Título: Nova norma de rotulagem pode dificultar exportação
Autor: Silvia Czapski
Fonte: Valor Econômico, 24/08/2005, Valor Especial / ECOEFICIÊNCIA, p. F5

Competitividade ISO 14.025 trará avaliação do ciclo de vida do produto

Os empresários brasileiros deveriam estar mais preocupados com a entrada em vigor, em 2006, da ISO 14.025, norma de rotulagem ambiental que abrangerá a avaliação do ciclo de vida do produto (ACV). É que, apesar de voluntária, a nova regra tem o suporte da International Standard Organization (ISO), entidade internacionalmente reconhecida, avisa Haroldo Mattos Lemos, superintendente do Comitê Brasileiro de Gestão Ambiental da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT/CB 38). Por isso, diz ele, assim que for publicada, qualquer edital internacional poderá incluir a norma entre seus pré-requisitos, sem que isso seja taxado como barreira comercial. "A exigência deste selo verde tipo III terá o potencial de dificultar a venda de produtos brasileiros no exterior, pois estamos atrasados nas pesquisas em ACV", sustenta Lemos, para quem é urgente investir na formação de pessoal e na constituição de bancos de dados brasileiros sobre o ciclo de vida de materiais básicos e processos. Países desenvolvidos e alguns em desenvolvimento, como Malásia e Cingapura, garante o superintendente, já têm seus bancos de dados, que tornam as análises mais rápidas e baratas, favorecendo a competitividade. Desenvolvida há poucos anos como ferramenta que ajuda a planejar produtos e serviços mais ecoeficientes, a ACV apura impactos ambientais de todos componentes do processo produtivo, desde a extração de matérias-primas até o descarte, explica Gil Anderi da Silva, fundador da Associação Brasileira do Ciclo de Vida. "A mineração tem efeito diferente na Amazônia de na Europa. Por isso, dados de outros países são insuficientes", exemplifica. Anderi revela que há um interesse internacional na formação de bases de dados brasileiras. "Somos fornecedores de companhias de fora, que precisam das informações para seus estudos de ACV, e para selecionar os componentes mais ecoeficientes". Não é à toa, diz o especialista, que o governo da Suíça, através do Instituto Ekos Brasil, disponibilizou a base de dados Ecoinvent. "Já há pelo menos cinco softwares nesta área. O suíço tem a vantagem da compatibilidade com os demais", defende Anderi. Segundo Fernanda Magalhães, coordenadora de capacitação tecnológica do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), o governo brasileiro está estudando o sistema a ser adotado. Através do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), já teve início o treinamento dos primeiros técnicos. Anderi ressalta que bancos de dados também contribuirão para o avanço do ecodesign no país. Método que concebe produtos mais adequados do ponto de vista econômico, social e ambiental, o ecodesign tem na ACV um instrumento para conhecer os impactos do produto "do berço ao túmulo". As conclusões, afirma Anderi, nem sempre são óbvias. Seria fácil imaginar o vidro como embalagem ideal, por ser reutilizável e totalmente reciclável. Mas, outros fatores podem pesar na comparação com algum material aparentemente menos ecológico. Por exemplo, a leveza facilita o transporte (menos combustível fóssil). O especialista alerta: mesmo que seja um avanço, a própria Análise de Ciclo de Vida tem limitações, por exemplo, com relação a dados não quantificáveis. "É fácil contabilizar os rejeitos decorrentes de uma atividade econômica, bem como calcular o espaço necessário para sua disposição. Mas como traduzir em números comparáveis as perdas da biodiversidade provocadas por um empreendimento na Amazônia? Se for preciso escolher a região onde implantar uma obra, o que é mais importante: perder a arara-azul ou o mico-leão dourado?". Fatores subjetivos, raciocina Anderi, influenciarão as respostas. Ele mesmo sentiu o drama num estudo sobre a barragem de Itaipu. A saída, diz ele, é relacionar os impactos quantificáveis numa seção obrigatória. E, em anexo, detalhar os impactos qualitativos, como a mudança da biodiversidade. O porém disso é que certos estudos, como a análise de ecoeficiência, só dá para trabalhar com dados quantitativos.