Título: Ministério Público investiga Rural por fraude e lavagem de dinheiro
Autor: Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2005, Finanças, p. C2

O mineiro Banco Rural enfrenta sua pior crise de imagem desde a fundação, em 1964. Não foi a primeira vez que o banco mineiro se viu envolvido com denúncias de corrupção no governo federal, mas foi a que mais preocupou a direção da instituição financeira. O banco mineiro ganhou notoriedade na década de 90, quando se investigava corrupção no governo Collor, por causa das contas fantasmas movimentadas por Paulo César Farias, o tesoureiro da campanha presidencial de Fernando Collor de Melo. No início desta década, a instituição financeira voltou à mídia, envolvido nas investigações sobre evasão de divisas do esquema Banestado. Desta vez, o nome do Rural apareceu nos depoimentos do deputado Roberto Jefferson e da secretária Fernanda Karina Somaggio, apontado como principal caixa do esquema de mensalão. Contra o banco pesa a suspeita de ter sido conivente com movimentação irregular nas contas do empresário Marcos Valério de Souza e de suas empresas, além de ter concedido empréstimos milionários, em favor do Partido dos Trabalhadores, em troca de influência junto ao governo federal. Além de voltar à mídia como caixa do mensalão no Congresso Nacional, o banco também está com problemas na Justiça. O Ministério Público Federal denunciou cinco dos principais executivos do banco por gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. Entre os réus está o atual vice-presidente de operações, José Roberto Salgado. De acordo como o MPF, o banco remeteu para fora do país, ilegalmente, pelo menos US$ 192 milhões entre 1995 e 2000. Os procuradores do Ministério Público têm informações que apontam para a Trade Link Bank, uma offshore no paraíso fiscal das Ilhas Cayman, como o braço do Rural no exterior para lavagem de dinheiro. A direção do banco reconhece que o fundador do banco, Sabino Rabello, morto no início deste ano, foi presidente honorário da offshore. Mas argumenta que não há qualquer relação societária entre as duas instituições. Apesar de irregularidades apontadas pelo Banco Central e pelo Ministério Público, o Rural conseguiu escapar das punições previstas em lei. Três executivos do banco foram condenados a inabilitação para direção de instituição bancária, acusados de alterar o volume de recolhimento do depósito compulsório num processo investigatório do BC que teve início em 2000. O banco, no entanto, conseguiu reverter a punição no Conselho de Recurso do Sistema Financeiro Nacional, em 2003, substituindo a inabilitação por multa pecuniária. Um dos membros do conselho, o procurador Glênio Guedes, é suspeito de ter recebido dinheiro das empresas de Marcos Valério de Souza, a pedido do Rural. Com a morte de Júnia Rabello, filha do fundador que presidiu o banco entre 1996 e 1999, assumiu a presidência executiva do Rural sua irmã, Kátia Rabello. Bailarina de formação, a executiva reconheceu, no único informe publicado pelo banco sobre seu envolvimento na crise política, em julho, que demorou a assumir de fato a gestão do banco. Mas informou que no último ano vem se empenhando para colocar em prática uma reestruturação interna, com mudanças nas práticas administrativas.