção do banco estatal e por isso não tem detalhes. Ele não soube dizer também como será contornado o limite do banco para financiamento a estatais. O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, já tinha informado ao Valor que o banco poderia financiar o grupo Eletrobrás por meio das Sociedades de Propósito Específico (SPEs) que seriam criadas depois do leilão. Além de Furnas, a Eletrosul vai construir a usina Passo São João (77 MW) e a CGTEE uma térmica a carvão, a Candiota III. Furnas já tem pronto o projeto de Simplício, que custará R$ 1,201 bilhão. Segundo Rodrigues, a estatal já escolheu os fornecedores e o construtor por meio de cotações de preços, onde venceram a Engevix (responsável pelo projeto), a argentina Impsa (fornecedora de turbinas) e Odebrecht. Trata-se de um projeto complicado na divisa de Minas com o Rio de Janeiro e que chegou a receber o apelido de "suplício" pelo mercado. A usina exigirá a construção de sete túneis e sua energia será vendida por R$ 115,88 o MWh com início em 2010. Paulistas está orçada em R$ 381 milhões, com projeto da PCE, geradores da Vatec e construção a cargo da Camargo Corrêa. Apesar de ter uma respeitável carteira de investimentos em geração, como a hidrelétrica Peixe Angical que está sendo feita junto com a portuguesa Energias do Brasil, e linhas de transmissão e subestações, o apetite de Furnas no leilão não foi saciado. A companhia, que vem cumprindo um programa de investimentos de R$ 1 bilhão por ano, vai investir R$ 1,2 bilhão do seu caixa em 2006, sem contar as usinas adquiridas semana passada. Furnas ainda tinha interesse nas hidrelétricas Mauá, Dardanelos, Barra do Pomba e Cambuci que ficaram fora do leilão devido a problemas de licenciamento ambiental. O leilão, que gerou negócios de R$ 68,4 bilhões, foi considerado um sucesso pelo governo e até por alguns críticos. Mas a Suez Energy lamentou, em nota, que os preços "não foram suficientes para viabilizar as hidrelétricas Estreito e São Salvador". Mesmo assim, o grupo terá receita de R$ 6 bilhões ao longo dos 30 anos de contrato pela venda de 200 MW de energia das usinas Itá e Machadinho. Pedro Batista, do Banco Pactual, ressaltou entre os pontos positivos o fato de terem entrado usinas novas que vão agregar cerca de 1,4 mil MW médios ao sistema elétrico nacional, dos quais 60% privados. Batista destacou que a energia hidrelétrica mais cara foi vendida por R$ 139 o MWh, o que define um patamar de preços para as novas usinas, o chamado custo marginal da expansão. Esse valor é superior aos R$ 116 por MWh fixado pelo governo como preço máximo para a compra de energia das sete hidrelétricas leiloadas. "O preço final foi bom, as empresas privadas foram as maiores vendedoras e o governo conseguiu garantir a expansão da geração de energia." Presidente da Empresa de Pesquisa Energética e organização da licitação, Maurício Tolmasquim, disse que o país tem 100% da sua necessidade de energia contratada com cinco anos de antecedência. Foram comercializados 3.286 MW médios de energia gerada por 51 usinas, que firmaram contratos de 15 anos (térmicas) ou 30 anos (hidráulicas) com início em 2008, 2009 e 2010 para atender à demanda de 32 distribuidoras. Apesar de ter vendido a concessão das sete hidrelétricas (também adquiriram licenças as privadas Alusa e Orteng), dois terços da energia ofertada tem origem térmica, sendo que duas novas a carvão serão construídas no Sul (Jacuí e Candiota III). A Petrobras vendeu energia energia de cinco térmicas a gás. O governo não conseguiu comprar 1,2% da energia calculada para atender todo o mercado em 2008 e 4,5% do mercado em 2009. Rondeau calcula que esse percentual equivale a 1.000 MW médios mas disse que essa diferença pode ser atendida por mecanismo de troca entre as distribuidoras ou através de leilões de ajuste. O ministro informou que as usinas que não entraram nessa licitação por problemas ambientais serão leiloadas no primeiro semestre de 2006.