Título: O mercado quer saber
Autor: Felipe Frisch
Fonte: Valor Econômico, 24/08/2005, EU &, p. D1

Governança já é item de máxima importância para mercado, segundo pesquisa da FGV, e relação com meio ambiente é muito relevante para mais de 49% dos investidores

Quais são os itens mais importantes quando o mercado - investidores, gestores, empresas, analistas e demais interessados - olha uma empresa? Os mais céticos podem se se espantar ao saber que a tão falada, e não tão igualmente praticada, governança corporativa é o item não financeiro mais importante olhado pelos investidores. De acordo com o Estudo de Percepção do Investidor, obtido com exclusividade pelo Valor, a transparência e o respeito aos minoritários têm máxima importância na hora de escolher uma ação para 60,23% dos entrevistados. A pesquisa é fruto da "Sondagem Anual de Relações com Investidores no Brasil", feita pela primeira vez no país pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O estudo serviu de base para a premiação IR Magazine Brazil Awards, entregue em junho pela Revista RI, em conjunto com o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI). Para surpresa de quem olhar os números do estudo, o êxito na execução da estratégia da companhia vem só em segundo lugar, com avaliação de maior relevância por 58,62% dos entrevistados. A área de relações com investidores ficou em quinto lugar na importância dada pelos profissionais de investimento e pelos investidores entrevistados, perdendo de longe para as políticas de "disclosure" (transparência de informações ao mercado). A participação no mercado - o utilizado jargão "market share" - foi considerada de extrema relevância por apenas 11,36% dos que responderam à pesquisa, ganhando da preocupação com o meio ambiente e com a divulgação das atividades de responsabilidade social da companhia. Apesar disso, a relação com o meio ambiente já ocupa um significativo espaço nas análises: 49,42% dos participantes do mercado consideram entre máxima e muita importância estes indicadores. Enquanto isso, só 14,95% ainda consideram de pouca ou nenhuma importância (9,2% e 5,75%, respectivamente) as questões ecológicas na hora de escolher uma empresa da qual comprar ações. Já as informações sobre as atividades de responsabilidade social da companhia ainda são o item mais ignorado pelo mercado, precisamente por 6,98% dos entrevistados. Isso significa que, no total, 29,07% dos agentes ainda dão entre nenhuma e pouca relevância para estes projetos. Acompanhando estes números, a responsabilidade social é considerada de muita ou máxima importância por apenas 41,86% do mercado, a menor soma destes dois níveis de relevância. Outro dado que chama a atenção é a preocupação, até mesmo por parte dos analistas, com o "trato pessoal" nas áreas de RI das empresas, diz Aloisio Campelo, coordenador do núcleo de pesquisas e análises econômicas do IBRE. "Isso é uma coisa que não vemos tanto em relatórios estrangeiros, que falam muito da competência do CEO, e do quanto estes entendem de economia e do negócio", diz. "Aqui, os especialistas dão importância para a equipe de RI ser solícita e simpática, e a área acaba tendo também uma função de relações públicas da companhia", explica. O professor cita o RI que, se não pode atender em determinada hora, dá retorno no fim do dia como um exemplo a ser seguido. Pelos números da pesquisa, 87,5% dos entrevistados consideram muito importante um contato direto com o executivo da área de RI. Do total entrevistado, 46,59% consideram este item de máxima relevância, acima até mesmo das reuniões com analistas, julgada essencial por 44,83%, e dos relatórios anuais, considerado extremamente importante por 29,79% dos entrevistados. É também mais do que os que consideram de importância máxima o site das empresas e as conferências telefônicas, fundamentais para apenas 29,55% do público. As análises de corretoras são extremamente importantes para apenas 15,91% dos entrevistados, e muito relevantes para 40,91%. A forma preferida para receber estes dados e notícias das companhias é o e-mail, escolhido por 43,68% dos entrevistados. Em seguida, vêm os comunicados à imprensa ("press releases") (33,33%) e o próprio site de RI das companhias, com 18,39% das escolhas. Formas mais pomposas, como CD-ROMs e DVDs foram escolhidas por apenas 2,3% deles. O saldo do estudo é que as áreas de RI no Brasil vêm melhorando. Pelo menos, essa é a opinião de 87,21% dos entrevistados, para quem a qualidade e a pontualidade das informações enviadas pelos departamentos de RI têm evoluído. "Se o investidor não vê transparência e uma explicação muito boa dos números, na dúvida entre duas empresas corre para as ações da outra", avalia Aloisio Campelo.