Título: Analistas ainda têm esperança em corte de 0,75 ponto
Autor: Angelo Pavini e Daniele Camba
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2005, EU &, p. D1

Política Monetária

Ofuscada pela turbulência política, a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) pode surpreender hoje com uma redução maior dos juros. A aposta unânime dos economistas é de uma queda de 0,5 ponto percentual na taxa básica Selic, para 18,5% ao ano. Mas alguns gestores de recursos ainda acreditam que o Copom baixe a taxa em 0,75 ponto. Caso a queda maior se confirme, ela mexerá com bolsa e aplicações prefixadas. Um dos que remam contra a maré é Mauro Rached Rached, chefe de serviço de aconselhamento dos clientes private do banco BNP Paribas. Apesar de o BNP trabalhar com uma queda de 0,5 ponto, ele acha que há condições para um corte de 0,75 ponto. "Existem boas chances de o Banco Central surpreender, mas estou como andorinha solitária nessa projeção", diz. Caso esse cenário se confirme, o mercado veria isso como uma mudança da estratégia de redução dos juros e as ações teriam forte alta. Quem estivesse em fundos com papéis prefixados, como os fundos de renda fixa, teria ganhos, assim como muitos multimercados também ganhariam pois diversos gestores especulam com uma queda maior das taxas. Se o corte for de 0,5 ponto, Rached acha que haverá pouco impacto nos demais mercados e a expectativa de corte maior ficará para dezembro. Levando em conta o histórico conservador do BC, o mais provável é o corte de 0,5 ponto, diz Roseli Machado, diretora de gestão da Fator Administração de Recursos. "Se os dados de inflação continuarem sob controle e a economia dando sinais de arrefecimento, o Copom deve acelerar as quedas a partir de dezembro", afirma. Com isso, a taxa chegaria a 15,5% no final do primeiro trimestre. Com esse cenário, ela recomenda no curto prazo fundos DI, que continuam atrativos levando-se em conta as taxas atuais. Já no começo do ano que vem, o investidor deverá começar a pensar em diversificar com fundos de maior risco, especialmente multimercados. "Neste ano houve migração desses fundos para carteiras DI por conta do juro alto e, no ano que vem, o movimento deve ser o contrário, para fundos mais agressivos", diz. Nos fundos de ações, o ganho estaria mais em carteiras de segunda linha, com boa seleção de papéis. Ela lembra que os mercados devem continuar bastante voláteis neste ano, com a turbulência política, e no ano que vem com as eleições. "Será normal dias como o de ontem, quando a bolsa passou de queda de 2% para alta", diz. Para o diretor da Modal Asset Management, Alexandre Póvoa, o Copom deve ser conservador nesta reunião, reduzindo os juros em 0,5 ponto, para esperar novos números da produção industrial, que caiu em setembro, enquanto a inflação ficou acima do esperado. "Os números foram em direções opostas e o BC deve esperar novos indicadores para se posicionar melhor."